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11 Dezembro 2024 | Yuri Codogno

"As Polacas" apresenta história até então pouco conhecida: "Enquanto jornais dão contorno, o cinema dá o recheio"

Com distribuição da Imagem Filmes, longa entra em cartaz amanhã (12) em cinemas de todo o Brasil

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(Foto: Divulgação)

Entra em cartaz amanhã (12) o drama As Polacas (Imagem Filmes), novo filme do cineasta João Jardim, uma adaptação que retrata as dificuldades enfrentadas por mulheres da Polônia ao imigrar para o Brasil no início do século passado. Para detalhar um pouco mais sobre o lançamento, o Portal Exibidor conversou com os atores Valentina Herszage, Amaurih Oliveira, Caco Ciocler e Dora Freind, além do próprio diretor e da produtora Iafa Britz.

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A trama acontece em 1917, quando a polonesa Rebeca (Valentina Herszage) imigra para o Brasil fugindo da perseguição aos judeus e dos horrores da guerra e da fome na Europa. Ao chegar, porém, o cenário de incertezas ao descobrir o falecimento de seu marido a coloca refém de uma grande rede de prostituição e tráfico de mulheres. Vitimada ao lado de Deborah (Dora Freind) e outras polonesas, o local é chefiado por Tzvi (Caco Ciocler), que trabalha com a ajuda de Isaac (Amaurih Oliveira).

Por retratar uma história real, mas não ser inspirado em uma obra específica, a adaptação da realidade para as telonas passou por um processo de descoberta, como contou João Jardim: “Quando cheguei, já tinha um roteiro meio encaminhado. Então esse processo de adaptar é muito de idas e vindas. E, no caso, esse processo começou antes de 2010 e entrei em 2015, então fomos melhorando para ficar bom o suficiente para ser feito. E esse processo de melhorar não é só melhorar a dramaturgia, é encontrar qual história a gente quer contar, de achar algo, se queremos contar a história da Rebeca, da Deborah. Então não é só uma adaptação como quando tem um livro pronto; é uma procura de achar que história você quer contar e sobre quem você quer falar”.

Aliás, tal processo de trazer a realidade para as telas também é um desafio que o elenco enfrentou. Para isso, a direção teve o cuidado de não “chapar” os personagens - deixando-os complexos -, ressaltando as dificuldades e o sofrimento que as personagens viviam naquele lugar, mas dando camadas para cada um. Até mesmo o vilão possui complexidade, não sendo apenas o mal pelo mal, mas sendo dono de uma crença que o faz acreditar estar fazendo o bem. 

Um grande desafio é sempre o de não chapar essa figura no lugar estereotipado. O personagem [do Caco] não olhava para mim no olho, para o Isaac, então tem um lugar de desequilíbrio nesse encontro desses dois caras. É uma história pesada que a gente está tratando de temas duríssimos de serem tratados, mas gosto do lugar onde as pessoas são tocadas por essa história. [...] Do que é sensível mesmo e não do que só emociona no lugar de ‘vamos chorar com essa história’, mas vamos se emocionar com a dureza dessas histórias reais”, disse Amaurih.

Inclusive, o ator lembrou a exibição realizada em uma comunidade judaica e como, ao final, as pessoas falaram com o elenco de como foram tocadas por aquela história. Claro que, neste caso, há uma identificação de religiosidade e de ancestralidade também, mas demonstra como trazer essa história real para as telonas, dando voz e cara às pessoas que viveram naquela época, é um processo de adaptação que auxilia nesse lugar onde o público se encontra nos cinemas. 

Um bom exemplo disso é a própria Valentina, que aprendeu a falar um dos idiomas do povo judeu para dar camada à protagonista: “A gente acompanha a jornada dessa personagem, uma jornada muito sofrida, e fomos procurando tentando achar onde essa personagem ri, qual é o respiro dela e sempre voltava para essa questão da religiosidade, da reza, do canto principalmente, ela canta em iídiche, fiz aulas de iídiche para poder cantar. As cenas de drama a gente cai de cabeça, estudamos, mas fazer com que a gente traga essa humanidade, que a pessoa não só sofre o tempo inteiro, ela também tem momentos de respiro e o filho também ajuda muito a encontrar esse lugar”. 

Em outro caminho do desenvolvimento está a personagem de Dora Freind, que começa sua história no filme em um lugar de extremo sofrimento, mas que, aos poucos, vai quebrando algumas barreiras para que o público conseguisse ver quem era de verdade a sua personagem e como chegou ali, suas fragilidades, sua personalidade. 

“Quando li o roteiro, uma coisa que fiquei super assustada é que achei a trajetória da personagem muito difícil, porque ela já começa tendo perdido a mãe naquele dia, então começa muito em um tom lá em cima. Geralmente, quando vai no roteiro mais óbvio, vai se construindo para que algum momento chegue lá. E sinto que com a Deborah fiz o caminho contrário, fui desconstruindo. Foi a primeira vez que fiz isso na contramão, mas foi uma oportunidade incrível”, contou Dora. 

Apesar do filme se passar há mais de um século, é difícil não traçar um paralelo com a atualidade. Inegavelmente a sociedade evoluiu muito no direito das mulheres e outras pautas semelhantes, mas também é inegável que ainda estamos longe de vivermos num lugar justo e igualitário. Entre os mais de cem anos que separam a trama de As Polacas do momento em que escrevo esse texto, os preconceitos foram caindo, mas todos os dias observamos “casos isolados” de machismo e feminicídio, por exemplo. 

O cinema e outras obras (audiovisuais ou não) não apenas podem, como devem ser vozes que lutam por apresentar ao público fatos ou discussões de temas complexos. E em As Polacas não é diferente, com o filme servindo como um espaço de aula de história (que nos ajuda a não repetir os erros do passado), como também uma reflexão do que é o certo para o presente e o futuro. 

Hoje em dia está muito claro que existe uma verdade para cada pessoa, mas o cinema pode ajudar justamente fazendo com que as pessoas tenham uma consciência do que é a vida, dos processos, do que acontece, o que as pessoas passam, para que possam construir uma verdade que seja mais próximo da realidade do mundo. Para que aquilo que elas consideram verdade prejudique menos os outros, até proteja algumas pessoas. Então a arte em geral e o cinema têm sempre essa ideia de compartilhar como é que o mundo funciona. E aí as pessoas tendem a achar uma verdade mais próxima da realidade”, explicou o diretor João.

Acredito que o cinema seja uma maneira lúdica e muito democrática de trazer conhecimento e de levantar questões, de trazer identificação para as pessoas.  É muito lindo quando você vai assistir um filme e se identifica com aquela história, com aquela origem. É catártico. O cinema é a melhor maneira e a maneira mais democrática de levantar questões para uma sociedade”, complementou Valentina. 

O elenco, aliás, foi além dessa reflexão, demonstrando como o cinema pode ser um meio ainda mais chamativo para o público conhecer determinada história. A comparação foi dada contra os meios de informação mais tradicionais, que dificilmente conseguem atrair pessoas para conhecer alguns fatos ou situações que aconteceram ou estão acontecendo. 

Sinto também que enquanto jornais e muitos meios de pesquisa dão contorno para informações como, por exemplo, de ‘As Polacas’, sinto que o cinema dá recheio porque faz o público ir junto no coração, na emoção. Isso é uma coisa que pega muitas as pessoas, quando para além de ler uma manchete, elas se conectam com a humanidade de cada personagem. O cinema tem esse papel: de dar esse recheio, é essa câmera na mão, é esse profundo”, exemplificou Dora.

Segundo Iafa, tal analogia atrai o espectador para além da manchete, obtendo informações que provavelmente não teria de outra maneira. E no caso de As Polacas isso se reforça por ser uma história que boa parte da população brasileira desconhece. Mais do que isso, a dramaturgia serve como esse combustível de informação, mas também como um meio de a pessoa se encontrar e se identificar com algo que talvez ela não tivesse chances de conhecer de outro meio.

“O teatro nasceu assim na Grécia. Era um remédio. Fazia uma consulta e a pessoa dizia ‘você tem que assistir uma comédia. Tem que assistir uma tragédia’. Nasceu com essa função através da catarse, de poder ter uma identificação com a história e trabalhar uma coisa que você precisa trabalhar espiritualmente, emocionalmente, inconscientemente”, disse Caco. 

Por fim, As Polacas entra em cartaz nos cinemas de todo o Brasil amanhã (12) e tem como objetivo apresentar uma importante história, além de poder ser um ponto de partida para gerar reflexões em nossa sociedade. Mas também tem a missão de dar sequência ao ótimo momento que o cinema nacional está vivendo nas telonas, visto que 2024 tem sido o melhor ano desde o início da pandemia.

“Estou super feliz que ele esteja sendo lançado nesse momento. Mas tem ondas e, de repente, a gente se vê numa onda com ótimos filmes brasileiros, com as pessoas gostando de ver filmes, gostando de ir ao cinema, uma satisfação ver as salas cheias em outros filmes, e acho que ‘As Polacas’ entra nessa nessa onda. Esperamos que ‘As Polacas’ termine o ano como uma celebração ao cinema brasileiro, a cereja do bolo talvez desse ano de 2024 para uma 2025 muito próspero para o cinema nosso, ocupando salas e o público muito afim que é o que a gente gosta”, finalizou Iafa Britz. 

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