02 Setembro 2024 | Janaina Pereira, de Veneza
"Ainda estou Aqui", novo filme de Walter Salles, é ovacionado no Festival de Veneza
Com grande atuação de Fernanda Torres, "Ainda Estou Aqui" entra forte na disputa pelo Leão de Ouro
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Depois de um hiato de mais de 20 anos sem um filme brasileiro concorrendo ao Leão de Ouro (o prêmio principal do Festival de Veneza), o país voltou com força ao evento mais antigo do cinema. Foi exibido neste domingo (1), Ainda Estou Aqui (Sony), novo filme de Walter Salles (Central do Brasil), baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. O longa, estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello e com participação especial de Fernanda Montenegro, relata a história da família de Paiva, que em 1970 enfrentou um ato de violência que mudou a vida de todos para sempre: o desaparecimento do pai de Marcelo, o ex -deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar brasileira.
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Nas sessões para a imprensa, que aconteceram ontem (1) no Lido de Veneza, Ainda Estou Aqui foi longamente aplaudido. O mesmo aconteceu na coletiva lotada de jornalistas do mundo inteiro e na premiére mundial, realizada no horário nobre do Festival e em um dia onde George Clooney e Brad Pitt monopolizaram as atenções com a exibição de Wolfs, fora de concurso. Os astros de Hollywood, no entanto, entraram no tapete vermelho depois do elenco e equipe do filme brasileiro, que, ao som de Fora da Ordem, de Caetano Veloso, foram recebidos por um público animado e com direito a bandeira do Brasil na plateia que lotava o Lido, onde é realizado o Festival.
“A história de Eunice se confunde com a do Brasil naqueles anos horríveis que vivemos”, disse Walter Salles durante a coletiva, acrescentando que não imaginava a volta da direita ao país. “Nunca pensei que a minha geração veria o ressurgimento da extrema direita.”
Salles, que foi o último cineasta brasileiro a concorrer em Veneza com Abril Despedaçado, em 2001, e estava há 12 anos sem filmar, também refletiu sobre a importância do cinema.
“O cinema é uma ótima ferramenta contra o esquecimento. A literatura também”, acrescentou.
Elogiada por sua atuação forte e marcante, Fernanda Torres contou como construiu Eunice, a protagonista que é mãe de Marcelo Rubens Paiva e precisa criar os filhos e seguir a vida após o desaparecimento do marido, mas sem deixar de lutar para que seja reconhecida a violência feita contra Rubens.
“Ela era uma mulher que enfrentava a tragédia, que evitava os melodramas. Ela não queria chorar na rua com a família. Não queria que seus filhos se tornassem vítimas da ditadura. E a forma como decidiu fazer isso foi com o silêncio e um sorriso. É incrível”, refletiu Fernanda.
O autor do livro, Marcelo Rubens Paiva, também participou da coletiva e elogiou os detalhes da direção de arte, figurino e fotografia de Ainda Estou Aqui.
“A casa que aparece no filme é exatamente igual a casa em que vivi com minha família no Rio. Todos os detalhes estão ali. A cozinha era exatamente aquela. Eu acho isso lindo no filme, a forma como tudo foi reconstruído .“
Paiva contou que resolveu escrever o livro quando a mãe foi diagnosticada com Alzheimer . “Quando a minha mãe adoeceu com Alzheimer, senti que tinha que escrever o livro sobre ela. Foi muito importante escrever esse livro nesse momento porque a democracia está em perigo em todo o mundo”, concluiu.
Com distribuição da Sony, o filme chegará em breve ao cinemas brasileiros.
Críticas favoráveis
As primeiras críticas ao filme Ainda Estou Aqui já saíram e, até o momento, o filme é só elogios, especialmente para a atuação de Fernanda Torres. Para o portal Deadline, “Fernanda Torres tem uma delicadeza emocional como Eunice que transmite, através dos menores e mais sutis sinais, o que lhe custa conter sua ansiedade e raiva pelo bem de sua família. É uma atuação que deve catapultá-la para a corrida pelos prêmios, 25 anos depois de sua mãe, Fernanda Montenegro, ter sido indicada ao Oscar pelo filme de destaque de Salles, Central do Brasil.“
Já o IndieWire descreveu que “a atuação de Fernanda Torres como Eunice é tão espetacular quanto sua filmografia sugere, tendo se destacado como uma das maiores atrizes do continente sul-americano”.
Além do Festival de Veneza, Ainda Estou Aqui será exibido na 49ª edição do Festival de Toronto, que começa na próxima sexta, dia 6 de setembro , na Mostra Perlak (fora de competição) da 72ª edição do Festival de San Sebastián, que ocorre entre 20 e 28 de setembro, e na sessão Spotlight do 62º Festival de Nova York, realizado no Lincoln Center a partir de 27 de setembro.
Os vencedores da 81ª edição do Festival de Veneza serão conhecidos no próximo sábado (7).
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