No início do mês de outubro, a Ancine realizou o primeiro encontro do ciclo de oitivas com representantes do setor audiovisual, visando avaliar a Cota de Tela de 2024 e discutir os parâmetros para 2025. Lembrando que a Cota de Tela para o cinema brasileiro será avaliada anualmente, objetivando se adaptar à realidade cinematográfica daquele momento. 

Estão previstos ainda mais encontros com o setor este ano, incluindo reuniões técnicas com  representantes da produção, distribuição e exibição. Após as oitivas, a Ancine encaminhará ao Ministério da Cultura a proposta contendo parâmetros para o Decreto anual da Cota de Tela para 2025. 

Durante a oitiva, a Secretaria de Regulação da Ancine apresentou um panorama detalhado do mercado exibidor brasileiro, destacando os indicadores mais recentes. E será através desses dados, além de outras informações, que a Ancine chegará no resultado final para a Cota de Tela do ano que vem. 

Em 2024, o setor de exibição recuperou o número de salas e de sessões que haviam antes da pandemia. Até 27 de setembro, o Brasil contava com 3.464 salas de cinema em operação, apenas um pouco abaixo dos 3.507 de 2019. No que tange às sessões, até a 37ª semana cinematográfica, que terminou em 18 de setembro, foram 3,04 milhões, levemente abaixo das 3,11 milhões de sessões que 2019 teve até o mesmo período de 2019. 

Já no que se refere ao público, 2024 manteve uma trajetória de estabilidade, com 90 milhões de espectadores até setembro, em comparação aos 88 milhões no mesmo período de 2023. Embora o público total e o número de salas tenham permanecido estáveis, o market share dos filmes brasileiros ainda apresenta desafios, preocupando o parque exibidor.

Em 2024, até a semana cinematográfica 37, a participação do público em produções brasileiras foi de 8,3%, com cerca de 7,5 milhões de público, um aumento significativo em relação a 2023 (3,7 milhões de espectadores), mas ainda distante dos níveis pré-pandemia: 24,2 milhões de 2018 e 24,1 milhões de 2019. 

O mesmo comportamento se verifica com os filmes estrangeiros, que tiveram 152,9 milhões de espectadores em 2019 e 110,3 milhões em 2023, uma queda de aproximadamente 28%. Vale lembrar que 2024 enfrenta a ressaca das greves dos roteiristas e atores que aconteceram em 2023, paralisando gravações e outras atividades, o que empurrou importantes estreias de 2024 para anos seguintes. 

Outro desafio - e aqui entra tanto os filmes estrangeiros quanto os nacionais - está na concentração de público em torno dos grandes lançamentos, predominantemente oriundos de fora do país. Em 2024, os 20 maiores lançamentos responderam por 75,5% do público total, com os cinco maiores representando 46,9% desse total, uma elevação em relação aos números de 2023.

Segundo dados do Observatório do Cinema e do Audiovisual (OCA), o Brasil vendeu 94,4 milhões de ingressos até o fim da 40ª semana cinematográfica (9 de outubro). Desses, Divertida Mente 2 foi responsável por 22 milhões, seguido de Meu Malvado Favorito 4 (7,6 milhões), Deadpool & Wolverine (7,3 milhões), É Assim que Acaba (2,9 milhões) e Planeta dos Macacos: O Reinado (2,7 milhões). O primeiro nacional na lista é Os Farofeiros 2 (1,8 milhão), em 11º, seguido de Minha Irmã e Eu (1,8 milhão, em 13º) e Nosso Lar 2: Os Mensageiros (1,6 milhão, em 15º). Até o 50º lugar, só mais um filme nacional volta a dar as caras no ranking.  

A Cota de Tela para o Cinema Nacional é fundamental para uma autossustentação de todo setor cinematográfico, mas lembra que essa medida, isolada, não é o suficiente. Melhor disposição de sessões e crescente investimento nas obras brasileiras, como foi anunciada novamente há poucas semanas, continua necessário, mas também é preciso dar apoio aos exibidores que, em sua grande maioria, ainda não se recuperaram dos efeitos da pandemia e têm como principal renda os filmes internacionais.

O Panorama de Mercado apresentado pela ANCINE na oitiva pode ser acessado neste link.