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21 Agosto 2024 | Gabryella Garcia

Karim Aïnouz comemora estreia de "Motel Destino" após passagem por Cannes: "Estamos no panteão dos filmes mais importantes do mundo"

Filme que abriu o Festival de Cinema de Gramado chega aos cinemas amanhã (22)

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(Foto: Divulgação)

Motel Destino (Pandora Filmes), do diretor Karim Aïnouz, chega aos cinemas amanhã (22) após ser ovacionado em sua première mundial em Cannes e também após abrir a 52ª edição do Festival de Cinema de Gramado. Uma das apostas do cinema nacional para o ano de 2024, o filme potente e com cores fortes e vibrantes é uma prova da força e qualidade das produções brasileiras na visão de Aïnouz. A passagem do longa por Cannes, inclusive, comprova a tese do diretor.

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Há algum tempo um filme brasileiro não participava da principal Mostra Competitiva de Cannes, em busca da Palma de Ouro. Para Aïnouz, entretanto, Motel Destino mostrou que nosso país não deve em nada para produções de outros países. O longa, inclusive, concorreu com produções de renomados diretores como Francis Ford Coppola, David Cronenberg, e Yorgos Lanthimos.

"É muito importante estar em Cannes e isso mostra que estamos no mesmo nível de igualdade do Coppola, do Cronenberg e da Coralie Fargeat. Lá tem realizadores do mundo inteiro, tem um filme indiano junto com um filme brasileiro e blockbusters americanos, então isso é muito importante para entender que não é quanto o filme custa, é a qualidade do filme. Se teve mais de 4 a 5 mil filmes que foram vistos pelo comitê de seleção e 23 foram selecionados, isso fala de um cinema que é competitivo com o mundo inteiro. Acho importante que os exibidores escutem isso e também é importante que o público brasileiro escute isso. A gente fala tanto de Cannes porque é uma prova de qualidade de que estamos no panteão dos filmes mais importantes do mundo", destacou o diretor.

Mas, apesar da conquista, Aïnouz reconhece a disparidade nos orçamentos das produções brasileiras se comparadas às produções de outros países. Ele destaca que a indústria de outros cantos do planeta realmente entende a importância dos investimentos, mas ainda assim se mostra otimista para a estreia do filme nas telonas.

"A expectativa é que seja um blockbuster, apesar de ser muito difícil ser um blockbuster do tamanho que a gente está lançando, do tamanho que a gente tem de orçamento de publicidade do filme. É uma competição um pouco injusta quando você vê um filme como os blockbusters americanos e não é à toa que eles são blockbusters, eles tem anúncios no quarteirão inteiro. Quando falamos desse tema sempre saímos em uma situação desfavorável especificamente ao cinema hegemônico americano, então fico torcendo para que as pessoas saibam, porque às vezes temos a sensação de que as pessoas nem sabem que o filme foi lançado e já saiu de cartaz. A primeira coisa que torço é para que as pessoas saibam que o filme está em cartaz, que se animem para ver o filme e que o povo vá ver Motel Destino e se encante com o filme e com a história dos personagens como se encantam quando assistem Wolverine e outros blockbusters que têm tanta força", disse.

Motel Destino foi todo filmado no litoral cearense e com Fábio Assunção, Nataly Rocha e Iago Xavier como protagonistas, mostra um motel que é palco de jogos perigosos de desejo, poder e violência. Uma noite, entretanto, a chegada do jovem Heraldo, interpretado por Iago Xavier, que faz sua estreia em um longa-metragem, transforma em definitivo o cotidiano do local.

Além do diretor do filme, o Portal Exibidor também conversou com os protagonistas, que mostraram bastante confiança no potencial de Motel Destino, que será lançado em mais de 20 países. "Espero que o público abrace esse projeto e vá ao cinema, porque tem que haver essa movimentação e a gente tem que ocupar o cinema. Não podemos perder esse ritual mágico que é estar em uma sala de cinema e estar junto com outras pessoas que você nunca viu na vida. Espero que o público brasileiro vá aos cinemas e se identifique com os dramas e felicidades vividas ali na tela porque é um filme que tem a nossa cara e a nossa regionalidade [do Ceará], mas é um filme brasileiro acima de tudo. Esperamos conquistar esse público brasileiro porque a gente fez nosso filme, rodou nosso filme no Ceará e viajamos com ele para o outro lado do mundo para estrear em Cannes e as pessoas aplaudiram muito ele. É uma preciosidade que o povo brasileiro tem e deve reconhecer esse trabalho", comentou Iago.

Fábio Assunção, que faz par romântico com Nataly Rocha, por sua vez, apontou elementos que despertam curiosidade do público como uma aposta de que as salas de cinema estarão cheias. Além disso, o ator também destacou elementos de produção que são um diferencial de Motel Destino. "Acredito muito no potencial do filme e tem muitos componentes que podem trazer muito público. Uma curiosidade sobre esse ambiente de confinamento, quem são essas pessoas, esses sobreviventes e qual é a relação desse cara do Sudeste, um homem branco, com essa mulher cearense. O filme traz um conteúdo erótico que não é um conteúdo erótico em um lugar saudável mentalmente, é um conteúdo erótico adoecido por esse contexto de jogos de poder onde tudo é meio ilegal e meio proibido. Motel Destino traz essa panela com todas essas coisas em um lugar sombrio e todo colorido ao mesmo tempo. É um espaço que é pesado e colorido, mas na verdade é um lugar sombrio no meio de uma natureza tão solar. Esse filme também tem a beleza do próprio cinema, a gente fez ele em película, como uma fotografia deslumbrante, então quem gosta da estética do cinema vai se sentir muito bem", afirmou.

Na trama, os personagens de Iago, já no desenrolar da história, e Nataly "são sequestrados pelo motel" nas palavras de Aïnouz. O personagem de Fábio Assunção se muda do Rio de Janeiro para o Ceará, onde se torna dono do motel e vive um relacionamento com a personagem de Nataly. Esse relacionamento, sem entrar em primeiro plano no filme, entretanto, se mostra abusivo e dá sinais de violência doméstica.

"Tentei fazer uma personagem mais solar que encontrasse respiros de resistência, de prazer, e também de ironia para a personagem não ficar muito chapada. Quis criar algumas camadas onde o humor estivesse presente e também o próprio desejo da personagem, para ela nunca esquecer dela mesma. Foi uma construção dentro de espaços de improviso, mas também uma personagem que não ficasse rancorosa. É claro que uma pessoa que sofre violência não vai estar feliz e rindo, mas tentei construir em outro lugar para rir e subverter as coisas, não se deixando dominar totalmente apesar da violência e do medo", disse Nataly sobre a construção de sua personagem.

Além de todas as nuances citadas, Motel Destino também é um filme que marca a volta de Karim Aïnouz ao Brasil. Antes do thriller erótico, o diretor rodou Firebrand, exibido em Cannes no ano passado, e que conta com Alicia Vikander e Jude Law no elenco, e os documentários Marinheiro das Montanhas e Nardjes A. na Argélia. Ele, entretanto, fez questão de destacar que o distanciamento do Brasil foi apenas circunstancial e não por vontade própria.

"Antes de falar de voltar a filmar no Brasil é preciso perguntar porque eu não filmei antes. O último filme que rodei no Brasil foi em 2018 e não preciso usar meias palavras, a gente sabe que houve um projeto muito profundo e objetivo de erradicação do audiovisual porque quem estava no poder antes era contra o audiovisual. A Ancine não acabou porque eles queriam sangrar, que é mais fácil e mais perverso do que matar. Quero voltar a filmar mais no Brasil, mas é importante dizer que não fiquei sem querer filmar no Brasil, na verdade a gente não podia filmar no Brasil e de fato houve um projeto de erradicação do audiovisual muito sério. Então, para mim, quando a gente é proibido de fazer alguma coisa que a gente tem direito, a gente volta com muita vontade e tesão. Agora espero que esse projeto não seja interrompido porque interromper esse processo não foi uma decisão minha, foi uma decisão que veio de outro lugar político que não me deixava ou não dava condições de filmar no Brasil", explicou.

Além de explicar o motivo do hiato de filmagens no Brasil, o diretor também comemorou a recente renovação da Cota de Tela para que o cinema brasileiro possa competir no mesmo nível de igualdade com filmes estrangeiros, destacando a importância de filmes nacionais ocuparem as salas de cinema, e a importância - e necessidade - de uma parceria com exibidores e distribuidores. Por fim, Aïnouz falou sobre as vantagens de Motel Destino ser filmado quase todo em uma mesma locação, no caso, o motel.

“Essa experiência de quase só um cenário é muito boa e tem três vantagens. A primeira é que o filme tem um planeta, um universo que é muito claro que é a arena do filme e é um motel. Quando você faz um filme com a maior parte dele dentro de uma locação você de fato consegue criar um universo muito próprio do filme e isso é muito bom. Quando você pensa no filme você fecha o olho e imagina onde ele está. Outro ponto, como produção, é muito bom porque você pode fazer duas coisas. Você tem muito mais concentração da equipe dentro de um lugar só e você pode ser muito mais exuberante quando está fora. O filme se passa dentro do motel mas tem muitas cenas exteriores que são cenas grandes com planos abertos e respiros, então acho que essa mistura é algo que o cinema gosta muito porque é um filme que tem um valor de produção grande mas não precisa custar tanto. A terceira coisa que é muito bacana para a produção é que o motel é um espaço muito fértil de fantasia. Isso permitiu que o filme adentrasse um terreno que seja um terreno não só do real e dos personagens, mas da fantasia e o terror psicológico é um gênero muito amigo da fantasia, então acho que isso o motel nos deu como um presente por conta do próprio espaço do motel, que por definição é um espaço de fantasia", finalizou.

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