15 Maio 2024 | Yuri Codogno
Lyara Oliveira: "É importante manter o foco em questões de diversidade, equidade, profissionalismo e democratização do acesso"
No cargo desde março deste ano, presidente da Spcine conversou com o Portal Exibidor sobre o futuro da empresa
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A Spcine, empresa pública da cidade de São Paulo com foco no fomento ao cinema e desenvolvimento audiovisual paulistano, realizou no início deste ano a troca de sua presidência. Viviane Ferreira, que ocupou a cadeira entre fevereiro de 2021 e o mesmo mês de 2024, deu lugar a Lyara Oliveira, antes diretora de Inovação e Políticas do Audiovisual da Spcine.
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No cargo desde março deste ano, Lyara Oliveira conversou com o Portal Exibidor sobre as expectativas, prioridades, desafios e outras questões da Spcine. A entrevista pode ser lida na íntegra no final da matéria.
“Estou tendo a oportunidade de seguir com boa parte do trabalho que já tinha ajudado a desenhar dos programas e dos projetos da Spcine. Ter essa oportunidade de assumir a presidência, já tendo estado também nos últimos anos integrando a diretoria, é uma grande satisfação, porque acaba sendo a confirmação de um trabalho que já vem sendo feito. Receber essa oportunidade é sem dúvida uma validação de um trabalho que já vem sendo desenvolvido”, contou a presidente.
Doutora em Meios e Processos Audiovisuais pela Universidade de São Paulo e profissional do audiovisual há mais de 20 anos, Lyara terá pela frente alguns desafios, especialmente por ser um ano de eleições municipais, de modo que, caso uma nova gestão assuma à prefeitura, mudanças de pessoal e de metas devem atingir a Spcine.
“Para todas as empresas que são públicas, é sempre um grande desafio lidar com a mudança dos ciclos de gestão. Mas estamos confiantes de que vamos conseguir cumprir com o que foi desenhado, com o que está planejado. As equipes estão trabalhando bastante focadas para que consigamos cumprir tudo que foi projetado e que a gente consiga seguir com uma estabilidade para dar continuidade para todas as nossas programações, para todas as nossas atividades”, explicou.
Se em um primeiro momento há esse grande desafio, existem também as prioridades da Spcine nesses primeiros meses da Lyara no cargo, que são essas entregas relacionadas à prefeitura. Além disso, a executiva enxerga que é necessário fortalecer os programas da Spcine que são contínuos, assim como buscar possíveis melhorias. Alguns desses programas são o Circuito Spcine, a Film Commission, lançamento dos editais, o Observatório Spcine e ações de formação.
“Nós estamos buscando mudar algumas situações de alguns programas fixos que temos que foram criados por decreto, estamos desenvolvendo projetos de leis para dar ainda mais credibilidade, sustentabilidade e perenidade para esses programas que são fixos, buscar atingir as metas que estão desenhadas e, ao mesmo tempo, também começar a desenhar novos desejos, novas metas, novas programas”, ressaltou Lyara.
Em relação aos objetivos de curto a longo prazo, eles se conectam com os três braços em que a Spcine trabalha: a questão da gestão pública, por ser uma entidade de uma prefeitura; o desenvolvimento da indústria audiovisual local; e ações para os munícipes de São Paulo, atendendo suas demandas e também oferecendo atividades aos paulistanos.
Segundo Lyara, é muito importante fazer com que todos esses braços de atuação da Spcine estejam atendidos de uma forma eficiente, mas também conseguir atingir a promoção por igual dos profissionais da indústria. Buscar um setor audiovisual diverso que preze pela equidade, pelo profissionalismo e que consiga entregar e produzir conteúdos diversos e profissionais que cheguem ao público é essencial: “É muito importante manter sempre esse foco pensando questões de diversidade, equidade, profissionalismo, democratização do acesso, descentralização dos acessos. Todos esses elementos norteiam muitas das nossas atividades aqui na Spcine”.
A presidente da Spcine também deu seu parecer sobre o atual momento do audiovisual em todo o Brasil, que atravessa sua melhor fase desde 2020. Nosso país, após enfrentar diversas dificuldades, agora está com o setor plenamente operante, mas as empresas ainda estão em recuperação, visto que enfrentam os reflexos do que foram os últimos anos.
Para Lyara, além da necessidade da continuidade das políticas de fomento ao setor audiovisual e legislações sólidas, é preciso também ter um olhar mais amplo que consiga enxergar outras nuances do segmento, como o bem-estar dos profissionais: “É importante que o setor prime pela saúde emocional dos seus profissionais, pela segurança emocional, pela segurança física, pela segurança institucional desses profissionais para que realmente tenhamos um setor pleno, operante, dentro de todo o seu potencial e que seja próspero, que seja perene, que de estabilidade para os profissionais e para as empresas que atuam nesse setor”.
Leia a entrevista na íntegra:
Após três anos, a presidência da Spcine mudou de mãos. Quais as expectativas para esse novo momento?
As expectativas estão apaziguadas. Estou tendo a oportunidade de seguir com boa parte do trabalho que já tinha ajudado a desenhar, dos programas e dos projetos da Spcine. Ter essa oportunidade de assumir a presidência, já tendo estado também nos últimos anos integrando a diretoria, é uma grande satisfação, porque acaba sendo a confirmação, a afirmação, a ratificação de um trabalho que já vem sendo feito. Então ter a possibilidade de seguir fazendo esse trabalho, de dar continuidade às ações e programas tão importantes, de poder fazer ajustes que são necessários também nesses programas e nessas ações para que a conclusão deles seja ainda mais assertiva é uma grande oportunidade. E receber essa oportunidade é sem dúvida uma validação de um trabalho que já vem sendo desenvolvido.
Quais estão sendo suas prioridades neste início de gestão?
As prioridades neste momento estão todas focadas na conclusão das entregas que precisam ser feitas. Nós temos metas a serem alcançadas, metas internas da empresa e também metas relacionadas à essa gestão que está na Prefeitura de São Paulo, agora do prefeito Ricardo Nunes, então estamos trabalhando bastante para conseguir concluir essas metas, finalizar os programas que foram abertos, e ao mesmo tempo fortalecer os programas da Spcine que são contínuos.
Então os nossos programas que já acontecem e que vão continuar acontecendo, como o Circuito Spcine, Film Commission, lançamento dos editais, o nosso observatório, nossas ações de formação, a nossa política de games, fortalecer todas essas ações que já estão no escopo da empresa. E como que estamos buscando fortalecer essas ações? Buscando fazer com que elas estejam bem encaminhadas, que elas estejam bem concluídas, que elas estejam com programas bem resolvidos.
Nós estamos buscando mudar algumas situações de alguns programas fixos que temos que foram criados por decreto, estamos desenvolvendo projetos de leis para dar ainda mais credibilidade, sustentabilidade e perenidade para esses programas que são fixos, buscar atingir as metas que estão desenhadas e, ao mesmo tempo, também começar a desenhar novos desejos, novas metas, novas programas.
Neste momento, qual o maior desafio para a Spcine?
É correr contra o tempo. Estamos num ano de fim de gestão, é um ano eleitoral, daqui a pouco entraremos em período eleitoral, então teremos algumas limitações com relação às nossas atividades, principalmente as nossas atividades de comunicação. Essa corrida para conseguir cumprir as metas, entregar os projetos, entregar o que começamos a desenhar lá atrás e que já está sendo construído, ter tempo, conseguir tempo, ter habilidade em lidar com o tempo que temos para conseguir cumprir tudo isso. Acho que o nosso grande desafio é esse.
Para todas as empresas que são públicas, é sempre um grande desafio lidar com a mudança dos ciclos de gestão. E isso sempre é bastante complexo, porque muda muita coisa, muda muita gente nas equipes da gestão, mas estamos confiantes de que vamos conseguir cumprir com o que foi desenhado, com o que está planejado. As equipes estão trabalhando bastante focadas para que consigamos cumprir todas as nossas definições, tudo que foi projetado, que a gente consiga cumprir com as nossas entregas e que a gente consiga seguir com uma estabilidade para dar continuidade para todas as nossas programações, para todas as nossas atividades.
A curto e longo prazo, quais são os objetivos da Spcine?
Os objetivos da Spcine estão todos relacionados aos nossos braços de atuação. A Spcine tem três braços de atuação e temos que estar plena e completa nas nossas atividades nesses três braços de atuação.
A Spcine é uma empresa pública, então tem o seu papel enquanto ente que faz parte de uma gestão de uma organização maior, que é a Prefeitura de São Paulo, então é muito importante conseguirmos atender a própria gestão da cidade de São Paulo, aos nossos projetos institucionais, as nossas atividades institucionais que estão diretamente relacionadas à prefeitura, conectada à ações da prefeitura.
O nosso outro braço de atuação é sem dúvida o setor audiovisual. Então como a Spcine se relaciona, como fomenta, como dá suporte, como incentiva o setor produtivo do audiovisual na cidade de São Paulo - que são as empresas, as produtoras, os profissionais, as empresas de finalização, de animação, os estúdios, empresas de locação de equipamento, emissoras. Enfim, como nos relacionamos com esse setor, como ajudamos esse setor a estar cada vez mais forte, a estar cada vez mais formalizado, institucionalizado e como articulamos também essa conexão entre o setor audiovisual e a gestão pública. A Spcine fica exatamente nesse papel intermediador dessas duas grandes ações que é cumprir o seu papel institucional e ao mesmo tempo cumprir o papel de desempenho de como é que nós damos suporte, atenção e fomento ao setor audiovisual.
O nosso terceiro braço de atuação, onde estão também os nossos objetivos, é como atender à população de São Paulo. Como a Spcine, enquanto uma empresa pública, atende aos munícipes, aos cidadãos da cidade de São Paulo. Nós temos alguns programas que lidam direto com com as pessoas da cidade de São Paulo que são: o Circuito Spcine, que são as nossas salas de cinema; o nosso projeto de Agenda Cineclubista, que realiza as sessões de cinema nos mais variados espaços da cidade; a nossa plataforma SP Cineplay. Enfim, esses são os nossos programas que conversam com as pessoas, conversam diretamente com o público.
Então um dos nossos objetivos muito importantes é fazer com que todos esses braços de atuação da Spcine estejam atendidos de uma forma eficiente, de uma forma eficaz e de uma forma responsável. Ao mesmo tempo, um outro objetivo muito importante para nós é a promoção de um setor audiovisual, aí falando mais especificamente de um setor audiovisual diverso que preze pela equidade, que preza pelo profissionalismo, que consiga entregar e produzir conteúdos também diversos, conteúdos altamente profissionais, conteúdos que cheguem ao público. Então pensar diversidade, equidade, profissionalismo… acredito que esses são grandes objetivos que temos traçado e que perpassam todas as nossas atividades.
Desde as nossas atividades institucionais, passando também pelas nossas atividades e o nosso relacionamento com o setor audiovisual e com os profissionais do audiovisual e também na promoção e difusão dos conteúdos audiovisuais que acontece exatamente nesse outro braço da Spcine que é na sua relação com o público. Então é muito importante manter sempre esse foco pensando questões de diversidade, equidade, profissionalismo, democratização do acesso, descentralização dos acessos. Todos esses elementos norteiam muitas das nossas atividades aqui na Spcine.
Como você avalia o atual momento do audiovisual nacional? Na sua visão, quais são os próximos passos que nossa indústria deve dar?
Nós já vislumbramos um momento muito melhor do que o que vivemos nos últimos anos. Felizmente o setor voltou a operar com quase força total depois de um período de pandemia, de um período de muitas dificuldades e de escassez de recursos. Nesse momento, temos um setor plenamente operante, então se produz muito, os profissionais estão trabalhando, mas nós ainda estamos vivendo os reflexos de um período que foi muito difícil.
As produtoras e as empresas ainda estão muitas em recuperação, os profissionais estão entendendo e se atualizando para esse novo setor, esse novo mercado que se instituiu pós-pandemia, entendendo novas tecnologias, novos processos de produção, novos processos de distribuição e difusão dos conteúdos. Então acredito que nós ainda estamos passando por uma fase de adaptação, mas com certeza rumo a um cenário muito melhor do que o que nós vivemos durante esses anos de pandemia.
Acredito que nós vamos não só alcançar os resultados que estávamos alcançando em 2019, mas que nós vamos superar. Acredito que o setor vai seguir crescendo e se desenvolvendo e é importante que esse crescimento aconteça de forma saudável e sustentável para as empresas, que não fiquemos vivendo momentos de bolha e de grande entusiasmo que depois deságuam em períodos de muita dificuldade de escassez. O mais importante é fazer com que essas empresas retomem todo o seu potencial e siga avançando, porque uma coisa que também nos foi mostrado, mesmo nesse período de escassez e dificuldades, é que a demanda por conteúdo, por comunicação audiovisual, continua alta e tende a crescer.
Para que a gente alcance essa prosperidade dentro do setor audiovisual, é importante que exista continuidade das ações, continuidade das ações de fomento ao setor audiovisual, legislações sólidas que o nosso setor ainda carece e a busca dessa construção desse mercado de profissionais, um mercado que seja realmente diverso, que seja justo, onde as pessoas possam trabalhar bem e viver bem do resultado dos seus trabalhos, onde os profissionais possam seguir se atualizando, seguir estudando e tentando compreender e dar conta desse desse mundo contemporâneo que é tão complexo, que tem tantas camadas, que tem tantas diferentes atividades que um profissional tem que conhecer e que nos demanda muito também do nosso lado emocional.
Entender também que é importante que o setor prime pela saúde emocional dos seus profissionais, pela segurança emocional, pela segurança física, pela segurança institucional desses profissionais para que realmente tenhamos um setor pleno, operante, dentro de todo o seu potencial e que seja próspero, que seja perene, que de estabilidade para os profissionais e para as empresas que atuam nesse setor.
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