02 Abril 2024 | Yuri Codogno
"Uma Família Feliz" reúne Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini em filme que mescla terror, drama e suspense
Portal Exibidor conversou com o diretor Belmonte e com os produtores Juliana Funaro a René Sampaio, da Barry Company
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Na próxima quinta-feira (4), entra em cartaz Uma Família Feliz (Pandora Filmes), longa nacional que traz Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini em uma mescla de suspense com drama e terror. O Portal Exibidor conversou com o diretor José Eduardo Belmonte e com os produtores Juliana Funaro e René Sampaio, da Barry Company, que falaram sobre o lançamento e também sobre o futuro da empresa.
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Na trama, Eva acabou de dar à luz o seu terceiro filho e se depara com a angústia de uma depressão pós-parto em meio a uma vida burguesa supostamente perfeita. O ar tranquilo de sua família feliz, entretanto, é invadido por acontecimentos estranhos quando suas filhas gêmeas aparecem machucadas, de modo que Eva é acusada e atacada pela comunidade.
“Gosto de misturar os gêneros, experimentar gêneros, mas quem predomina é o suspense. Também acontece muito pelo ponto de vista da personagem, muito pelo psicológico da personagem principal. Mas sempre achei que tem uma abordagem de filme de terror; é um terror que acontece dentro da cabeça, é um terror psicológico. Me apropriei um pouco e importei outros gêneros para cá”, disse Belmonte, sobre suas influências.
O filme começou a ser trabalhado, em sua concepção e pré-produção, ainda antes da pandemia, fazendo com que as filmagens só pudessem ocorrer após o fim da crise sanitária global. “Na verdade, existe na produtora desde 2017, captamos o filme completamente em 2019 para filmar em 2020. Então logicamente tivemos que fazer alguns arranjos de produção porque tinha um filme com um budget de 2017. Mas tivemos a felicidade de montar uma equipe muito bacana em Curitiba. Então o filme foi integralmente filmado em Curitiba, o que permitiu que a gente imprimisse um valor de produção muito bacana”.
Além da questão de conseguir fazer algo fora do eixo Rio-São Paulo, a produção entende que todo o processo foi uma boa surpresa e também foi de encontro com essa busca de dar espaço para outros estados e regiões do país no cenário audiovisual nacional. Assim, novos atores, sotaques e experiências chegaram para agregar criativamente no projeto.
Um ponto também relacionado com o adiamento é que muitos dos temas tratados no filme - e até mesmo a forma da narrativa - foram ficando cada vez mais atuais, fazendo com que o tempo fizesse bem à trama.
“É um projeto que o Belmonte trouxe lá atrás e achei que já estava muito bacana. Gostei muito do projeto junto com o [roteirista] Raphael Montes e é engraçado como ele ganhou uma atualidade que ele não tinha… tem isso às vezes, né? Quando começou, não era tão atual como ele virou agora”, explicou René.
Um dos grandes destaques são as atrizes-mirim Luiza Antunes e Juliana Bim, que interpretam as filhas gêmeas do casal protagonista. Presentes em boa parte do filme e ajudando muito a levar a trama para a frente, ambas conseguiram se destacar mesmo atuando junto a atores consagrados, como a Grazi e o Reynaldo.
Belmonte: “Elas entendem muito o jogo lúdico, elas entendem muito processo, então isso foi muito incrível. Teve uma preparação muito grande da Ariela Goldmann, especificamente das crianças. Mas é um barato porque elas entendem essa parte do cinema lúdico, que às vezes certas coisas se conseguem só com a imaginação. E elas também têm o dom, né?”.
Para Juliana, trabalhar com as crianças também foi um grande diferencial, especialmente em um filme de terror, um gênero que a Barry Company nunca havia produzido. "Precisa de uma inteligência de produção para isso, porque as meninas tiveram um preparo com um psicólogo e psicopedagogo. Tivemos que colocar como se fosse uma coisa muito lúdica, elas não podiam entender, de fato, qual era a história do começo até o final. Então foi muito impressionante como elas participaram de toda aquela história de terror como se fosse uma grande brincadeira”.
Outro grande desafio mencionado foi a questão de manter a tensão durante as aproximadas duas horas de filme, algo que os gêneros de terror e suspense exigem. Entretanto, foi necessário manter uma certa delicadeza na condução, tratando uma história tão pesada com suavidade. Como foi destacado, é algo que faz parte do estilo do roteirista Raphael Montes, que trabalha com um pouco do choque, com a provocação. A direção da história, porém, precisou estar em um lugar diferente, visando equilibrar os tons.
Um Família Feliz está entrando em cartaz no melhor momento do cinema nacional no pós-pandemia. Após passar quatro anos sem um lançamento brasileiro vender mais de um milhão de ingressos, nos últimos meses tivemos três que ultrapassaram essa barreira: Minha Irmã e Eu (2,3 milhões), Nosso Lar 2 (1,6 milhão) e Os Farofeiros 2 (1,3 milhão), esse último ainda em cartaz.
Além disso, o market share do cinema nacional subiu de menos de 5% do ano passado para mais de 30% em 2024, provando que as produções brasileiras estão reconquistando seu espaço.
“Por mais que eu estude isso - e estudo mesmo -, nunca sabemos o que acontece exatamente quando esses fenômenos acontecem. Mas o que é bom de ressaltar é que [o público] está finalmente voltando para o cinema nacional. Foi o que mais demorou depois da pandemia a recuperar, mas agora está voltando e as pessoas estão voltando para o cinema também, não só para o cinema nacional”, comemorou Belmonte.
Inclusive, Uma Família Feliz entrar em cartaz nesse bom momento mexe com as expectativas de lançamento. Se fosse ano passado, talvez não haveria esperanças de bons números, diferente de agora, que todo o mercado está mais otimista para os filmes brasileiros.
“A gente aposta que [Uma Família Feliz] tem muita chance de se comunicar bem com o público e que vai ser uma jornada de sucesso. Hoje sabemos que os lançamentos não se esgotam na janela de cinema, então em breve ele também vai poder estar nas outras janelas para que o acesso seja multiplicado. Mas estamos apostando tudo nesse lançamento de cinema porque acreditamos que, por esse filme ser de gênero, tem uma comunicação e tem um público específico que pode se interessar”, completou René.
A produção, inclusive, já teve até proposta dos Estados Unidos e da Áustria, com negociações que estão acontecendo nesse momento.
Por fim, Uma Família Feliz é um filme que, por ser de nicho, deve encontrar um público que anseia por esse tipo de lançamento. Ter grandes nomes do mercado, apesar de terem escolhido por uma questão artística, também é um trunfo para auxiliar no alcance do longa. O atual momento do cinema nacional, também vale destacar, é de valorizar a diversidade - não apenas social, mas também de novos espaços e de gêneros, com opções para todos os gostos.
“O filme tem um grande apelo. É um gênero muito sensorial, de muita catarse também, o público brasileiro procura muito no cinema hoje. A gente vê que essas filmografias de mercados mais maduros construíram muito em cima de outros gêneros também. Qualquer economia, qualquer mercado trabalha com essa lógica [de diversificação]”, completou Belmonte.
Mais sobre a Barry Company
Quais outros projetos para cinema a Barry Company está trabalhando?
JULIANA: Temos mais de dois, alguns que infelizmente não podemos falar ainda, mas tem Capão Pecado, que é uma adaptação do livro do Ferréz, que está num desenvolvimento bem avançado e quem vai dirigir é o Renê. Temos também Oração do Pecador que já está desenvolvido e que já fechei os parceiros, a nossa ideia é filmar até o início do ano que vem, que é um filme do Homero Olivetto, que é de terror também, e que fechamos parceiros internacionais, estou com dois coprodutores.
Temos um terceiro filme sobre o qual podemos falar que é O Filho de Mil Homens, que vai ser dirigido pelo Daniel Rezende e que é uma coprodução com a Biônica.
O que vocês podem dizer sobre o futuro da Berry Company na indústria audiovisual?
JULIANA: Diria que a palavra-chave da Berry é “internacionalização”. A gente vem aumentando consideravelmente os parceiros internacionais, sempre foi uma coisa que buscamos. Então é um DNA muito forte da produtora e acho que a gente vem se internacionalizando. Claro que temos muitos projetos com streamings, estamos na quinta temporada de Impuros, temos Amor da Minha Vida, com a Disney, temos projeto com a Amazon, temos projetos com Netflix. Temos projetos com quase praticamente todos os players. Então tem um lado nosso de produção para o streaming, como acho que quase todas as produtoras médias e grandes. Mas acho que particularmente vejo uma internacionalização muito crescente da produtora nos próximos cinco anos.
RENÉ: Temos um DNA de contadores de história que buscam fazer projetos que artisticamente são relevantes e que também se comunicam com o público, como no caso de Impuros e Amor da Minha Vida, esse que é com a Bruna Marquezine. Estamos buscando a comunicação direta do público, como fizemos com Faroeste Caboclo e com Eduardo e Mônica, que tiveram sucesso no cinema e quando foram lançados. Mas que também tenham relevância artística e isso é o tripé que continuaremos utilizando no nosso line-up, na escolha dos projetos que a estamos fazendo, e também é o que se liga à internacionalização.
E pensar nisso é pensar na longevidade de qualquer produção…
RENÉ: Sempre foi assim: “vamos fazer o filme para lançar no cinema, depois vai passar, sei lá, na Tela Quente e depois vai virar DVD”, então sempre existiu algum caminho dos projetos para além do cinema.
Mas hoje está muito evidente que esse caminho é muito importante ser pensado desde o início, desde o princípio, sem perder a janela premium - a mais importante para mim -, que é a janela do cinema. E é a janela do produtor, onde o produtor se coloca à prova e hoje, pelo menos pessoalmente, tem uma satisfação imensa em exibir os projetos.
E acho que faz parte de uma estratégia inteligentíssima investir um dinheiro de lançamento num filme do cinema. Se você observar, quase todos os filmes mais assistidos nos streamings tiveram um bom lançamento de cinema. Então o lançamento no cinema com força só beneficia todas as outras janelas.
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