01 Novembro 2024 | Redação
Busca por mensagens de esperança, além de aumento de investimentos, alavancam sucesso de filmes religiosos no Brasil
"A Forja", distribuído pela Paris Filmes, é a 6ª maior bilheteria do ano no Brasil com mais de 2,7 milhões de ingressos vendidos
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Um novo fenômeno, se é que podemos chamar assim, está tomando conta das salas de cinema do Brasil recentemente. Desde 2023, filmes com a temática religiosa conseguiram "furar a bolha" e alcançar excelentes resultados nas bilheterias brasileiras. O maior e mais recente exemplo é A Forja (Paris Filmes) com seus mais de 2,7 milhões de ingressos vendidos que são suficientes para colocar a produção como uma das mais lucrativas do ano no Brasil. Entretanto, esse não é o único exemplo e, para entender essa movimentação, o Portal Exibidor conversou com diversos players do mercado que apontaram a busca por mensagens de esperança, além de um maior investimento nas produções, como os principais fatores para esse novo fenômeno.
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Nesta semana, A Forja superou os 2,7 milhões de ingressos vendidos e é apenas uma questão de tempo para se tornar o quinto filme mais assistido nos cinemas brasileiros neste ano. O posto, por enquanto, pertence a Planeta dos Macacos: O Reinado (Disney), que vendeu 2,721 milhões de ingressos. Mas é importante destacar que não se trata de um caso isolado e tampouco restrito ao conteúdo cristão ou evangélico. Nosso Lar 2: Os Mensageiros (Disney), por exemplo, é uma produção com a temática espírita que vendeu mais de 1,6 milhão de ingressos que foram suficientes para colocar o filme como a 17ª maior bilheteria do ano e 3ª maior do ano quando consideramos apenas filmes nacionais. Outros exemplos que confirmam a demanda por esse tipo de conteúdo são Som da Liberdade (Paris Filmes), que foi a 14ª maior bilheteria do Brasil em 2023, e a série The Chosen - Os Escolhidos (Paris Filmes), 30ª maior bilheteria brasileira em 2024. Aqui vale mencionar o quão incomum é o fato de séries figurarem entre as maiores bilheterias dos cinemas.
Parte desse sucesso, de acordo com os players ouvidos pelo Portal Exibidor, é o fato de o público estar de certa forma cansado do formato convencional das produções e, hoje, buscar por mensagens de fé e esperança que criem conexões com suas próprias histórias e vidas. "Sinto que vivemos um momento de muita informação e crises de ansiedade. Está todo mundo um pouco perdido nesse momento que a sociedade está vivendo e, de alguma forma, é uma tentativa de conexão com algo maior. [...] as pessoas estão buscando histórias que se conectem com elas e não acho que precisa ser exatamente sobre religião. Acho que o brasileiro é um povo de muita fé e percebemos isso em todas as religiões. Temos Nosso Lar, como um filme espírita que funciona, filmes católicos e filmes evangélicos, então acho que é para além de o filme ser religioso, acho que as pessoas estão buscando histórias inspiradoras, histórias de superação e histórias que de alguma forma preencham um pouco desse vazio que possam estar sentindo", disse o diretor e fundador da Clube Filmes, Fabrício Bittar.
Bittar, inclusive, é o diretor de Inexplicável, que chega aos cinemas em 5 de dezembro e traz a religião como pano de fundo para contar uma história baseada em fatos reais de um menino de 8 anos que é diagnosticado com uma doença gravíssima e sua família precisa de força e fé para encarar as complicações da doença. No bate-papo, o diretor também pontuou que para além da temática religiosa, as histórias e produções em si também contribuem para o sucesso de filmes desse segmento e usou seu próprio filme como exemplo.
"Temos que tomar cuidado porque o que manda ainda são as histórias. Fico um pouco preocupado de a gente reduzir de alguma forma o gênero e dizer que determinada coisa está funcionando. Acho que o que fica claro é que as pessoas estão buscando histórias que se conectem com elas e não precisa ser exatamente sobre religião. [...] a produção de Inexplicável começou há quatro anos quando comprei os direitos do livro e quis fazer o filme e a gente não tinha esse boom religioso e nem nada, o que me interessou foi a história. É uma história incrível com muito potencial cinematográfico e muito potencial de identificação com o público para além da discussão sobre a fé. É um drama médico e eu queria trazer essa história e de uma certa maneira mostrar que às vezes não entendemos porque certas coisas acontecem para poder inspirar pessoas que passam por situações parecidas", disse.
Jorge Assumpção, diretor de distribuição da Paris Filmes, distribuidora responsável pelos maiores sucessos do gênero no Brasil e que recentemente fechou um acordo de exclusividade com a Angel Studios, empresa estadunidense responsável por títulos cristãos, segui a mesma linha de pensamento de Bittar ao apontar uma busca do público por mensagens de esperança, empatia e solidariedade, mas também destacou o cuidado da Paris para trabalhar esse tipo de conteúdo sem que se torne algo "maçante" para a audiência.
"Acho que a Paris Filmes Filmes sabe trabalhar essa audiência e tem um respeito muito grande por ela. Há várias questões que eu poderia elencar como a credibilidade que temos enquanto Paris Filmes e o zelo pela curadoria, mas é importante destacar que procuramos escolher conteúdos com muito valor ou com uma mensagem realmente forte para chegar nas pessoas e evitar que aconteça uma avalanche desses filmes, porque isso à longo prazo é ruim porque acaba se tornando uma commodity de baixo valor. A gente procura zelar por essa curadoria e nem todos os projetos que recebemos nós costumamos colocar no mercado porque achamos que ele vai agregar à longo prazo", disse sobre o cuidado da escolha dos conteúdos para privilegiar produções de qualidade. "Até pouco tempo atrás esse segmento de conteúdo era muito focado em um conteúdo alternativo e quando o mercado de exibição programava esse tipo de filme programava como alguns conteúdos como shows, por exemplo, porque era como se fosse algo específico para uma audiência que não era um público regular do cinema. Acho que um grande mérito da Paris foi ter tirado esse segmento de filmes desse universo de conteúdos alternativos e colocado como uma programação regular que é para todos e que atende uma camada expressiva da nossa audiência", completou.
Para além das mensagens de fé, da qualidade das produções ou da profundidade das histórias, outro ponto que chama bastante a atenção na campanha de filmes com a temática religiosa é o poder do boca a boca. A Forja, por exemplo, conseguiu uma façanha extremamente improvável durante sua campanha que foi aumentar seu público a cada semana de exibição. O filme abriu com 136,89 mil espectadores em seu primeiro final de semana, aumentou para 294,46 mil no segundo e no terceiro levou 382,03 mil espectadores ao cinema, conseguindo algo relativamente raro. Essa movimentação, é claro, também não passa despercebida aos olhos do mercado. "Essa audiência que busca uma mensagem positiva nos cinemas também trabalha melhor o boca a boca e é muito mais suscetível a espalhar uma boa notícia do que eventualmente se a gente lança um filme aleatório de outro gênero que precisa estar muito fora da cura para alguém fazer um boca a boca e falar a respeito. Acho que essa audiência é muito engajada no sentido de ajudar aquilo que ela entende que vai ser bom tanto para a família dela, quanto para as outras pessoas", destacou Assumpção.
Mas, para além da busca por mensagens de esperança, outro ponto unânime na procura por desvendar o mistério desse sucesso e que foi apontado pelos players, foi a melhoria recente de qualidade desse tipo de produção. Angela Morais, fundadora e diretora-executiva da Kolbe Arte, distribuidora de filmes católicos, pontuou que uma maior qualidade ajuda, inclusive, a atingir outros públicos.
"Essas produções estão tendo uma melhor qualidade e um cuidado maior com o roteiro. São roteiros muito bem escritos e elaborados, além de trazer um tema muito forte. As produções cristãs estão cada vez mais superando seus orçamentos e, no dia 12 de dezembro vamos participar do lançamento de um filme da Paris Filmes que é Cabrini. É uma superprodução da Angel Studios e é algo gigantesco. O próprio A Forja tem uma produção super qualificada e nós entendemos que essa melhoria de qualidade também atende ao público cinéfilo e consegue extrapolar o nicho. Sai aquele público que está buscando apenas uma mensagem de fé e traz o cinéfilo, aquele que é crítico e vai olhar a fotografia, o roteiro e a direção de arte", destacou. "É um processo de desrotular que esses filmes sejam apenas para determinado segmento e têm muito mais para mostrar. São filmes como muitos outros predicados além de mensagens de fé e esperança, até porque o público está cansado apenas de histórias ruins que trazem mortes. A audiência quer uma história real, quer se conectar com a história contada, mas também que esse conteúdo tenha qualidade. Trabalhamos para não deixar um filme apenas como religioso, a gente é norteado em trazer uma narrativa positiva e também uma boa história e acho que essa é uma das razões para o sucesso desse segmento de filme", completou o executivo da Paris sobre a necessidade de qualidade nessas produções.
Com a expertise de trabalhar direta e unicamente com o público católico, portanto com filmes religiosos, a fundadora da Kolbe Arte também destacou que o público que consome esse conteúdo está "aprendendo" a consumir cinema e a ida desse novo segmento às salas escuras também ajuda a explicar o sucesso de bilheteria recente de filmes religiosos.
"A Kolbe tem uma expertise de conversar com o público católico e nesses dois últimos anos que estamos atuando na distribuição percebemos que apesar de o católico estar se habituando a encontrar esse tipo de conteúdo, ele não tem o hábito de ir ao cinema. Entendemos que temos que educar o católico a ir ao cinema e assim estamos conseguindo furar essa bolha. Agora conseguimos apresentar novos projetos e já temos três filmes para 2025 que vão contar a história de mártires que lutaram pela fé. Depois de educar esse público católico para valorizar o cinema, nós começamos a trabalhar a parte da ficção porque entendemos que esse público prefere a ficção baseada em fatos reais à documentários, por exemplo. Para 2025 a Kolbe vai trazer histórias baseadas em fatos reais com emoção, luta, desafios, mas também uma boa fotografia, um bom enredo, um bom roteiro e isso vai mostrar que cada vez mais temos esse conteúdo entre aquilo que os cinéfilos gostam. Entendemos que primeiro tínhamos que criar uma cultura com o público para furar a bolha", disse.
Por fim, Bittar também destacou a experiência coletiva do cinema como um fator de sucesso dos filmes religiosos, assim como acontece com outros gêneros pela própria singularidade da experiência cinematográfica. "Se tem uma coisa que o mercado precisa olhar para esses fenômenos como A Forja é que o cinema é uma experiência coletiva. Então acho que o que esses filmes estão fazendo de maneira muito positiva é que estão incentivando as pessoas a irem juntas ao cinema, comentarem e criarem um diálogo sobre o filme. Acho que o que faz a experiência do cinema muito legal, além de assistir na tela grande com um som excelente, é participar dos debates e discussões. Acho que temos que olhar e perceber que o público quer sim ir ao cinema, então precisamos oferecer esses filmes e uma experiência completa. Isso vai da gente, como produtor na hora de escolher e pensar a história, passa pela distribuição e a forma como comunica, e passa pela exibição para a gente conseguir criar isso", concluiu.
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