09 Outubro 2024 | Ana Paula Pappa
Especialistas debatem os desafios e as oportunidades futuras para a indústria audiovisual brasileira
Painel reuniu exibição, distribuição e produção para pensar o futuro do audiovisual brasileiro
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No primeiro dia de painéis, a Expocine 2024 reuniu grandes nomes da indústria do cinema no Brasil para discutir o futuro do audiovisual com foco nas oportunidades e desafios que emergem no cenário pós-pandemia. O painel Conectando o Cinema ao Futuro foi mediado por Marcelo Lima, CEO da Tonks/Expocine, e contou com Hernán Viviano, diretor da Warner e Universal na América Latina; Iafa Britz, diretora da Migdal Filmes; Márcio Fraccaroli, CEO da Paris Filmes; e Marcos Barros, presidente da ABRAPLEX e da rede Cinesystem. Eles abordaram desde as dificuldades do cinema independente, passando pela criação de novas audiências, a união do setor e a reinvenção das estratégias de marketing.
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Marcos Barros abriu o painel destacando a "crise de produto" no cinema nacional, agravada pela pandemia. Segundo ele, o mercado ainda enfrenta picos e baixas na produção, além de uma falta de previsibilidade de lançamentos. A pandemia, por outro lado, trouxe uma oportunidade: a união do setor para encarar a indústria como um negócio único.
“Precisamos nos organizar e continuar investindo na internacionalização do nosso conteúdo e na formação de novas plateias", afirmou Barros, destacando a importância da Semana do Cinema, evento criado para reacender o interesse do público pelas salas de exibição. “Precisamos voltar a trazer o cinema para a boca do povo, como era antes, quando a programação aparecia em todos os jornais”, acrescentou.
Hernán Viviano, por sua vez, enfatizou que o setor precisa parar de focar no impacto da pandemia e se concentrar nas oportunidades que se abrem. De acordo com o executivo, as plataformas digitais ajudaram a criar novas comunidades de fãs de gêneros específicos, o que pode ser explorado para atrair novas gerações às salas de cinema. “O streaming criou um público mais segmentado e apaixonado por diferentes tipos de conteúdo. Nosso papel é transformar essa paixão em visitas ao cinema”, afirmou Viviano.
Ele destacou também o sucesso do relançamento de clássicos como Harry Potter, que trouxe mais de 1,5 milhão de espectadores às salas do mundo todo, sendo que metade desses números correspondem ao Brasil. “Nós achamos que é fundamental nos comunicarmos com os fãs. Harry Potter é um excelente exemplo de como exploramos essa franquia 20 anos depois. Queremos continuar fazendo isso e entendemos que isso é importante para os cinemas trazendo pessoas de volta às salas, além de explorar horarios”, disse. A estratégia de reexibir filmes icônicos foi elogiada como uma forma eficaz de conectar o cinema com seu público fiel e revitalizar as sessões em horários menos populares.
Já Márcio Fraccaroli destacou que, com a chegada dos streamings, o cinema independente tem enfrentado maiores desafios. A previsibilidade de lançamentos foi desregulada, prejudicando as produções menores. “Olhando para o futuro, vejo que estamos melhores. Digo isso porque a produção independente ficou no meio do caminho entre monetizar e entrar no streaming ou fazer uma produção maior para o cinema. O que desregulou o Brasil foi a ausência de Políticas Públicas que impossibilitaram a entrega de produções maiores e melhores”, explicou.
Fraccaroli também acredita que, apesar dos desafios, o mercado está em uma fase mais promissora. “Estamos mais organizados, com produtos melhores e o segredo será unir forças para que as campanhas de marketing sejam mais eficientes em se conectar com o público”, disse. O CEO ressaltou ainda a necessidade de criar um senso de urgência em torno do produto cinema, buscando entender melhor o comportamento do consumidor atual, mais sensível e atento a outras opções de entretenimento.
Iafa Britz compartilhou seu otimismo quanto à qualidade das produções nacionais, mas reconheceu os desafios impostos pelos altos custos de produção. Segundo a cineasta, o setor está "no meio de um limbo" entre grandes produções com orçamentos elevados e projetos menores, com verbas mais restritas. “Fazer cinema ficou muito mais caro e, mesmo assim, precisamos competir com produções internacionais de altíssimo orçamento. O público exige mais qualidade e nós temos que elevar esse nível constantemente", afirmou.
Britz acredita que a imprevisibilidade é parte da natureza do cinema. “Há filmes que nos surpreendem em todos os aspectos. O importante é seguir apostando em projetos que, de alguma forma, se conectam com o público e confiando em nosso instinto”, disse. Para ela, o cinema brasileiro estagnou em alguns formatos e precisa inovar para se manter competitivo.
A discussão sobre o futuro das franquias cinematográficas também fez parte do painel. Para Britz, as franquias continuam sendo um investimento estratégico, mas ressaltou que o sucesso depende do apoio da distribuidora e de uma sólida parceria com os exibidores. "Ter a distribuidora ao lado é fundamental para posicionar esses filmes no mercado e garantir que alcancem seu público", destacou.
Apesar dos desafios apontados pelos painelistas, há um forte otimismo quanto ao futuro do setor, que apostam o ano de 2026 com produções maiores e mais alinhadas ao gosto do público. “Estamos nos reorganizando, aprendendo com as mudanças e preparados para entregar produtos que dialoguem melhor com o espectador", concluiu Iafa.
Em um mercado cada vez mais competitivo e globalizado, o cinema brasileiro busca se reposicionar, investir em novas estratégias de marketing e fortalecer parcerias dentro e fora do país. A colaboração entre produtores, distribuidores e exibidores é vista como essencial para garantir que o público continue vendo valor em sair de casa e ir ao cinema, um hábito que, apesar das transformações e inúmeros altos e baixos, manterá sua relevância no futuro.
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