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08 Março 2024 | Redação

"O Último Animal" retrata cotidiano carioca e relação com jogo do bicho: "Nossa história para o mundo"

Filme aborda corrupção, lavagem de dinheiro, crime organizado e narcotráfico na tentativa de criar identitarismo nacional com o público

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(Foto: Divulgação)

O Último Animal (Cinecolor) estreou nas salas de cinema brasileiras ontem (7) e é um filme que traz uma visão das entranhas do crime organizado e narcotráfico nas favelas do Rio de Janeiro, apresentando também uma reflexão sobre a dinâmica do jogo do bicho neste cenário. Em coletiva de imprensa, o Portal Exibidor teve a oportunidade de conversar com o protagonista Junior Vieira e os produtores Carlos Andrade e Felipe Bretas, que destacou a oportunidade, e também a importância, de mostrar uma narrativa totalmente brasileira para todo o mundo, e sob o nosso próprio olhar.

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O filme, que é dirigido por Leonel Vieira, é uma produção portuguesa (Volf Entertainment) em co-produção com o Brasil (Visom Digital e Multiphocus) e aborda questões como lavagem de dinheiro, envolvimentos de grandes empresários no mundo do crime, policiais corruptos e os mandos e desmandos de políticos no Rio de Janeiro. Em todos os momentos, a produção aborda temas sociais latentes e, durante a trama, Didi (Junior Vieira) é um jovem contador recém-formado que luta para escapar das garras do crime em sua comunidade. No entanto, seu desejo por uma vida melhor o leva a descobrir que está indiretamente ligado a Casimiro Alves (Joaquim de Almeida), um poderoso "chefão" do jogo do bicho no Rio de Janeiro. O filme mergulha profundamente na trama de violência, narcotráfico e corrupção, tendo a deslumbrante paisagem da cidade maravilhosa como pano de fundo.

"A crítica que o filme faz sobre a questão da periferia versus a sociedade é muito interessante, por mais que a gente analise pessoas pretas na favela e segurando armas. Essa é a realidade atual, mas a forma de olhar isso é inédita e o filme foi feito de uma forma que ainda não estamos acostumados a ver no Brasil. A história é sobre como os poderes e nossas alianças são muito mais fortes e passam por cima de tudo e de todos. O filme faz uma crítica social muito contundente sobre isso e sobre como o jogo do bicho perpassa por esses espaços de forma muito livre", destacou Junior Vieira.

O Último Animal é um filme inspirado em fatos reais - em uma reportagem jornalística mais especificamente - que obviamente se utiliza de artifícios ao se ficcionar e romantizar a história, mas um fato interessante é a participação do ator inglês Duran Fulton Brown. Ele dá vida a Alex na trama e não fala português e, Felipe Bretas, um dos responsáveis pela pré-produção do filme, falou de como a produção pode se beneficiar dessa variedade linguística.

"O objetivo de fazer um filme falado em mais de um idioma, obviamente mostra que ele foi pensado não apenas para o mercado brasileiro, mas para ser um filme internacional. Tanto é que a gente foi selecionado em festivais internacionais", disse.

O filme, inclusive, foi nomeado para Melhor Filme Estrangeiro no Festival de Cinema de Gramado, Melhor Longa-Metragem na última edição do Los Angeles Brazilian Film Festival, também integrou a seleção oficial do Madrid International Film Festival deste ano.

Diante do bom momento que o cinema brasileiro vive, levando milhões de pessoas para prestigiarem produções nacionais nas salas escuras, Junior Vieira destacou que as expectativas estão altíssimas, mas também falou sobre a dificuldade que produtoras e estúdios brasileiros enfrentam para distribuir seus filmes e concorrem contra as grandes majors.

"Em 2023, tivemos vários filmes nacionais lançados e conseguimos levar muitas pessoas aos cinemas. Mas depois da pandemia tivemos uma baixa muito grande nas salas de cinema, também pelo crescimento dos streamings, mas é importante termos histórias nacionais, com nossos atores abordando um tema muito relevante e atual como esse. A gente tem o entendimento da importância da sala de cinema e infelizmente vimos muitos cinemas de rua virando igrejas evangélicas nos últimos anos. (...) É importante para nós que somos artistas independentes e as próprias produtoras que não são tão grandes como as gigantes, é importante colocar um filme de qualidade e com boa narrativa nos cinemas. A nossa grande questão é a distribuição, pela própria questão de valores. A gente sabe que não consegue disputar como uma Marvel da vida que tem US$ 200 milhões só para distribuir o filme, então perpassa por isso também. Mas estou muito feliz por poder levar nossa obra para os cinemas brasileiros", afirmou.

Felipe Bretas seguiu a mesma linha e falou da dificuldade de disputar espaço no mercado contra as majors, mas também destacou que o cinema nacional tem a capacidade única de contar sua própria história e criar um sentimento de pertencimento com o público.

"É uma tarefa complexa de Davi contra Golias. Nós estamos disputando com uma máquina, uma indústria que é Hollywood e está há anos fazendo essa hegemonia cinematográfica. Mas também acho que estamos em um momento propício e temos que incentivar o cinema local. Hollywood é incrível e não tenho nada contra Hollywood artisticamente, eles fazem filmes maravilhosos. Mas Hollywood não tem a capacidade de fazer um filme sobre o jogo do bicho, então é uma realidade muito particular e única que realmente só nós conhecemos. É uma história de nicho e somos nós que temos que mostrar ela para o mundo, assim como O Poderoso Chefão contou uma história da máfia italiana que fez a formação de Las Vegas, nós temos que contar a história da máfia local que fez o maior espetáculo da Terra. Vamos lembrar que o jogo do bicho é financiador do Carnaval do Rio de Janeiro no sambódromo, então é uma história que merece atenção. Meu apelo é para que a audiência local vá assistir o filme e valorize o cinema que é produzido aqui, porque são narrativas únicas. Depois pode até assistir a Marvel nos streamings, mas assiste a gente também nos cinemas para valorizar o que é produzido aqui", desabafou.

Por fim, Carlos Andrade, que é CEO da Visom Digital, falou sobre a possibilidade de o público se reconhecer nas telas ao prestigiar uma produção nacional. "No cinema, o curador é o público e ele que vai dizer se o filme é bom. O boca a boca pode transformar um filme pequeno como Marte Um em um filmaço, e nós esperamos a mesma coisa desse público. É uma narrativa diferente de Marte Um, mas também traz a questão identitária e acho isso muito relevante para o cinema como um todo. O cinema é nosso espelho e traduz nossa cultura, e isso traz uma perspectiva diferente para quem assiste e uma noção de identidade. É muito importante que as pessoas vão ao cinema pois estão carentes de uma identidade que não se pode encontrar em super-heróis que não tem relação com nossa história. Precisamos de heróis de verdade na luta pela sobrevivência no mundo cão que é o retrato do nosso dia a dia", encerrou.

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