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12 Fevereiro 2024 | Redação

"Betânia", longa filmado inteiramente no Maranhão, estreará no 74º Festival de Berlim

Filme brasileiro é estrelado apenas por atores maranhenses e traz reflexões sobre o impacto da destruição da natureza e consequência das mudanças climáticas

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(Foto: Divulgação)

Betânia, novo longa do diretor Marcelo Botta, fará sua estreia no 74º Festival de Berlim, que acontece entre os dias 15 e 25 de fevereiro. O filme, que será apresentado ao público em seis sessões dentro do programa da Panorama, sessão favorita do público, também compete em diversas premiações do festival, incluindo o Prêmio da Audiência e o prestigiado GWFF, entregue ao Melhor Primeiro Longa de todo o festival.

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O programa Panorama, onde o longa será apresentado ao público, é conhecido por apresentar filmes extraordinários sempre em busca do que há de novo, ousados, pouco convencionais e selvagens no cinema atual. "Uma seleção de filmes em que é possível encontrar talentos jovens de todo o mundo e trabalhos mais recentes de cineastas renomados", nas palavras da própria organização do evento.

O filme mostra a história de Betânia, uma mulher de 65 anos que depois de enterrar seu marido, morto em decorrência da falta de energia elétrica, busca na comunidade a força para reinventar sua forma de viver no isolado povoado dos Lençóis Maranhenses. Movida pelo som ancestral do Bumba Meu Boi, Betânia luta para manter o sentido de identidade, enquanto tradição e modernidade colidem. Tal como as flores que insistem em brotar no período mais árido, Betânia e sua família tentam renascer, enquanto o mundo acaba.

Em sua primeira visita ao Maranhão, a intenção de Marcelo Botta era apenas fazer uma pesquisa de campo, mas a sinergia de toda a equipe fez com que as filmagens começassem em apenas um mês. O longa foi rodado em 25 diárias, divididas em duas épocas distintas, acompanhando o período de cheia e de seca dos Lençóis Maranhenses. Betânia, inclusive, encontrou sua inspiração em um trabalho anterior do diretor, que realizou uma série documental inspirada em pessoas que viviam em lugares isolados da Amazônia, Patagônia, Atacama, Bolívia, Peru e Colômbia. Um dos episódios acabou sendo filmado nos Lençóis Maranhenses e contava a história de Dona Maria do Celso, moradora da Ponta do Mangue que inspirou a concepção de Betânia.

"Nunca esqueço da lúcida revolta da líder comunitária dos Lençóis Maranhenses ao falar de seu marido, que foi morto pelo sal. Morto pela dieta que é consequência de uma vida sem energia elétrica. Três anos mais tarde, durante a pandemia, compreendi ainda mais a revolta de Dona Maria, pois me sentia impotente diante do genocídio que acontecia no Brasil", afirmou o diretor.

O elenco do filme, inclusive, é composto exclusivamente de moradores e moradoras do Maranhão – inclusive os personagens franceses são interpretados por imigrantes que moram lá há 10 anos –. Diana Mattos, atriz que interpreta a protagonista da trama, é funcionária pública em São Luís e palhaça em apresentações para o público infantil. Sua única aparição no cinema foi em um plano detalhe de sua mão no filme Carlota Joaquina. Já para o papel do menino Antônio Filho, Botta conta que sentia que tinha que ser um morador dos Lençóis e, na fase de pré-produção, a equipe encontrou Ulysses Azevedo na praça, durante uma festa de Natal da prefeitura de Santo Amaro do Maranhão.

Outro destaque do elenco é Tião Carvalho, músico maranhense de Cururupu. Ele é o grande nome do Bumba Meu Boi do Morro do Querosene e um dos responsáveis por levar o Boi do Maranhão para São Paulo. Tião Carvalho voltará à Berlim pela terceira vez, nas outras duas foi para se apresentar como músico - uma vez antes da queda do muro e outra depois - e agora volta para brilhar como ator no Festival de Cinema.

A música, aliás, tem um papel fundamental em Betânia, que conta com mais de 60 momentos musicais dentro do filme, entre toadas de Boi compostas e interpretadas por cantadores do povoado, Reggae Remixes, Incelenças e Tambor de Crioula, entre outros gêneros. "O Maranhão tem uma riqueza cultural gigantesca! Saber que vamos botar gente do mundo inteiro pra sentir o pandeirão do Boi batendo lá no fundo do coração nos deixa realmente emocionados", afirmou Botta.

Apesar de o filme trazer uma reflexão sobre a destruição do rio, a salinização e consequências do aquecimento global, o diretor explicou que não se trata de um filme pessimista. "A duna que desvia o rio que destrói casas em um povoado isolado é o prenúncio de uma tragédia climática que está batendo na porta de todo mundo. O sal que matou o marido de Betânia é, de certa forma, a representação da má gestão da pandemia que matou tantos brasileiros. A revolta de Dona Betânia é a nossa revolta. Mas, assim como as flores que surgem nos Lençóis na época da seca, Betânia e sua família renascem", destacou.

Betânia é uma produção da Salvatore Filmes, produtora de Marcelo Botta e Gabriel Di Giacomo, que completou 10 anos em 2023. O longa conta com a coprodução do Canal Brasil e recebeu apoios de Projeto Paradiso, SpCine, CreativeSP e da Embaixada do Brasil em Berlim.

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