29 Outubro 2024 | Yuri Codogno
Financiamento de projetos em desenvolvimento é foco de estudo do Hubert Bals Fund e Projeto Paradiso: "A valorização do roteirista é algo que promovemos"
Diretoras de ambos os grupos cederam entrevista exclusiva ao Portal Exibidor
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Vinculado ao Festival Internacional de Cinema de Roterdã, o Hubert Bals Fund (HBF), em uma importante parceria com o Projeto Paradiso, divulgou o estudo Desenvolvimento de Impacto, que demonstra a importância de incentivar filmes ainda em sua fase inicial. Além disso, o fundo neerlandês, que tem como foco o financiamento de projetos em desenvolvimento, tem o Brasil como o principal destino de seus incentivos financeiros.
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Em uma entrevista exclusiva ao Portal Exibidor, conversamos com Tamara Tatishvili, diretora do Hubert Bals Fund, e também com Josephine Bourgois, diretora do Projeto Paradiso. A convite do Projeto Paradiso, Tamara veio ao Brasil para acompanhar a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que conta com produções que receberam aporte do HBF, e também para lançar o estudo. Essa é a primeira publicação deste tipo do HBF com um parceiro internacional.
O estudo pode ser lido aqui, enquanto os principais pontos da conversa podem ser conferidos (em português e em inglês) ao final da matéria.
“Historicamente, há mais de 35 anos esse fundo existe e muitos talentos brasileiros, de forma seletiva, vêm recebendo financiamento do HBF para realizar seus projetos de cinema. Então é daí que viemos. E, nos últimos quatro anos, temos uma parceria maravilhosa com a equipe do Projeto Paradiso que nos está ajudando a manter essa presença quase constante”, ressaltou Tamara.
O Brasil, como dito, é o país que mais recebeu incentivos do HBF. Em um recorte entre os anos de 2014 e 2023, foram 23 projetos brasileiros apoiados, representando 41% do orçamento coberto pelo Hubert Bals Fund. Desses, mais de 40% já foram selecionados para participar de festivais classe A, como Cannes, Berlinale, Locarno, Veneza, Sundance e IFFR.
“Quando entrei para o HBF, naturalmente fui analisar as estatísticas e os dados para ver qual era nossa maior área geográfica de atuação, onde estava nosso maior investimento em talentos. E adivinha? Era o Brasil. A história realmente falava por si e os números estavam ali para mostrar que temos essa conexão. Eu queria saber mais sobre os desenvolvimentos atuais na indústria cinematográfica brasileira, que possui uma estrutura bastante sofisticada. É um país grande, com diferentes contextos públicos e privados”, completou Tamara.
Após discutir os números e informações, Josephine e Tamara decidiram fazer o estudo e lançar no Brasil, durante a Mostra Internacional de São Paulo. O estudo, assim, se torna uma ferramenta que incentiva a cooperação entre cineastas brasileiros e aqueles que produzem seus filmes e, de certa forma, serve como o apoio inicial para o desenvolvimento da história do longa e da carreira dos cineastas. Por essa razão a Mostra foi escolhida para ser o local a estrear a iniciativa, servindo como um ponto de discussão, para todos os elos, em prol do avanço da indústria brasileira.
“Não é a primeira vez que o HBF vem para o Brasil, mas é a primeira vez que tem uma parceria internacional desse tipo, com o Projeto Paradiso, e realmente escolheu o território do Brasil por conta dessa relação e acho muito legal pensar que o HBF acompanha o Brasil há mais de 35 anos. São em torno de 90 filmes apoiados ao longo desses 35 anos, ou seja, mais de dois filmes por ano em um fundo super concorrido”, disse Josephine.
Cineastas como Eduardo Coutinho, Fernando Meirelles, Kleber Mendonça e Anna Muylaert já estiveram entre os beneficiados do HBF, que hoje tem André Novais, Everlane Moraes, entre outros nomes, na seleção. Ou seja, historicamente o Hubert Bals Fund tem sido um parceiro realmente importante para o desenvolvimento de um cinema mais autoral e independente no Brasil.
“A gente precisa reconhecer esse papel do HBF e pensar para frente porque as coisas não são estáticas. E claramente chegou na maturidade de até estreitar essa relação. Isso corresponde ao momento de pensar novos modelos para sustentabilidade do fundo, mas corresponde a algo maior ainda, que é pensar novas estratégias para cumprir esse papel”, disse Josephine. “Tivemos reuniões bastante interessantes com o Ministério da Cultura brasileiro e fundos municipais, para entender onde eles realmente se posicionam em relação ao apoio ao desenvolvimento e se poderíamos até propor novas formas de parcerias, o que é sempre bom porque precisamos avançar também como financiadores. Não podemos depender apenas dos esquemas existentes”, complementou Tamara.
Apesar do desenvolvimento do projeto pertencer ao elo da produção, vale ressaltar que a verba do HBF é destinada ao desenvolvimento de projetos - uma fase antes de entrar na produção em si, quando começam filmagens e outras questões. Ou seja, são os filmes ainda em sua fase de argumentação, roteiro e pesquisa, com o fundo servindo como um auxílio para que os profissionais de cada projeto possam focar no trabalho.
“Quando começamos o Projeto Paradiso, identificamos algumas áreas que precisavam de investimento ou atenção, especialmente aquelas em que o Governo investia menos. Se olharmos para o investimento do FSA, ele era principalmente voltado para a produção. De 2014 a 2018, cerca de 60% a 70% do fundo foi para produção, enquanto apenas no máximo 6% foi destinado ao desenvolvimento. O desenvolvimento não era bem financiado e, após 2017, nem sequer existiam linhas diretas para desenvolvimento no FSA. Temos fundos locais, como Spcine e RioFilme, mas não há mais editais de desenvolvimento do FSA. Sentimos que o desenvolvimento é crucial e que a falta de apoio é uma visão curta”, explicou Josephine.
As executivas lembram que financiar projetos é um investimento difícil e um risco, visto que o retorno é de longo prazo e nem sempre será de 100%, pois alguns projetos nem mesmo sairão do papel. Simultaneamente, destinar todos os recursos em projetos para produção custa ainda mais caro, o que serve como mais justificativa para investir em desenvolvimento.
“Custa muito mais produzir um filme que não deveria ser feito do que investir em desenvolvimento e abandoná-lo antes de ir para produção. Acreditamos que essa é uma maneira de garantir que os projetos que chegam à produção tenham o nível de maturidade e qualidade necessários, reduzindo custos e provavelmente alcançando um público maior por serem filmes mais sólidos. A valorização do roteirista é algo que promovemos, pois muitas vezes ele nem recebe o devido crédito na indústria”, disse Josephine.
O financiamento, desta forma, é feito para roteiristas e produtores (que estão trabalhando nessa fase inicial do projeto) e é possível até envolver distribuidores quando há uma mentalidade de distribuição desde o início. Um olhar estratégico para o futuro se mostra importante também para mitigar riscos do projeto poder evoluir sem cair em gargalos de produção ou de distribuição.
Tamara lembra que, quanto mais trabalho preciso é o trabalho nessa fase inicial, maior é a economia: “O financiamento de produção é sempre mais alto do que o de desenvolvimento, e economiza tempo, pois evita-se ir para a produção com um projeto que já parece não estar se consolidando como uma história forte ou sem potencial para alcançar o público ao qual se destina. Nesse sentido, somos realmente sortudos por ter o Projeto Paradiso como parceiro local, pois, de outra forma, seria muito difícil para nós, considerando o vasto escopo geográfico que cobrimos, realmente nos orienta”.
As especialistas também ressaltaram a importância de mídias, como o próprio Portal Exibidor, dar espaço para os fundos de desenvolvimento, visto que distribuição e exibição não são mundos separados da produção, pois todos os eles se conectam e criam uma codependência. Para um funcionar, os outros dois também precisam estar rodando em sintonia. Além disso, a distribuição pode influenciar o desenvolvimento, ao pensar no público durante a criação do projeto.
Por fim, Tamara e Josephine comemoraram a parceria entre o Hubert Bals Fund e o Projeto Paradiso. “Para mim, eles são o parceiro estratégico que nos ajuda a nos orientar e, além disso, têm uma visão ampla, pois estão colaborando nessa ideia de não apenas manter essa parceria bilateral entre nós, mas também reunir outros agentes locais. E isso é exatamente o pensamento de futuro que mencionei”, disse Tamara. Josephine, por sua vez, complementou: “Para nós, uma instituição como o HBF, que é dedicada ao desenvolvimento de roteiros e projetos e tem uma conexão forte com o Brasil, faz todo sentido como parceira. E, honestamente, não sabíamos que essa parceria cresceria tanto. Estamos muito felizes e ansiosos para pensar criativamente sobre o próximo horizonte dessa parceria”.
Confira os principais pontos da entrevista:
O que é Hubert Bals Fund e como a publicação “Desenvolvimento de Impacto” pode ajudar na indústria brasileira?
Tamara Tatishvili:
Talvez seja importante lembrar que o HBF é um fundo de indústria único, vinculado ao Festival Internacional de Cinema de Roterdã, que financia talentos em determinados territórios, e o Brasil é um deles. Historicamente, há mais de 35 anos esse fundo existe e muitos talentos brasileiros, de forma seletiva, vêm recebendo financiamento do HBF para realizar seus projetos de cinema. Então é daí que viemos. E, nos últimos quatro anos, temos uma parceria maravilhosa com a equipe do Projeto Paradiso, e Josephine está aqui, porque isso nos está ajudando a manter essa presença quase constante. Eu diria que, dentro da indústria brasileira, dá a oportunidade para pelo menos um cineasta ter acesso ao fundo de desenvolvimento de 10 mil euros. Quando entrei para o HBF, naturalmente fui analisar as estatísticas e os dados para ver qual era nossa maior área geográfica de atuação, onde estava nosso maior investimento em talentos. E adivinha? Era o Brasil. A história realmente falava por si e os números estavam ali para mostrar que temos essa conexão. Eu queria saber mais sobre os desenvolvimentos atuais na indústria cinematográfica brasileira, que possui uma estrutura bastante sofisticada. É um país grande, com diferentes contextos públicos e privados.
Assim, Josephine e eu nos sentamos e fizemos isso acontecer de forma bastante rápida, e dissemos: por que não reunimos os dados, mas também conversamos com alguns dos beneficiários do nosso apoio e outros talentos? Por exemplo, você verá o respeitado cineasta indiano Payal Kapadia, cuja entrevista também está nessa publicação. Decidimos reunir todo esse conhecimento que tínhamos em um documento, porque ambos, como parceiros, acreditamos que isso não é apenas um apoio, mas também um investimento de longo prazo nas carreiras dos cineastas. É uma ferramenta que incentiva a cooperação entre cineastas brasileiros e aqueles que produzem seus filmes, como muitos produtores holandeses que já produziram filmes brasileiros que conhecemos. De certa forma, temos que ver isso como um apoio inicial para o desenvolvimento da história, mas também como um investimento de carreira nos cineastas. É também um investimento em parceria estratégica para diferentes produtores se unirem e, a longo prazo, esses filmes chegam ao público internacional. Acho que isso também é algo que não deve ser subestimado.
Então, foi feita a proposta de que a Mostra seria um lugar muito lógico para lançar essa iniciativa e também para iniciar uma discussão em torno desse importante mecanismo de apoio. Na publicação, você verá um panorama do contexto brasileiro, histórico e também atual, sobre o tema de como o desenvolvimento precisa ser apoiado. Precisa ser apoiado? E claro, acreditamos que sim. Para mim, também tivemos reuniões bastante interessantes com o Ministério da Cultura brasileiro e fundos municipais, para entender onde eles realmente se posicionam em relação ao apoio ao desenvolvimento e se poderíamos, potencialmente, até propor novas formas de parcerias, o que é sempre bom porque precisamos avançar também como financiadores. Não podemos depender apenas dos esquemas existentes. Então, essa foi a história e o contexto, e estou muito satisfeita com o evento de ontem; ainda temos muitas reuniões e trocas pela frente.
Eu ia perguntar porque o Brasil era o principal destino, mas você já respondeu…
Tamara Tatishvili:
É claro que há o belo cinema que vocês produzem, mas além disso estão os dados, o alcance e as estratégias de coprodução, porque somos um fundo e precisamos ser muito ágeis para entender como trabalhamos em diferentes contextos. Tudo isso se uniu muito bem para tornar este evento possível aqui.
Josephine Bourgois:
Eu só queria acrescentar que acho super importante o que a Tamara falou sobre a presença dela pela primeira vez no Brasil, como diretora do HBF. Não é a primeira vez que o HBF vem para o Brasil, mas é a primeira vez que tem uma parceria internacional desse tipo, com o Projeto Paradiso, e realmente escolheu o território do Brasil por conta dessa relação e acho muito legal pensar que o HBF acompanha o Brasil há mais de 35 anos. São em torno de 90 filmes apoiados ao longo desses 35 anos, ou seja, mais de dois filmes por ano em um fundo super concorrido. E vai ver os nomes e é muito legal, porque lá atrás tem Eduardo Coutinho, Fernando Meirelles, Kleber Mendonça, Anna Muylart, e hoje tem André Novais, Everlane Moraes, já são outros nomes, a próxima geração de cineastas. E HBF está lá desde o início. Historicamente, tem sido um parceiro realmente importante para o desenvolvimento de um cinema mais autoral e independente no Brasil.
E a gente precisa reconhecer esse papel do HBF e pensar para frente porque as coisas não são estáticas. E claramente chegou na maturidade de até estreitar essa relação e acho que isso que a Tamara está pensando. Isso corresponde ao momento de pensar novos modelos para sustentabilidade do fundo, mas corresponde a algo maior ainda, que é pensar novas estratégias para cumprir esse papel.
Tamara Tatishvili:
E só para acrescentar, ontem houve duas estreias — talvez mais, mas os dois filmes que conheço bem são “Baby”, de Marcelo Caetano, e “Retrato de um Certo Oriente”, de Marcelo Gomes. Quando conversávamos com esse grande diretor antes da exibição, ele me disse pelo menos três vezes o quanto estava feliz no início de sua carreira, quando seu primeiro filme de ficção foi apoiado pelo HBF. Era tarde da noite, não havia necessidade de fazer qualquer promoção, ele estava em uma exibição de destaque conosco, anteriormente em Roterdã. Então, o que realmente senti nesses dois dias aqui foi a enorme conexão que o talento brasileiro genuinamente tem com esse fundo. Isso não significa que não existam outros fundos financiando — claro que tem. Mas há essa conexão muito, muito valiosa. Mesmo aqueles que talvez tenham sido rejeitados pelo fundo várias vezes, devido à nossa taxa de seleção e à alta competitividade, ainda têm uma forte apreciação pelo apoio que o HBF historicamente deu ao talento desse país e em outras estruturas de produção também.
O que significa para o Projeto Paradiso ter essa duradoura parceria com o Hubert Bals Fund?
Josephine Bourgois:
Acredito que seja um reconhecimento de uma conexão especial. Como dissemos, eles vêm apoiando o cinema há 35 anos e ajudando a identificar novos talentos. E é exatamente nisso que o Projeto Paradiso também está interessado: fomentar e apoiar novos talentos. Não é a única coisa que fazemos, mas é algo em que acreditamos fortemente. Quando começamos o Projeto Paradiso, identificamos algumas áreas que precisavam de investimento ou atenção, especialmente aquelas em que o Governo investia menos. Se olharmos para o investimento do FSA, ele era principalmente voltado para a produção. De 2014 a 2018, cerca de 60% a 70% do fundo foi para produção, enquanto apenas no máximo 6% foi destinado ao desenvolvimento. O desenvolvimento não era bem financiado, e após 2017 nem sequer existiam linhas diretas para desenvolvimento no FSA. Temos fundos locais, como Spcine e RioFilme, mas não há mais editais de desenvolvimento do FSA. Sentimos que o desenvolvimento é crucial e que a falta de apoio é uma visão curta. É um investimento difícil, e conversamos sobre isso ontem em relação ao setor público, pois é um investimento de risco. O retorno não é rápido, sendo um investimento de longo prazo, e não será de 100%, pois alguns projetos não serão concretizados. Faz parte do processo, já que nem todos os projetos devem ser produzidos.
Para um fundo público, destinar dinheiro dessa forma é difícil. Imagine investir todos os recursos em projetos para produção: custa muito mais produzir um filme que não deveria ser feito do que investir em desenvolvimento e abandoná-lo antes de ir para produção. Acreditamos que essa é uma maneira de garantir que os projetos que chegam à produção tenham o nível de maturidade e qualidade necessários, reduzindo custos e provavelmente alcançando um público maior por serem filmes mais sólidos. Valorizamos o desenvolvimento e criamos o programa Incubadora Paradiso, onde incubamos projetos por um ano, dando tempo para que roteiristas escrevam, além de apoio financeiro, pois são profissionais que precisam ser remunerados. A valorização do roteirista é algo que promovemos, pois muitas vezes ele nem recebe o devido crédito na indústria.
Apoiamos roteiristas, produtores e envolvemos distribuidores quando há uma mentalidade de distribuição desde o início. O desenvolvimento é uma prioridade programática e estratégica no Paradiso. Portanto, para nós, uma instituição como o HBF, que é dedicada ao desenvolvimento de roteiros e projetos e tem uma conexão forte com o Brasil, faz todo sentido como parceira. E, honestamente, não sabíamos que essa parceria cresceria tanto. Estamos muito felizes e ansiosos para pensar criativamente sobre o próximo horizonte dessa parceria entre o Projeto Paradiso e o HBF. Isso inclui elevar o nível e colocar o desenvolvimento na pauta das políticas públicas em todos os níveis no Brasil.
Tamara Tatishvili:
Sim, e se posso acrescentar, estou desse outro lado de tudo o que Josephine acabou de mencionar. Faz muito sentido estratégico para mim, porque uma coisa é administrar o fundo, neste caso o HBF, ou qualquer outro fundo em suas operações diárias. Mas acredito que também precisamos sempre olhar para o futuro, e isso significa criar novas formas para que mais apoio seja gerado. É um investimento de risco, mas ainda assim ajuda a evitar riscos maiores, como falhar na produção ou terminar com um filme que não alcança o público.
Quanto mais trabalho preciso é feito nessa fase inicial, mesmo que alguns projetos não deem certo — é assim que a vida profissional funciona, e é assim que os projetos acontecem ou não —, ainda economiza investimentos financeiros, já que o financiamento de produção é sempre mais alto do que o de desenvolvimento, e economiza tempo, pois evita-se ir para a produção com um projeto que já parece não estar se consolidando como uma história forte ou sem potencial para alcançar o público ao qual se destina. Nesse sentido, somos realmente sortudos por ter o Projeto Paradiso como parceiro local, pois, de outra forma, seria muito difícil para nós, considerando o vasto escopo geográfico que cobrimos, realmente nos orientar.
Para mim, eles são o parceiro estratégico que nos ajuda a nos orientar e, além disso, têm uma visão ampla, pois estão colaborando nessa ideia de não apenas manter essa parceria bilateral entre nós, mas também reunir outros agentes locais, agora que estamos tentando entender, estruturar e levantar questões para talvez elevar essa parceria a um próximo nível. E isso é exatamente o pensamento de futuro que mencionei no início.
Gostariam de acrescentar mais alguma informação?
Josephine Bourgois:
A única coisa que talvez eu acrescentaria é que sei que a Exibidor foca em distribuição e exibição. Sei que não se trata apenas disso, mas acho muito interessante que um meio voltado para distribuição também fale sobre desenvolvimento. Isso é ótimo, pois, às vezes, tendemos a ver essas como questões muito diferentes e separadas, como se uma não tivesse nada a ver com a outra. Na verdade, elas se complementam e deveriam dialogar mais.
É fundamental que o desenvolvimento seja visto como um processo permanente, que assegure a qualidade do trabalho e, assim, uma melhor distribuição. Além disso, a distribuição pode influenciar o desenvolvimento, ao pensarmos no público durante a criação do projeto. Portanto, acho excelente que a Exibidor aborde esse tema. Faz muito sentido refletir sobre essa cadeia de produção e de valor do filme.
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Check out the main points of the interview:
How can the publication “Impact Development” help the Brazilian industry?
Tamara Tatishvili:
But just maybe to remind you that HBF is a unique industry fund, attached to the International Film Festival Rotterdam, which finances talent in certain territories, and Brazil is one of those. So, historically, for more than 35 years, this fund has existed. A lot of Brazilian talent, on a selective basis, have been receiving funding from HBF to make their film projects come true, right? So this is from where we're coming. And for the last four years, we have had this wonderful partnership with the team Projeto Paradiso, and Josephine is here because that is helping us to really have this almost constant presence. I would say, within the Brazilian industry, it gives an opportunity for at least one filmmaker to have access to the development fund of 10,000 euros. So, when I came to the HBF, as I said, which was last fall, I obviously looked into the statistics and data to see where our biggest geographical scope was, where the biggest soft investment was made into talent. And guess what? It was Brazil. So the history really spoke very smartly, and the figures were there to understand that we have, and I wanted to know more about the current developments in the Brazilian film industry, which has a quite sophisticated structure. It's a big country with different public and public-private contexts.
So, Josephine and I sat down in the winter this year, and we made it happen quite swiftly, actually, and we said, “Why don't we put together the data,” but also talk to some of the beneficiaries of our support and a couple of other talents? For instance, see that there is Indian filmmaker Payal Kapadia, whose interview you can also read in that publication. And we decided to put all this knowledge that we had together in one document because we both, as partners, believe that this is not just support, but it's also a long-term investment in filmmakers' careers. It's a tool that sparks cooperation between Brazilian filmmakers and those that are producing them, like a lot of Dutch producers who have produced Brazilian films that we know well. So, somehow, we have to see it as early-stage support for story development, but it's also a career investment in the filmmakers. It is also a strategic partnership investment for different producers to come together, and in the long run, these films are reaching out to international audiences. So, I think that's also something not to be undervalued.
And then the proposal was made that the festival here would be a very logical place to launch it, but also to spark a discussion around this important support mechanism. In the publication, you will see that there is an overview of the Brazilian context, historic but also present, regarding this topic of how development needs to be supported. Does it need to be supported? And, of course, we think it should be. For me, we have also been having quite interesting meetings with the Ministry of Culture here and city funds, too. You know, just to test where they really stand with the understanding of supporting development and if we could potentially, maybe even come up with new forms of partnerships, which is always good because we have to be moving forward as funders as well. We cannot only rely on the existing schemes. So that's been kind of the story and the context, and I'm very happy with yesterday's event; still, a lot of meetings and exchanges are ahead.
I was going to ask why Brazil was the main destination, but you already answered that...
Tamara Tatishvili:
It's the beautiful cinema, of course, that you make; but beyond the beautiful cinema are the data, the scope, and the coproduction strategies because we are a fund. We have to be very agile in understanding how we work with different contexts, and all this really banded well together for making this event happen here.
Josephine Bourgois:
I just wanted to add that I think it's very important what Tamara mentioned about her presence here for the first time as the director of HBF. This isn't the first time HBF has come to Brazil, but it is the first time it has an international partnership of this kind with Projeto Paradiso, and it's really special to think that HBF has been following Brazil for over 35 years. There are around 90 films supported over these 35 years, which means more than two per year in a highly competitive fund. If you look at the names, it's really impressive because, in the past, there were filmmakers like Eduardo Coutinho, Fernando Meirelles, and Kleber Mendonça; and today there are names like André Novais and Everlane Moraes — the next generation of filmmakers. HBF has been there since the beginning. I'm saying like the starting point of and then the upcoming. And they were there from the start. So historically, they have been a really important partner of the development of more authorial and independent cinema in Brazil.
And we need to recognize the role of HBF and think ahead because things are not static. It’s clear that we have reached a point of maturity to strengthen this relationship, and I believe that's what Tamara is considering. This corresponds to a moment of thinking about new models for the fund's sustainability, but it also represents something bigger: the need to develop new strategies to fulfill this role.
Tamara Tatishvili:
Yeah, and just to add to it. Yesterday there were two premieres; maybe there were more premieres, but the two films that I know very well — one was “Baby” by Marcelo Caetano, and another one was “Portrait of a Certain Orient” by Marcelo Gomes. When we were talking to this great director before the screening, he told me probably three times how happy he was in the beginning of his career when his first fiction was supported by HBF. I mean, it was late at night; there was no need to make any promotion. He was in a limelight screening with us earlier in Rotterdam. So it was really what I also felt in the two days I'm here: there is really a huge connection Brazilian talent genuinely has with this fund. It doesn't mean there are no other funds that have been financing; absolutely not. But there is this very, very precious connection that even those who might be rejected by the fund many times — because our selection rate and competition rate are really high — still have some sort of strong appreciation towards the talent HBF has supported historically from this country and, again, in some other production structures as well.
What does it mean for the Paradiso Project to have this lasting partnership with the Hubert Bals Fund?
Josephine Bourgois:
I think it's a recognition of a special connection. As we said, they've been supporting cinema for the past 35 years and helping identify new talent. This is what Projeto Paradiso is really also keen on—fostering and supporting new talent. It's not the only thing we do, but it's something that we strongly believe in. When we started Projeto Paradiso, we identified a couple of areas that needed investment or some kind of attention, especially those where the government was investing less. If you take the FSA (the Portuguese acronym for the Sectoral Audiovisual Fund) investment, it was mostly geared toward production.
From 2014 to 2018, about 60% to 70% of the fund went to production, while only 6% at most went to development. Development was not very well funded, and after 2017, there were no direct lines for development at FSA. We do have local funds, like Spcine and RioFilme, but there are no more development calls from the FSA. We feel that development is crucial, and the lack of support is quite short-sighted. It's a difficult investment, and we discussed this yesterday regarding the public sector because it's a risk investment. The return on investment is not going to be quick; it's a long-term investment and won't be 100%, as some projects won't get made. It's part of the deal because not all projects should be produced.
For a public fund, it's challenging to allocate money this way. You should consider that if you invest all your money in production projects, it costs much more to produce a film that shouldn't have been made than to invest in development and abandon a project before it goes into production. I believe it's really a way to ensure that the projects that do get made have the maturity and quality needed for production, which ultimately reduces costs and likely reaches a broader audience due to being stronger films.
We really believe in development, so we created the Incubadora Paradiso program, where we incubate projects for a year, giving scriptwriters time to write, along with financial support because these professionals need to be compensated. We highly value the role of the screenwriter, as they often struggle to receive proper credit in the industry. We support screenwriters, producers, and involve distributors when there is a distribution mindset from the beginning. Development is a high priority in our programmatic and strategic approach at Paradiso. A firm like HBF, dedicated to developing scripts and projects, has a strong connection to Brazil, making it a logical partner for us. Little did we know that this partnership would grow so much. We are excited to creatively devise the next horizon for the partnership between Projeto Paradiso and HBF, which includes elevating the level and placing development on the agenda of public policies at all levels in Brazil.
Tamara Tatishvili:
Yes, and if I can add to that, I’m on the other side of everything that Josephine has just spoken about. It makes a lot of strategic sense to me because one thing is to manage the fund—in this case, HBF—but any other fund in its daily operation. However, I believe we always need to look to the future, which means creating new ways to generate more support. It's a risk investment, but it helps avoid bigger risks, such as failing in production or ending up with a film that doesn't reach its intended audience.
The more precise work you do at the early stage— even if some of it doesn’t work—that’s how professional life functions; that’s how projects happen or don’t happen—still economizes financial investments, as production funding is always higher than development funding. It also saves time because you avoid going into production with a project that already seems weak or has no potential to reach its target audience.
In this context, we are very fortunate to have Projeto Paradiso as a local partner because otherwise, it would be quite challenging for us, given the vast geographical scope we cover, to really orient ourselves. For me, they are the strategic partner that helps guide us. Moreover, they have a broader vision, collaborating on the idea of not only maintaining this bilateral partnership but also gathering other local players. We are currently trying to understand and structure how to elevate this partnership to the next level. This is exactly the forward-thinking I mentioned at the beginning.
Would you like to add any more information?
Josephine Bourgois:
The only thing I would maybe add is that I know Exibidor focuses on distribution and exhibition. While it doesn't limit itself to just that, I find it very interesting that a media outlet dedicated to distribution also discusses development. It's great because sometimes we tend to see these as very separate issues, as if one has nothing to do with the other. In reality, they complement each other and should communicate more.
It is crucial that development is viewed as a continuous process that ensures the quality of the work, thereby leading to better distribution. Additionally, distribution can inform development by considering the audience during the project creation. So, I think it’s excellent that Exibidor addresses this topic. It makes a lot of sense to reflect on the production and value chain of the film.
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