31 Outubro 2024 | Renata Vomero
Com "Megalópolis", Coppola faz manifesto otimista sobre a humanidade e nosso futuro
Cineasta está em turnê em São Paulo para o lançamento do filme nesta quinta-feira (31)
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Megalópolis (O2 Play) está chegando nos cinemas e com ele veio ao Brasil seu criador: Francis Ford Coppola. Em uma série de compromissos em São Paulo, o cineasta deu uma masterclass histórica, participou da pré-estreia do longa, vem dando uma série de entrevistas aos mais diversos veículos do país (e estamos entre eles!) e encerrou sua estadia no encerramento da Mostra de São Paulo.
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Com tudo isso fica muito clara a importância desse projeto para Coppola. No auge de seus 85 anos, dispor-se a passar uma semana inteira em contato constante com seus admiradores, jornalistas e toda uma jovem geração - pela qual ele tem profundo apreço - só indicam uma paixão e urgência em mostrar Megalópolis, que ele seja assistido. E não somente pela questão comercial, que lhe é cara, claro, já que financiou o filme do próprio bolso, mas por acreditar que o filme tem uma mensagem importante para chegar nas pessoas.
“Me preocupo com você, jovens como você, e espero que você tenha netos, mas não sabemos como eles vão viver. Me sinto preocupado pelos meus netos, não por mim, pois vivi uma boa vida. Então, senti que era hora de fazer um filme que fale seriamente sobre a situação que estamos vivendo, porque acredito que o propósito da arte é iluminar nossa vida contemporânea, assim as pessoas podem ver o que está acontecendo para poderem falar sobre isso, questionar se o que estamos fazendo é certo e se não podemos fazer algo melhor. Esse é o propósito da arte e o cinema é uma arte maravilhosa, então, esse é o propósito de Megalópolis”, contou em entrevista ao Portal Exibidor em parceria com o Cine Marquise.
E isso ficou claro também na masterclass em que falou sobre o filme, seu processo criativo, sua história e sobre o futuro. Afinal, se tem algo que o filme aborda é sobre a possibilidade de sonharmos com um futuro melhor e construí-lo. Já que a humanidade é capaz de criar tantas coisas incríveis e inovadoras. Sem dúvida é uma perspectiva bastante otimista e esperançosa. E vai ao encontro do que o próprio cineasta sonha para o futuro.
“Acredito e posso discutir seriamente sobre como todas as grandes inovações da humanidade aconteceram enquanto estávamos brincando com nossos filhos. Tudo, a roda, a pólvora, a prensa móvel, o motor à vapor, todas essas mudanças aconteceram em uma atmosfera de diversão. E o outro oposto dessa atmosfera, que nós chamamos de trabalho, e às vezes até chamamos de trabalho divertido, mas vamos falar de trabalho apenas, ou de labuta, que é quando você trabalha em algo que não gosta de fazer, mas sente que tem que fazer para receber um pagamento. Nós podemos criar robôs para fazer essa labuta, não precisamos fazer isso, nós somos ótimos demais, criativos demais para isso. Então, acredito que no futuro devemos apenas nos divertir entre nós mesmos e nossos filhos e deixar os robôs fazerem a labuta”, destacou.
E parte dessa diversão, obviamente, é ir ao cinema, se expor a essa experiência tão única, do coletivo. E isso é importante para o cineasta, que vê a sala escura quase como uma igreja, onde nem a pipoca deveria ser bem-vinda.
“Nós sabemos que o cinema é o filho do teatro, do drama. E uma coisa maravilhosa sobre drama é que quando você se senta em um auditório, seja há milhares de anos na grécia ou hoje, quando você senta com um público, esse público se torna um só. Vocês se unem nesse entendimento, riem juntos, choram juntos, é uma experiência muito poderosa. Agora com a tecnologia indo mais na direção do entretenimento doméstico fica tudo diferente. Ver um filme em casa e ser interrompido pelo celular, pelas pessoas que entram ou saem da sala. Para mim essa não é a essência da experiência artística de cinema e acho que deveríamos retornar a ela. E agora as pessoas assistem aos filmes enquanto comem pipoca, assistindo aos comerciais. Você faria isso na igreja? Você não comeria pipoca na igreja! Imagine se na igreja tivesse três minutos de comerciais para produtos de beleza? É um absurdo!”, finalizou.
Megalópolis teve sua estreia mundial no Festival de Cannes deste ano, concorrendo à Palma de Ouro, e está sendo lançado exclusivamente nos cinemas brasileiros hoje (31), com distribuição pela O2 Play. A história gira em torno desse conflito entre Cesar, o arquiteto visionário que sonha com um futuro utópico, e Franklin Cicero (Giancarlo Esposito), o ambicioso prefeito de Nova Roma. Além de Driver e Esposito, completam o elenco Nathalie Emmanuel, Shia LaBeouf, Aubrey Plaza, Jon Voight, Grace VanderWaal, Jason Schwartzman e Dustin Hoffman.
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