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01 Novembro 2024 | Renata Vomero

Reconhecida pela originalidade e versatilidade, Lupa Filmes agora mira na internacionalização

Produtora está com dois projetos recentes lançados: "Abraço de Mãe" e "A Vilã das Nove"

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"Vilã das Nove", produzido pela Lupa Filmes, acaba de estrear nos cinemas (Foto: divulgação)

A Lupa Filmes está no mercado há mais 15 anos e desde seu primeiro longa-metragem Mato Sem Cachorro, que arrecadou números significativos, vem se consolidando pela versatilidade em que navega entre diversos gêneros de cinema e, mais ainda, pela originalidade, marca da empresa. 

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E isso se mostra justamente em seus mais recentes projetos lançados, Abraço de Mãe, terror dirigido pelo argentino Cristian Ponce e já no catálogo da Netflix, e a dramédia A Vilã das Nove, dirigida pelo premiado Teodoro Poppovic e em cartaz nos cinemas com distribuição da Disney. 

Ambos títulos que diferem muito entre si, mas que se encontram justamente nesse lugar da originalidade e também pelo alto valor de produção dos projetos, que sempre nascem na produtora e vão com eles até o fim.

“A nossa experiência como produtores criativos na Lupa é bastante particular. Nosso foco está em projetos originais e todos são criados por nós na produtora. Além disso, cada etapa do filme é construída de maneira colaborativa, onde o desenvolvimento é feito junto com o planejamento de produção. Costumamos dizer que somos os primeiros a entrar e, só não somos os últimos a sair, porque nosso trabalho com os filmes nunca acaba. O mais importante ao longo desses anos foi consolidar a identidade da produtora. Hoje, nossos parceiros reconhecem a consistência na nossa trajetória, o que facilita a construção de novas colaborações, seja com roteiristas e diretores ou com nossos coprodutores e distribuidores”, ressaltou André Pereira, sócio e co-fundador da Lupa Filmes. 

E parte dessas parcerias consolidadas passa por um processo de internacionalização, algo que vem como um dos principais objetivos da produtora, que já passou por diversos festivais e mercados internacionais e que tem, justamente no projeto de Abraço de Mãe, um bom exemplo e case desse caminho traçado. 

“O filme estreou na mesma semana em três importantes festivais: o Festival de Cinema de Sitges, um dos maiores festivais de cinema fantástico do mundo; o BeyondFest em Los Angeles; e o Festival do Rio, apenas uma semana antes do lançamento na Netflix na América Latina. Esse tipo de planejamento integrado é um reflexo do caminho que queremos seguir. E nossa visão para os próximos anos é fortalecer essas conexões, expandindo nossa presença internacional e mantendo o compromisso com a criação de filmes originais e inovadores, que viajam pelo mundo e desafiam o que as pessoas esperam dos gêneros cinematográficos dos filmes nacionais”, destacou Mariana Muniz, sócia da empresa. 

A criação dos projetos originais e inovadores é algo que passa pelo DNA da Lupa Filmes, que se preocupa em unir essa criatividade também com valores comerciais, que se refletem no sucesso, por exemplo, de Mato Sem Cachorro e O Rastro, e claro, em diversos outros filmes no portfólio da produtora.

Esse é um equilíbrio vital para a empresa, no entanto, é impossível não pensar no quão desafiador é para esses realizadores manterem esse DNA em uma indústria tão apoiada e focada na criação de IPs, franquias e universos.

“A história original é sempre mais desafiadora, tanto na etapa de desenvolvimento quanto no financiamento e comercialização. Mas também é muito libertador poder criar. E isso acaba sendo uma vantagem enorme na maneira como trabalhamos porque o foco do processo vai sempre ser encontrar a melhor versão daquela história e potencializar o alcance junto ao valor de produção que conseguimos imprimir. Esse talvez seja o nosso maior risco que assumimos como produtora, ainda mais em um momento do mercado de muitas incertezas, mas também garante ao espectador uma experiência única. A ideia é que os projetos também possam ajudar uns aos outros a encontrar e somar os seus públicos. Existem produtoras no mercado americano, por exemplo, que ao invés de seguir a tendência de produzir apenas sequências, criam uma espécie de “diálogo” entre filmes do mesmo gênero, onde um projeto ajuda a descobrir o próximo”, refletiu Pereira.

E é nesse equilíbrio e na busca por mais espaço no Brasil e fora que a Lupa Filmes vem construindo sua trajetória. Já com alguns novos projetos engatilhados, como O Reino dos Pássaros e Carniça. Mais uma vez, totalmente distintos entre si, mas com grande potencial de atrair uma audiência interessada no “novo”. 

“Esses dois próximos projetos representam nosso esforço ao longo dos últimos anos de desenvolver filmes competitivos no mercado internacional. ‘Carniça’ é um filme de live-action de vingança feminina com elementos fantásticos, e ‘O Reino dos Pássaros’ é uma animação adulta sobre redenção. São filmes distintos, mas que possuem pontos complementares, como a visibilidade internacional que ambos atraem graças à originalidade e potencial criativo”, concluiu Muniz.

 

Confira a entrevista com os sócios da Lupa Filmes na íntegra:

Como vocês avaliam a trajetória da produtora nesses anos de mercado, incluindo a forte presença nos festivais internacionais?

André Pereira: A nossa experiência como produtores criativos na Lupa é bastante particular. Nosso foco está em projetos originais e todos são criados por nós na produtora. Além disso, cada etapa do filme é construída de maneira colaborativa, onde o desenvolvimento é feito junto com o planejamento de produção. Costumamos dizer que somos os primeiros a entrar e, só não somos os últimos a sair, porque nosso trabalho com os filmes nunca acaba. O mais importante ao longo desses anos foi consolidar a identidade da produtora. Hoje, nossos parceiros reconhecem a consistência na nossa trajetória, o que facilita a construção de novas colaborações, seja com roteiristas e diretores ou com nossos coprodutores e distribuidores.

Um dos nossos maiores objetivos recentes tem sido a internacionalização. Acreditamos fortemente no potencial dos filmes brasileiros de conquistar novos mercados, e, por isso, estamos cada vez mais empenhados em pensar os filmes de forma global. Nossos últimos projetos já nascem com essa perspectiva internacional. Nos últimos quatro anos, participamos de 21 mercados internacionais, com 15 seleções oficiais para pitching, e vencemos sete prêmios com quatro projetos diferentes.

Mariana Muniz: Podemos citar como um exemplo recente dessa articulação internacional o lançamento do “Abraço de Mãe”. O filme estreou na mesma semana em três importantes festivais: o Festival de Cinema de Sitges, um dos maiores festivais de cinema fantástico do mundo; o BeyondFest em Los Angeles; e o Festival do Rio, apenas uma semana antes do lançamento na Netflix na América Latina. Esse tipo de planejamento integrado é um reflexo do caminho que queremos seguir. E nossa visão para os próximos anos é fortalecer essas conexões, expandindo nossa presença internacional e mantendo o compromisso com a criação de filmes originais e inovadores, que viajam pelo mundo e desafiam o que as pessoas esperam dos gêneros cinematográficos dos filmes nacionais.

A produtora é conhecida por suas histórias originais. Como vocês definiriam a identidade da produtora e posicionamento no mercado?

MM: A Lupa tem um DNA que une a criação e o desenvolvimento de histórias originais com um pensamento de produção que abrange todas as etapas do processo, do macro ao micro. Não vemos o processo criativo e a execução de formas independentes. O desenho da história e o planejamento de produção nascem juntos, assim como o escopo do projeto e o orçamento estão diretamente ligados ao potencial artístico e comercial do filme. Isso nos permitiu criar filmes que muitas vezes desafiam convenções de gênero, mas que também conseguem ser atrativos para o público e o mercado.

AP: Esse equilíbrio fortalece nossa relação com os nossos parceiros, que reconhecem isso na gente. No gênero de terror, por exemplo, é interessante observar como a evolução de filmes como “O Rastro” para o “Abraço de Mãe” tem sido percebida, e esse caminho vai continuar com novos projetos que estão vindo, como “Carniça”. É curioso ver como isso pode chegar até o público.

Algumas matérias e críticas dos nossos lançamentos recentes até destacam essa continuidade como um aspecto identificável da Lupa. Para nós, isso representa um posicionamento fundamental, onde criamos uma marca que nos permite alcançar ainda mais o público de cada projeto.

Como enxergam os desafios de produzir histórias originais em uma indústria apoiada em franquias e IPs?

AP: A história original é sempre mais desafiadora, tanto na etapa de desenvolvimento quanto no financiamento e comercialização. Mas também é muito libertador poder criar. E isso acaba sendo uma vantagem enorme na maneira como trabalhamos porque o foco do processo vai sempre ser encontrar a melhor versão daquela história e potencializar o alcance junto ao valor de produção que conseguimos imprimir. Esse talvez seja o nosso maior risco que assumimos como produtora, ainda mais em um momento do mercado de muitas incertezas, mas também garante ao espectador uma experiência única. A ideia é que os projetos também possam ajudar uns aos outros a encontrar e somar os seus públicos. Existem produtoras no mercado americano, por exemplo, que ao invés de seguir a tendência de produzir apenas sequências, criam uma espécie de “diálogo” entre filmes do mesmo gênero, onde um projeto ajuda a descobrir o próximo.

MM: Embora nosso foco seja nas histórias originais, também estamos abertos a trabalhar com outras propriedades intelectuais, como é o caso da adaptação do quadrinho "Carniça", do Shiko. Mas, ainda assim, sempre seguindo uma lógica de que o filme será inspirado na obra original, e não uma adaptação em si. Isso faz com que a gente possa oferecer outros elementos que ampliem aquele universo.

⁠Alguns marcos da história de vocês foram os lançamentos de "Mato Sem Cachorro" e "O Rastro", ao que atribuem o sucesso desses filmes e o que esses resultados ensinaram a vocês?

AP: A gente se orgulha muito da nossa trajetória e ter começado com o lançamento do “Mato sem Cachorro” e “O Rastro”. Acho emblemático. O “Mato sem Cachorro” atingiu um milhão de espectadores nos cinemas, colocando a Lupa entre as dez produtoras na Retomada, até então, a atingir essa marca no primeiro longa de ficção. Por sua vez, “O Rastro” quebrou o recorde de bilheteria de um filme de terror nacional nos cinemas na Retomada. E ambos eram filmes que desafiavam convenções de gênero porque tínhamos uma comédia romântica com um humor mais adulto, seguido de um filme de terror.

Acreditamos que ambos os filmes atingiram seus públicos através de uma coesão que partiu desde a premissa original até a forma como criamos os materiais de venda. Esse aspecto tem uma linha direta com os lançamentos de “A Vilã das Nove” e o “Abraço de Mãe”. Esses primeiros filmes nos ensinaram a aprimorar a nossa forma de fazer os projetos, e também nos motivaram a nos desafiar com as novas produções.

Vocês estão com dois lançamentos ainda em 2024, "A Vilã das Nove" e "Abraço de Mãe", como foi trabalhar nesses dois filmes e o que os espectadores podem esperar deles?

AP: Estamos muito felizes em poder lançar dois projetos este ano, mas é uma coincidência que ambos tenham sido apontados para o mesmo mês. “A Vilã das Nove” é um longa que começou em 2014 e foi rodado em 2022, num cenário pós-pandemia, exatamente no momento em que o mercado se abria novamente para as filmagens. Isso tem um custo alto e estávamos produzindo numa realidade totalmente distinta ao momento que o projeto foi concebido. Tivemos muitos desafios durante a produção, mas sempre visando entregar um filme com qualidade, seguindo também todos os protocolos de segurança da época. A parceria com o diretor Teodoro Poppovic foi essencial para que esse processo acontecesse. Além de ser um cara brilhante, Téo também somou ao projeto com as suas relações pessoais, nos ajudando a reunir um elenco maravilhoso nesse filme. Isso sem falar em todos os desafios que giravam em torno das diversas locações que precisávamos para contar a história dessa mulher que tem o seu passado revelado numa novela das nove. Fizemos um filme dentro de um filme com muitos desafios, mas prezando pela qualidade dramática e técnica.

MM: No ano seguinte, rodamos o “Abraço de Mãe”, um filme de um gênero completamente diferente, porém, com igual desafio de produção. Setenta por cento dos dias de filmagem foram noturnas. E, para ficar mais fácil (risos), ainda havia todo o volume de chuvas, filmagem em piscinas, etc. A equipe foi fantástica. O elenco, impecável. Trabalhamos numa parceria incrível mesmo. Esse filme foi uma sucessão de sinergias! Chamamos o diretor argentino Cristian Ponce para estar com a gente neste processo. Cris mergulhou no roteiro, superou o desafio do idioma fazendo o storyboard do filme inteiro. Nunca vi um processo tão meticuloso. Optamos por termos dois diretores de fotografia no projeto - o argentino Franco Cerana e o brasileiro Leandro Pagliaro - que se complementavam no set. A direção de arte do Lucas Osório também é um dos grandes pontos fortes do projeto, assim como a caracterização, assinada pelo Martin Trujillo. Todo o interior da boneca foi construído na mesma locação da casa principal, assim como o entrepiso, que foi feito na piscina desta mesma locação. Ao mesmo tempo, quando falamos em terror, falamos diretamente de uma preocupação enorme com a parte da pós-produção e de todos os efeitos visuais do projeto. Aqui, mais uma vez, fizemos uma pesquisa enorme, contamos com supervisão de efeitos visuais do Mauricio Stal.

Acho que o que ambos os projetos têm em comum é a preocupação em conceituar bem os processos, a escolha de excelentes profissionais para contar essas histórias - da teoria à prática - e o nosso critério em estabelecer as prioridades que darão o valor de produção necessário em cada filme.

AP: Nos orgulhamos muito desses resultados que, de alguma forma, reafirmam a Lupa como uma produtora que se desafia dentro da vertente desses dois gêneros. Acho que os espectadores podem esperar filmes que subvertem algumas convenções mas também trazem um trabalho construído com muito cuidado e valor de produção.

Falando em próximos projetos, quais são as expectativas para "O Reino dos Pássaros" e "Carniça"?

MM: Esses dois próximos projetos representam nosso esforço ao longo dos últimos anos de desenvolver filmes competitivos no mercado internacional. “Carniça” é um filme de live-action de vingança feminina com elementos fantásticos, e “O Reino dos Pássaros” é uma animação adulta sobre redenção. São filmes distintos, mas que possuem pontos complementares, como a visibilidade internacional que ambos atraem graças à originalidade e potencial criativo.

AP: O Reino é a estreia na direção do Wesley Rodrigues, um dos animadores mais premiados do país, e uma coprodução Brasil-França com a Sacrebleu Productions, uma das maiores produtoras independentes de animação na Europa, que esse ano lançou “Flow” em Cannes e Annecy. Nosso projeto já conquistou muitos marcos inéditos para produções nacionais ainda na etapa de desenvolvimento, sendo o primeiro filme sul-americano na Residência de Annecy, e o primeiro brasileiro na NEF. E o “Carniça” é inspirado no quadrinho do Shiko, com direção da Renata Pinheiro, e que foi selecionado para os maiores mercados de filme fantástico na Ásia, América do Sul e Europa. Estamos muito orgulhosos do caminho que estamos seguindo, e há uma grande expectativa nesses mercados internacionais para ambos filmes.

Quais são as perspectivas que vislumbram para o futuro da produtora?

AP: Nós nunca queremos perder na Lupa o toque pessoal e a relação com cada projeto. O objetivo sempre foi esse cuidado como produtores e realizadores para criar filmes únicos. Por isso também somos muito seletivos sobre quais ideias que vamos explorar. Mas é isso que vislumbramos com muito entusiasmo nessa trajetória. Poder continuar crescendo, expandindo nosso alcance dentro de gêneros que amamos, e contando histórias que desafiam o espectador, mas que também consigam se comunicar e atingir um público cada vez maior.

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