06 Junho 2024 | Yuri Codogno
Para além da "Diplomacia do Panda": China pretende expandir sua participação no audiovisual brasileiro
Gigante asiática apresentou diversas de suas soluções no Rio2C 2024
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Com um modelo político-social diferente do que habituamos chamar de Ocidente e com foco em atingir mais pessoas com suas políticas públicas, a China há anos vem crescendo sua influência global e, dependendo da métrica utilizada, já é a principal economia do mundo - apesar da liderança continuar com os EUA na lista oficial. E realizar parcerias comerciais com a gigante asiática se tornou algo de extrema importância não só para a China, como também para os países envolvidos.
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O Brasil, por sua vez, tem a China como seu principal parceiro comercial e ano após ano procura estreitar os laços. Não só por ambas as nações estarem no bloco econômico BRICS, mas ainda há muito mais que pode ser explorado nessa ampla relação comercial: o setor audiovisual. Há meia década que a bilheteria chinesa, mesmo com filmes lançados quase que exclusivamente apenas dentro de seu território, compete em pé de igualdade com a bilheteria estadunidense, demonstrando como o segmento audiovisual tem virado cada vez mais uma prioridade da China.
No Rio2C 2024, o painel “Vendo a China: Cultura, Possibilidades de Negócios e Programas Audiovisuais Chineses” visou debater um pouco mais sobre o assunto. Estiveram presentes: FENG Bo, representante da delegação do Pavilhão da China (CBIC); Samantha Wong, responsável pelo desenvolvimento de negócios globais e licenciamento de programação da Zoland Animation desde 2007; Claudine Bayma, diretora geral da Kwai no Brasil; e Leo Geng, supervisor das operações iQiyi na América do Norte e América Latina.
Antes da apresentação começar, Rafael Lazarini, CEO e fundador da Rio2C, abriu o painel para agradecer pela colaboração: “Nossa parceria começou em 2019, quando tivemos uma delegação chinesa. Mas a partir de agora, após passar a pandemia, teremos uma conexão ainda melhor do que tivemos antes. Hoje temos grande oportunidade de fazermos grandes negócios, o Brasil é um grande parceiro da China, hoje temos uma grande quantidade de produtos criativos chineses no Brasil. E por outro lado também temos uma oportunidade para os criadores poderem mostrar o seu trabalho para a China”.
Diferente do habitual, o painel foi apresentado em blocos, com cada palestrante falando um pouco sobre sua especialidade e empresa que está representando no Brasil. O texto também seguirá por esse modelo.
Jing Yanhui
Responsável por ser o primeiro da delegação a falar, Jing Yanhui é conselheiro comercial da República Popular da China no Rio de Janeiro. Ele falou brevemente, mas ressaltou o interesse da China em fazer parcerias criativas com o Brasil.
“Em 2023, o presidente chinês Xi Jinping propôs alguns fatos novos onde colocou que precisamos fortalecer laços no setor de criatividade com outros países. Então estamos aqui no Brasil promovendo essa relação e há um entendimento mútuo que a parceria será interessante. É muito fundamental que nossos esforços de comunicação sejam muito grandes para que possamos interagir com o mercado brasileiro. Estamos recebendo muitos produtos e serviços de brasileiros em nossa cultura. Estamos também avaliando como passar os filmes brasileiros em nosso país, então estaremos aqui aptos a compartilhar nosso conhecimento com vocês”.
Claudine Bayma
Diretora-geral do Kwai no Brasil, Claudine começou ressaltando o objetivo da empresa: dar luz para milhões de pessoas que têm talento e passam despercebidos pela falta de oportunidade. Não é sobre a Rihanna, mas sim sobre a cantora que mora no interior do Brasil e faz covers maravilhosos da cantora.
Além disso, a executiva destacou que a empresa é chamada de “Kawai” apenas no Brasil, abraçando o modo de como os brasileiros receberam a marca, enquanto a pronúncia original (Kwai, igual o nome sugere) foi mantida no resto do mundo. Inclusive, em abril do ano passado foi realizado um rebrand total do grupo no país. E não só isso, visto que o Brasil é o país número um para a Kwai Technology (apenas depois da China, claro), mesmo com a América Latina sofrendo influência do mercado estadunidense e europeu. A empresa estrategicamente optou por vir da China diretamente para o Brasil, sem fazer escala em outros mercados, como é costume, de modo que o território brasileiro é o principal investimento da companhia fora de seu país natal.
São R$ 7 bilhões investidos na plataforma no Brasil, com 60 milhões de usuários ativos mensais. Diferentemente de outras redes sociais, em que os usuários são “scrollers” (apenas rolam o feed, não assistindo completamente o conteúdo), quem utiliza o Kwai é “clicker” (clicando mais em determinado conteúdo para poder ver completo), algo que é observado também nos números: são 65 min em média, por usuário, gasto por dia na plataforma.
E o investimento da empresa em nosso território não para por aí, indicando que tem muito mais por vir, visto que já patrocinaram o Big Brother Brasil, A Fazenda, o Brasileirão, Seleções Brasileiras de Futebol, entre outros. E nos filmes? São 110,6 bilhões de visualizações em conteúdos relacionados a filmes e séries.
Leo Geng
Especialista responsável pela supervisão das operações da iQiyi na América do Norte e América Latina, Leo Geng deu bons motivos para que o mercado brasileiro tenha mais aderência ao audiovisual oriental, especialmente o da China. A iQiyi é a plataforma de streaming líder no país chinês e vem evoluindo desde sua fundação, em 2010.
"Com abordagem inovativa com produções originais e para branding, essa história de sucesso começou a crescer quando a empresa começou a ser oferecida na bolsa de valores em 2018. Então decidimos ir globalmente. Nosso objetivo é produzir filmes e séries globais", disse Leo, que acrescentou que a iQiyi é a quinta plataforma de streaming que mais vem apresentando crescimento global.
A plataforma possui modelo gratuito, além do premium, e está disponível em 191 países, com diferentes opções de idiomas e legendas. É considerada a casa do conteúdo asiático, incluindo vencedores de bilheterias em seus países de origem. Uma de suas produções, inclusive, venceu o Cannes voltado para TV, com a série To The Wonder.
Samantha Wong
A China também se garante nas animações, é o que mostrou Samantha Wong, responsável por todo desenvolvimento de negócios globais de uma das maiores companhias de animação do país, a Zoland Animation.
"Brasil e China tem uma grande troca de culturas e estamos vendo como podemos trazer nossas animações para o Brasil. A Zoland foi fundada em 2013 e temos hoje uma grande atuação internacional e expansão da cultura internacional", contou Samantha.
A executiva também mostrou que a empresa possui 61 animações originais e, somando todos seus conteúdos, são 170 mil minutos de animação produzidos. Além disso, indicou que a empresa está em mais de 50 canais de televisão aberta (a maioria na China) e que suas animações são exibidas em mais de 100 países, incluindo França, Rússia e Coreia do Sul.
“Percebemos que temos grande oportunidade no território de vocês para trazer conteúdo para o público brasileiro”, completou Samantha, acrescentando que a empresa já trabalha com grandes parceiros internacionais, como Youtube, Amazon e Nickelodeon, e que a intenção é também trabalhar com marcas brasileiras.
FENG Bo
Por fim, quem se apresentou foi FENG Bo, representante da delegação do Pavilhão da China (CBIC), e foi bem sucinto: “Estávamos muito comprometidos quando viemos para esse evento, porque não sabíamos muito como ia ser. Mas estamos muito felizes porque vimos que tem muitas pessoas que gostam de nossa cultura”.
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