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17 Julho 2024 | Redação

Cabíria Festival chega a sua 6ª edição para celebrar mulheres e diversidade no audiovisual brasileiro

Evento, que é totalmente gratuito, acontece de 18 a 21 de julho entre o CineSesc e a ESPM, em São Paulo, e homenageará a cineasta Cristina Amaral

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Cena de "Ôrí", primeiro longa da homenageada Cristina Amaral (Foto: Divulgação)

O Cabíria Festival, encontro anual dedicado à representatividade feminina e à diversidade no audiovisual, chega a sua sexta edição com a exibição de filmes, encontros com cineastas, homenagens e atividades formativas. O evento, que tem toda a sua programação gratuita, acontece de 18 a 24 de julho no CineSesc e na ESPM, em São Paulo, e seguirá com uma exibição online com filmes pela Spcine Play para todo o Brasil até 4 de agosto.

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O 6º Cabíria Festival é realizado pela Laranjeiras Filmes e Sesc São Paulo, com patrocínio da Spcine e Lei Paulo Gustavo. Na edição deste ano, o CineSesc será palco da mostra de filmes e encontros com cineastas, enquanto a ESPM receberá as atividades de formação, entre elas masterclasses, painéis e palestras. Além disso, o festival estará em todo o Brasil através da plataforma Spcine Play.

O festival conta com uma seleção de 31 produções - entre longas, média e curtas – e, no CineSesc, concentra-se a Mostra Cabíria, com curadoria da pesquisadora e distribuidora Letícia Santinon e da jornalista e doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais (ECA/USP) Mariana Queen Nwabasili. Serão 15 obras distribuídas em sessões seguidas de encontros com cineastas e pensadoras, além de uma sessão especial no domingo, dia 21, às 15h, dentro do CineClubinho - indicada para todas as idades, que apresentará seis produções com classificação livre, entre elas duas animações.

Em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor, Vânia Matos, diretora e produtora executiva do festival, destacou que o recorte curatorial desta edição propõe o incentivo à liberdade para abrir os roteiros da história e borrar as fronteiras narrativas da realidade, incluindo filmes de ficção, documentário e obras que friccionam de maneira inventiva essas linguagens.

"A curadoria também buscou destacar a montagem, junto e para além da roteirização e da direção, como elemento criativo fundamental para o cinema. Percepção que parte dos filmes programados e irradia para a cineasta celebrada nesta edição: Cristina Amaral, uma montadora que atravessa e constrói a história do cinema brasileiro de forma irreverente e complexa, como uma curadora do material fílmico", completou.

Ano a ano o Cabíria Festival se consolida mais no calendário anual de eventos audiovisuais no país e, com a expectativa de cada vez mais ampliar o alcance e a contribuição para uma produção audiovisual mais interessada na diversidade e provocativa de mudanças na frente e atrás das telas, Marília Nogueira, idealizadora do Cabiria Prêmio de Roteiro e correalizadora do festival, celebrou o crescimento que acontece ano a ano. "É muito empolgante observar um festival que nasceu de um prêmio e valoriza as narrativas audiovisuais, suas autorias e expressividades diversas, crescer e criar raízes no calendário brasileiro", disse.

Entre os destaques da 6ª edição do festival estão os longas Fernanda Young — Foge-me ao controle, de Susanna Lira, que convida os espectadores a mergulharem na mente complexa e apaixonante da artista; a obra restaurada de ficção Sambizanga (1972), da célebre cineasta francesa Sarah Maldoror (1929-2020); e o documentário Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava, de Fernanda Pessoa, um filme de montagem que faz uma releitura histórica sobre o período da ditadura militar no Brasil retratada através de imagens e sons exclusivos das pornochanchadas, o gênero mais visto e produzido no país durante a década de 1970. Toda a programação é gratuita e está disponível no site do festival.

Já entre os curtas destacam-se a ficção científica Se eu tô aqui é por mistério, suspense de Clari Ribeiro, que conta com elenco estelar com Aretha Sadick, Zezé Motta, Helena Ignez, Bruna Linzmeyer e Lore Motta; Cabana, de Adriana de Faria, premiado como melhor curta da Première Brasil no Festival do Rio em 2023; o documentário Rami Rami Kirani, de Mawapãi Huni Kuin e Luciana Huni Kuin, sobre os aprendizados, as transformações e a força da ayahuasca através das mulheres da etnia Huni Kuin; e o experimental We began by measuring distance da cineasta e artista visual de origem palestina Basma al-Sharif. Os encontros com as cineastas contarão com mediadoras e debatedoras como a curadora Marcia Vaz, a ativista indígena Guarani, escritora e psicóloga Geni Núñez, a atriz Olívia Torres, a jornalista Soraya Misleh, entre outras convidadas.

Na sessão de abertura, que acontece amanhã (18), no CineSesc, serão exibidos os icônicos Ôri e Abá, da diretora Raquel Gerber, ambos com montagem de Cristina Amaral, a cineasta homenageada desta edição. Ôrí (1989) foi o primeiro longa da carreira da expoente montadora brasileira, que tem no currículo mais de 60 obras e 14 premiações. Ao longo de sua trajetória, Cristina trabalhou em parceria com diferentes cineastas, com destaque para Carlos Reichenbach, com quem colaborou em Alma Corsária (1993) e mais seis obras; o seu parceiro de vida e trabalho Andrea Tonacci,  com quem montou Serras da desordem (2006), entre muitos outros; além de realizadores contemporâneos como Adirley Queirós e Joana Pimenta, diretores do multipremiado Mato seco em chamas (2023); Jô Serfaty, no longa Um filme de Verão (2019) e Renata Martins no curta Sem asas (2019). Um encontro com as cineastas Cristina Amaral e Raquel Gerber está programado para o último dia do festival, com mediação das curadoras.

"Cristina Amaral é uma das montadoras mais premiadas no país ao longo de mais de 30 anos de carreira e 60 obras, sua filmografia é transversal à história do cinema brasileiro, sempre em parceria com diferentes e expressivos cineastas, pioneiros e contemporâneos, que marcaram o cinema nacional. Trazer à luz cineastas mulheres que fazem parte da construção do nosso cinema é um ato de valorização e de incentivo à visibilidade das autorias por trás das telas", destacou Vânia Matos.

A homenageada do festival também se disse feliz com a escolha de seu nome, afirmando que a homenagem se estende a todo o cinema brasileiro. "Este recorte da produção dedicado à participação feminina e da comunidade LGBTQIAPN+ permite reflexões, conversas sobre esses processos de criação e encontros importantes. Fico feliz e discreta com esta homenagem, porque considero sempre como uma homenagem a todo o cinema brasileiro e a todas as pessoas que trabalham com paixão pela existência dessa expressão no Brasil. E este afeto é sempre muito bem-vindo", disse.

Voltando a programação do Cabíria Festival, na sessão de encerramento, em 24 de julho, será exibida a obra Terminal Norte, média-metragem da cineasta argentina, Lucrecia Martel. Também neste dia, em evento de encerramento no Cineclube Cortina, serão feitas as premiações do 9º Cabíria Prêmio de Roteiro para a categoria de longa de ficção. A primeira colocada passará a integrar a cobiçada Rede de Talentos do Projeto Paradiso, instituição de promoção do audiovisual brasileiro. Haverá ainda o anúncio do Prêmio Selo ELAS Cabíria Telecine, que oferece ao projeto vencedor uma consultoria com especialistas das equipes Elo Studios e Telecine. O Prêmio Cardume Cabíria, em conjunto com a plataforma de streaming Cardume, premiará três roteiristas para o desenvolvimento de roteiros de curtas-metragens.

Diante do crescimento do evento, Vânia Matos destacou ao Portal Exibidor que enxerga os avanços no mercado audiovisual, em relação a representatividade e diversidade, com entusiasmo mas também ponderou que apesar de iniciativas como o Cabíria Festival, ainda falta um comprometimento maior do mercado e da cadeia produtiva.

"A articulação e manutenção de políticas públicas afirmativas e de iniciativas como o Cabíria Festival, que ecoam reivindicações antigas dos movimentos negro, feministas e LGBTQIA+, são fundamentais para promover e pressionar representatividades e diversidade na cadeia produtiva. Portanto, é importante que o mercado seja aliado dessas iniciativas, que investem em formação, ampliação profissional e artística para profissionais e conteúdos que serão absorvidos pela própria cadeia, e ainda falta um comprometimento mais intenso do setor nesse sentido", encerrou.

Além da exibição das obras e debates no CineSesc, a 6ª edição do Cabíria Festival também contará com uma programação formativa na ESPM, onde serão realizados encontros que promovem oportunidades para aprendizados e troca de conhecimentos. Para participar, é necessário se inscrever previamente através do site do festival. Entre essas atividades, destacam-se, duas masterclasses: com a pesquisadora e cineasta Nayla Guerra, que fará uma revisão da história do cinema brasileiro, colocando em primeiro plano filmes de curta-metragem dirigidos por mulheres no período da ditadura civil-militar, e com a roteirista Iana Cossoy Paro que, a partir de questionamentos, fará provocações que estimulem a escrita ou reescrita de relatos para o audiovisual.

Um bate-papo entre Duda Porto de Souza, head de conteúdo da Maria Farinha Filmes, e a cineasta e antropóloga Maira Bühler vai abordar como a formação em antropologia da cineasta compõe seus trabalhos como roteirista de longas e séries de ficção. A palestra com a cineasta e doutoranda em Comunicação Kariny Martins trará um olhar voltado aos filmes criados a partir da experiência colonial e as narrativas do cinema negro nacional. Já o estudo de caso com a escritora e roteirista Maria Elena Morán, as atrizes Ayomi Domenica e Heloísa Pires e a diretora de arte María Mesquita promoverá uma sessão comentada do filme Levante, onde será abordado o processo criativo de desenvolvimento e arranjos de produção da obra, que obteve o 1º lugar no Prêmio Cabíria, em 2018.

Ainda dentro do programação formativa, o filme Avenida Beira-Mar, de Maju de Paiva e Bernardo Florim, será tema de painel com participações da cineasta, Barbara Sturm, diretora da Elo Studios e criadora do Selo ELAS, juntamente com Gabriel Cohen, do Telecine, e Gabriel Corrêa e Castro, da Viralata Produções. O roteiro foi contemplado em 2020 com o Prêmio Selo ELAS Cabíria Telecine, que impulsionou a produção da obra, ainda inédita no Brasil. A programação de painéis inclui ainda o debate sobre os desafios de uma curadoria global e representativa, entre as curadoras da mostra de filmes do festival e a curadora chefe da Berlinale Shorts, Anna Henckel-Donnersmarck; o “Painel Globo - Melodrama: revisitações e representatividade”, com a diretora e roteirista Larissa Fernandes e a autora roteirista Renata Sofia, com mediação da jornalista Paula Jacob; e as oficinas de “Crítica Cinematográfica e Filmografias Feministas”, ministradas pelas jornalistas e críticas de cinema Flavia Guerra e Lorenna Montenegro, e de “Desenvolvimento e Internacionalização de projetos audiovisuais” com o especialista Adrien Muselet.

Também na programação, o Encontro LAB - Rádio Novelo Apresenta - “As possibilidades do áudio” reunirá as jornalistas Bárbara Rubira, Bia Guimarães e Carol Pires, com mediação de Branca Vianna, para contar histórias apuradas por elas e as estratégias narrativas usadas em cada pauta.

O festival é realizado pela Laranjeiras Filmes e Sesc São Paulo, com correalização da Ipê Rosa Produções, patrocínio da Spcine e Lei Paulo Gustavo, parcerias da Embaixada da França, Goethe-Institut Rio de Janeiro, MUBI, Projeto Paradiso, Telecine, ESPM, ABRA, Instituto Dona de Si e Café com Angu Filmes, e apoio cultural da Globo, Elo Estúdios, Selo ELAS, Ateliê Escreva Criatura, FRAPA, Etc Filmes, Serie LAB, Cardume Curtas, Final Draft, Cover Fly, Canal Curta, Imprensa Mahon, Revista Piauí e Agência Febre.

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