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24 Julho 2024 | Redação | Entrevista: Renata Vomero

Retrato Filmes chega ao mercado brasileiro com foco na distribuição de produções independentes

Distribuidora quer estreitar laços com produções, desde os estágios iniciais, e primeiro lançamento chega aos cinemas em 15 de agosto

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Cena de "O Auge Humano 3", primeiro lançamento da Retrato Filmes (Foto: Divulgação)

O Brasil acaba de ganhar uma nova distribuidora audiovisual focada em produções independentes. Fundada por Daniel Pech e Felipe Lopes, a Retrato Filmes chega ao mercado já engatilhada com quatro lançamentos premiados e aclamados pela crítica internacional, que devem chegar aos cinemas nacionais ainda em 2024, e terá foco em longas independentes com perfil autoral.

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No portfólio da distribuidora estão O Auge Humano 3, do argentino Eduardo Williams, premiado no Festival de Locarno e exibido em Toronto e San Sebastián; Prisão nos Andes, coprodução entre Chile e Brasil, que estreou no Festival de Londres, para em seguida passar por Guadalajara, Marrakesh, Huelva (Prêmio de Melhor Elenco), Kerala (Prêmio FIPRESCI pela crítica internacional) e Punta del Este (Prêmio de Melhor Diretor); Salão de baile - This Is Ballroom, que encerrou o última edição do Olhar de Cinema; e Alma do Deserto, coprodução entre Brasil e Colômbia, com estreia confirmada na próxima edição do Festival de Veneza.

Daniel Pech, um dos sócios da nova distribuidora, destacou em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor que a Retrato Filmes irá trabalhar com filmes de ficção e documentários, majoritariamente brasileiros, italianos, uruguaios, argentinos, colombianos e chilenos. Além disso, cada estratégia de lançamento será pensada de forma individual, de acordo com as características de cada um dos filmes.

"Cada lançamento será muito diferente um do outro. Cada filme possui uma estratégia distinta, pensada especificamente para ele. Entramos nesses filmes por questões que envolvem gosto pessoal e uma intuição e confiança de que saberemos trabalhá-los no mercado para que eles atinjam seu maior potencial de público e de licenciamentos. O objetivo, portanto, não é criar uma marca vinculada a um tipo específico de obra e nos posicionar dessa forma. Por isso, nos referimos a uma carteira de obras, uma vez que prezamos pela diversidade de temas, estilos e vozes", disse.

O primeiro lançamento da distribuidora, inclusive, já tem data marcada. O Auge Humano 3 chega aos cinemas brasileiros em 15 de agosto e traz a história de diferentes grupos de amigos que vagam em um mundo chuvoso, escuro e onde venta muito. Diante da situação, eles passam um tempo juntos, tentando fugir de seus empregos deprimentes, vagando constantemente em direção ao mistério de novas possibilidades.

Em relação à estreia, Pech avaliou que a experiência de Felipe Lopes, que tem uma carreira consolidada na distribuição e é sócio da Vitrine Filmes e Manequim Filmes, têm facilitado nos contatos com o mercado. "O Felipe trabalha há muitos anos como distribuidor, com muitos cases de sucesso. Ou seja, o Felipe já tem uma relação estabelecida e muito aberta e positiva tanto com os exibidores, quanto com streamings. O trabalho já é reconhecido e isso nos dá fácil acesso e confiança nas negociações", destacou.

Mas, apesar de avaliar essa estreia da distribuidora como positiva, Pech destacou que o segmento da distribuição passa por um momento difícil e, para reverter a situação, é necessário se atentar às novas tendências de consumo e, sobretudo, ter um foco direcionado nas campanhas de divulgação das produções.

"Alguns casos recentes mostram que campanhas de divulgação que se focam na importância da experiência de consumir determinada obra nas salas de cinema, que criam uma lógica de um evento importante nesse consumo durante o lançamento e tornam a obra um forte tema naquele momento tiveram efeito positivo, demonstrando que, ao contrário do que muitos dizem, há sim o desejo, pelo espectador, de consumir filmes nas salas de cinema se assim estimulado. Veja o Divertida Mente 2, lançado neste mês, em um ano de números tímidos, tornando-se o maior público da história do cinema brasileiro. Claro, trata-se de uma campanha de alcance muito maior, com valores incomparáveis. Mas precisamos encontrar uma forma de trazer essa ideia ao cinema independente brasileiro. Tivemos alguns exemplos recentes como Marte um, Retratos Fantasmas e Elis e Tom, de filmes que superaram a média de público de obras similares com campanhas de lançamento muito eficazes valendo-se das especificidades de cada obra", afirmou.

E, seguindo a linha de trabalhar individualmente cada filme para potencializar o interesse do público, Pech destacou que Prisão nos Andes e Salão de baile - This Is Ballroom, dois dos próximos lançamentos da Retrato Filmes, terão seus lançamentos pensados dessa forma. Enquanto o primeiro filme, que fala sobre a ditadura chilena, será lançado na semana de aniversário do Golpe do Pinochet e contará com diversos debates sobre o tema, o segundo, que é um documentário sobre a cena ballroom fluminense, terá o reforço de eventos e sessões de balls para aproximar o público do tema tratado no filme.

Além de Daniel Pech, que atuou por anos como produtor à frente da Multiverso Produções em obras selecionadas para festivais como Berlim, Londres, Locarno, San Sebastián, e Rotterdam, e Felipe Lopes, que é sócio da Vitrine Filmes e Manequim Filmes e esteve à frente de lançamentos de sucesso como Aquarius, Bacurau, Nosso Sonho e A Vida Invisível, a Retrato Filmes conta ainda com Carmen Galera, que já passou por empresas como Bonfilm e Pagu Pictures, como Gerente de Lançamentos. Agora, após dar o primeiro passo e se lançar no mercado, Pech já vislumbra um futuro em que a distribuidora tenha um contato mais próximo com a produção das obras independentes.

"As expectativas são de continuar crescendo, com o foco no cinema independente brasileiro, e expandir a quantidade de obras e o alcance das mesmas ano a ano. Também queremos passar a atuar de forma mais intensa em obras durante estágios mais iniciais, aprimorando ainda mais a relação com a produção e pensando a comercialização mais cedo, enquanto o filme ainda está em desenvolvimento. Nesse sentido, já temos contrato de distribuição firmado com diversos projetos que se encontram em financiamento ou em pré-produção", finalizou.

Confira a íntegra da entrevista com Daniel Pech:

Como surgiu a iniciativa de criar a nova distribuidora? 

Eu e Felipe nos conhecemos desde que entramos no curso de Cinema da UFF. Temos uma relação de amizade já há muitos anos e sempre compartilhamos nossos anseios e opiniões acerca do mercado audiovisual. A ideia de formarmos uma parceria profissional veio naturalmente, por conta do diálogo que sempre tivemos e pela admiração profissional mútua. Abrimos a Retrato em 2018, mas por conta do contexto político no Brasil, pela pandemia e também pela dedicação demandada por nossas outras atividades, a empresa ficou parada por alguns anos. 

Com o retorno dos investimentos em distribuição, passamos a contar com uma equipe fixa que nos dá suporte e entendemos como conciliar a minha atuação na Multiverso e a do Felipe na Vitrine com a possibilidade de levar a Retrato adiante. Desde então, o trabalho foi intenso para que chegássemos ao momento em que estamos agora, em que nos apresentamos ao mercado com uma carteira de longas para lançamento em 2024 totalmente financiada e pronta para ir aos exibidores, canais e plataformas.

Como a Retrato Filmes se posiciona no mercado brasileiro e o que o mercado pode esperar de seus lançamentos? 

Em nossa carteira, possuímos filmes de ficção e documentários; filmes de linguagem experimental e narrativas convencionais; filmes majoritariamente brasileiros, italianos, uruguaios, argentinos, colombianos e chilenos; filmes voltados ao público jovem e ao público adulto. 

Ou seja, cada lançamento será muito diferente um do outro. Cada filme possui uma estratégia distinta, pensada especificamente para ele. Entramos nesses filmes por questões que envolvem gosto pessoal e uma intuição e confiança de que saberemos trabalhá-los no mercado para que eles atinjam seu maior potencial de público e de licenciamentos.

O objetivo, portanto, não é criar uma marca vinculada a um tipo específico de obra e nos posicionar dessa forma. 

Por isso, nos referimos a uma carteira de obras, uma vez que prezamos pela diversidade de temas, estilos e vozes. Isso também nos dá mais força frente ao mercado, nos deixando com maior maleabilidade em um contexto de demandas mudando cada vez mais rapidamente.

Como avalia o segmento de distribuição no momento e qual gargalo buscam sanar com a nova distribuidora? 

Precisamos levar o público de volta às salas de cinema e o pensamento que vem sendo defendido e aplicado por entes públicos e privados, que considera como ponto central recompensar e replicar experiências passadas, é insuficiente. 

É uma ideia desconectada da realidade e das novas tendências de consumo, que não vai enfrentar as dificuldades pelas quais o setor de distribuição passa, promove desigualdade, desestimula a inovação e irá cansar o espectador. 

Que o segmento de distribuição atravessa um momento difícil é unânime, basta olhar os números.

Por outro lado, alguns casos recentes mostram que campanhas de divulgação que se focam na importância da experiência de consumir determinada obra nas salas de cinema, que criam uma lógica de um evento importante nesse consumo durante o lançamento e tornam a obra um forte tema naquele momento tiveram efeito positivo, demonstrando que, ao contrário do que muitos dizem, há sim o desejo, pelo espectador, de consumir filmes nas salas de cinema se assim estimulado. Veja o Divertida Mente 2, lançado neste mês, em um ano de números tímidos, se tornando o maior público da história do cinema brasileiro.

Claro, trata-se de uma campanha de alcance muito maior, com valores incomparáveis. Mas precisamos encontrar uma forma de trazer essa ideia ao cinema independente brasileiro. Tivemos alguns exemplos recentes como “Marte um”, “Retratos Fantasmas” e “Elis e Tom”, de filmes que superaram a média de público de obras similares com campanhas de lançamento muito eficazes valendo-se das especificidades de cada obra. 

Um de nossos filmes para esse ano, “Prisão nos Andes”, é um filme de ficção chileno que fala sobre uma história real a respeito da ditadura chilena. Iremos lançar o filme aqui na semana de aniversário do Golpe do Pinochet, promovendo debates na imprensa e pós-sessões sobre esse momento da História em um momento ideal para isso, traçando um paralelo com a História recente brasileira e com o crescimento da extrema direita nos dois países. Iremos trazer o diretor do Chile para debater também. Já nosso documentário “Salão de baile - This Is Ballroom” fala sobre a cena ballroom fluminense e iremos promover diversas ações em conjunto com a cena ballroom local de vários Estados, com muitos eventos especiais e promovendo sessões seguidas de balls, replicando experiências positivas que tivemos durante a exibição do filme em festivais no Brasil e no mundo.

Esses são apenas dois exemplos pontuais das diversas formas que estamos trabalhando individualmente para potencializar de forma orgânica o interesse do público no momento de lançamento de cada obra específica.

Vocês já chegam na indústria com quatro fortes títulos para serem lançados, como está sendo essa "estreia" e como estão fluindo as conversas e negociações, tanto com produtores, tanto com exibidores e streamings? 

A estreia está sendo muito positiva. Acredito que muito devido ao aspecto complementar entre Felipe e eu. Eu venho da área da Produção, trabalhei anos como Executivo antes de abrir a minha produtora, a Multiverso, em 2018. Já o Felipe trabalha há muitos anos como distribuidor, com muitos cases de sucesso. Ou seja, o Felipe já tem uma relação estabelecida e muito aberta e positiva tanto com os exibidores quanto com streamings. O trabalho já é reconhecido e isso nos dá fácil acesso e confiança nas negociações. Já minha relação com a Produção gera um diálogo mais aberto e compreensivo com os Produtores, uma vez que eu sei, por experiências passadas, o que faz um produtor se sentir à vontade ou não com um distribuidor. Meu diálogo com a Produção tem contribuído para a aquisição de novas obras em diversos estágios, e o do Felipe com exibidores, para promover o interesse na circulação das mesmas, retirando qualquer receio que a negociação com uma empresa nova pudesse causar.  

Por isso, em todos os elos, estamos muito satisfeitos com a forma como as coisas estão caminhando e essa satisfação também é sentida em nossos parceiros.

Quais são as expectativas para a Retrato Filmes?

O primeiro passo foi o mais difícil, principalmente considerando a fase pela qual o mercado de distribuição passa, em um contexto de pós-pandemia e escassez de financiamento público, com o investimento em distribuição ainda preterido nos últimos editais do FSA e ignorado em diversos editais estaduais e municipais.

No entanto, a partir do lançamento de nossa carteira para 2024, as expectativas são a de continuar crescendo, com o foco no cinema independente brasileiro, e expandir a quantidade de obras e o alcance das mesmas ano a ano.

Também queremos passar a atuar de forma mais intensa em obras durante estágios mais iniciais, aprimorando ainda mais a relação com a produção e pensando a comercialização mais cedo, enquanto o filme ainda está em desenvolvimento.

Nesse sentido, já temos contrato de distribuição firmado com diversos projetos que se encontram em financiamento ou em pré-produção.

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