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27 Agosto 2024 | Redação

Grande Prêmio do Cinema Brasileiro deixa de prestigiar pessoas pretas, pardas ou indígenas, aponta estudo

Homens brancos dominam mais de 80% das indicações aos maiores prêmios e saem vencedores do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em pelo menos 70% das vezes

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Apenas em 2023, com "Marte Um", pessoa negra levou prêmio de melhor direção (Foto: Divulgação)

Um estudo realizado pelo GEMAA (Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa) apontou uma grande desigualdade de gênero e raça no cinema nacional. Levando em consideração as premiações concedidas no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro entre os anos de 2002 e 2023, os números mostram uma predominância de pessoas brancas em todas as categorias, com uma maioria significativa de homens brancos ocupando posições de direção e roteiro. Em toda a história do prêmio, por exemplo, 81% das indicações na categoria "Melhor Ficção" foram para homens brancos e 70% dos vencedores da mesma categoria também foram homens brancos.

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No mês de abril, um levantamento exclusivo do Portal Exibidor já havia mostrado que entre os 100 filmes brasileiros de maior público nos últimos cinco anos, apenas 20,9% foram dirigidos por mulheres. O estudo "Diversidade de Raça e Gênero no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (2002-2023)" do GEMAA voltou a evidenciar disparidades significativas de gênero e raça nas indicações e premiações. Em contraste à predominância de homens brancos nas indicações e premiações, pessoas pretas, pardas ou indígenas (PPIs) se destacam apenas em casos excepcionais, como Dira Paes, Lázaro Ramos, Flávio Bauraqui e Fabrício Boliveira.

Além de dominarem a categoria "Melhor Ficção", o estudo também mostrou que homens brancos também venceram "Melhor Documentário" 81% das vezes e também levaram para casa o prêmio de "Melhor Direção" em 74% das oportunidades. Além disso, roteiristas homens brancos são 77,5% dos vencedores em “Melhor Roteiro Original” e 88% em “Melhor Roteiro Adaptado”. Em contrapartida, em 22 anos de premiação, apenas sete homens pretos, pardos ou indígenas foram indicados para "Melhor Direção", com a primeira vitória ocorrendo apenas em 2023, com Gabriel Martins por Marte Um (Embaúba Filmes).

O estudo também revela que, nas últimas décadas, nenhuma mulher preta, parda ou indígena dirigiu ou roteirizou filmes de grande público no Brasil. Em contrapartida, mulheres brancas conquistaram prêmios na categoria "Melhor Ficção" em seis ocasiões, com destaque para Anna Muylaert, que venceu duas vezes. Apesar da percepção de que o gênero documentário é mais inclusivo, o estudo comprova que apenas 1% das indicações na direção dessa categoria foram para mulheres pretas, pardas ou indígenas: Tetê Moraes em 2002, por O Sonho de Rose – 10 anos Depois, e Camila Pitanga, em parceria com Beto Brant, em 2018 por Pitanga (Elo Studios).

Mas, apesar de pessoas brancas dominarem as indicações para premiações no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, atrizes e atores pretos, pardos e indígenas conseguem se destacar. Confira alguns números levantados pelo GEMAA.

  • Na categoria “Melhor Atriz”, mulheres brancas são 84% das indicadas e 81% das vencedoras, contra 16% de indicadas mulheres pretas, pardas ou indígenas e 19% de vencedoras.
  • Na categoria “Melhor Atriz Coadjuvante”, mulheres brancas são 88% das indicadas e 91% das vencedoras, contra 13% de indicadas mulheres pretas, pardas ou indígenas e 9% de vencedoras.
  • Na categoria “Melhor Ator”, homens brancos são 80% dos indicados e 73% dos vencedores, contra 20% de indicados homens pretos, pardos ou indígenas e 27% de vencedores.
  • Na categoria “Melhor Ator Coadjuvante”, homens brancos são 79% dos indicados e 78% dos vencedores, contra 21% de indicados homens pretos, pardos ou indígenas e 22% de vencedores.
  • Em mais de duas décadas, entre 2002 e 2023, excluindo 2006 por ausência de dados, a indicação exclusivamente de pessoas brancas ocorreu em 38% das vezes na categoria “Melhor Atriz”, 38% na categoria “Melhor Atriz Coadjuvante”, 38% das vezes na categoria “Melhor Ator” e 24% na categoria “Melhor Ator Coadjuvante”.

"Cotas em editais e iniciativas específicas são essenciais para corrigir o intenso desequilíbrio na representatividade de gênero e raça na indústria, de forma a refletir a diversidade do país também nesse setor. Esta pesquisa traz à tona as trajetórias apagadas e os desafios enfrentados por cineastas sub-representados, destacando a importância de premiações e festivais como espaços de consagração e ativismo", destacou Luiz Augusto Campos, coordenador do GEMAA, ao falar sobre a necessidade de políticas públicas que promovam a diversidade no cinema nacional.

O estudo produzido pelo GEMAA, que contou com o apoio de divulgação da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) e +Mulheres no Audiovisual, ainda concluiu que a falta de representatividade dificulta a entrada de grupos sub-representados no audiovisual e que "a falta de diversidade no cinema brasileiro reflete dinâmicas mais amplas de discriminação de gênero e racismo, o que enfraquece o potencial cultural do país".

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