02 Janeiro 2024 | Yuri Codogno
Apesar do sucesso de "Barbie", mulheres representaram apenas 16% dos diretores em 2023
Levantamento considerou os 250 filmes de maior bilheteria do ano passado
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Dois diferentes estudos lançados neste início de ano mostram que a representatividade das minorias sociais no cinema se manteve baixa em 2023. Barbie (Warner) pode até ter sido a maior bilheteria global do ano passado, mas a diretora Greta Gerwig continua no grupo minoritário de pessoas no cargo de direção, visto que, dos 250 filmes de maior bilheteria de 2023, as mulheres representaram apenas 16% dos diretores. As informações são da Variety.
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Em comparação com 2022, houve uma queda de 2%, pois ano retrasado as diretoras representaram 18% dos filmes de melhor arrecadação. A única melhoria - e bem modesta - foi vista em relação à lista dos 100 filmes de maior bilheteria, que subiu de 11% em 2022 para 14% em 2023. Os dados foram revelados ontem (1) pelo Centro para o Estudo das Mulheres na Televisão e no Cinema da Universidade Estadual de San Diego.
Com US$ 1,441 bilhão arrecadado, Barbie se tornou a maior bilheteria da história de filmes dirigidos por mulheres. Segundo o Box Office Mojo, aliás, é a primeira vez desde 2000 que um filme comandado por uma cineasta alcança o posto de maior arrecadação do ano. Por falta de uma compilação de dados mais assertiva, Greta Gerwig pode ter sido a primeira mulher da história que dirigiu um filme de maior bilheteria em um ano (muitos longas do século passado não possuem dados somados de arrecadação nos EUA e nos demais países). De qualquer forma, esse recorte de mais de duas décadas já é suficientemente impressionante.
O fato de Barbie ter sido a maior bilheteria de 2023 deve ser comemorado, porém pode passar uma mensagem equivocada sobre a indústria: “É a ilusão definitiva, o triunfo merecido de Greta Gerwig desmente a desigualdade que permeia a indústria cinematográfica convencional. A proporção de gênero nos bastidores de Hollywood continua dramaticamente distorcida em favor dos homens”, disse a Dra. Martha Lauzen, autora do relatório e fundadora e diretora executiva do Centro, em um comunicado.
No geral, ano passado as mulheres representaram 22% de todos os diretores de fotografia, roteiristas, produtores, produtores executivos, editores e diretores de fotografia que trabalharam nos 250 filmes de maior bilheteria - um declínio em relação aos 24% em 2022. Além disso, 75% dos filmes de maior bilheteria empregaram dez ou mais homens em cargos importantes nos bastidores, enquanto apenas 4% tiveram pelo menos dez mulheres nas mesmas ocupações.
Sobre os outros cargos dos bastidores, desses 250 filmes com maior arrecadação em 2023, as mulheres representaram 26% dos produtores, 24% dos produtores executivos, 21% dos editores, 17% dos roteiristas, 14% dos compositores de trilha-sonora e 7% dos diretores de fotografia.
O estudo também descobriu que em filmes com pelo menos uma diretora mulher, mais mulheres foram contratadas para cargos importantes nos bastidores do que em filmes com diretores exclusivamente homens. Quando as mulheres ocupavam a direção, 61% dos roteiristas, 35% dos editores, 10% dos diretores de fotografia e 26% dos compositores eram mulheres. Nos filmes com diretores homens, as mulheres representavam 9% dos roteiristas, 18% dos editores, 7% dos diretores de fotografia e 11% dos compositores.
O outro estudo é da USC Annenberg e foi divulgado hoje (2). Além de ressaltar a mesma discrepância entre os gêneros, a pesquisa também revelou que, em relação aos grandes estúdios, a Universal foi quem mais contratou diretoras, com quatro cineastas. Disney e Lionsgate, com três cada, vem na sequência. Em um recorte maior, os últimos 17 anos apresentam um cenário ainda mais crítico. A Universal teve um total de 9,2% de mulheres diretoras, seguida por Warner (6,6%), Sony (6,3%), Disney (6,1%) e Paramount (1,6%).
Na questão étnica, a pesquisa da Annenberg mostrou também que apenas quatro mulheres de etnias sub-representadas dirigiram um dos 100 filmes de maior bilheteria de 2023, sendo três asiáticas – Adele Lim (Loucas em Apuros), Celine Song (Vidas Passadas) e Fawn Veerasunthorn (Wish) - e uma negra: Nia DaCosta (As Marvels).
Ainda em relação à etnia, agora envolvendo todos os gêneros, foram apenas 26 diretores etnicamente diversos entre os 100 filmes de maior bilheteria, representando 22,4%. Foram 14 asiáticos, oito negros, dois hispânicos/latinos e dois cineastas multiétnicos.
“Este relatório oferece um contraste com aqueles que podem comemorar o início da mudança em Hollywood depois de um ano em que Barbie liderou as bilheterias. Um filme ou um diretor simplesmente não são suficientes para criar a mudança radical que ainda é necessária por trás das câmeras. Até que os estúdios, executivos e produtores alterem a forma como tomam decisões sobre quem está qualificado e disponível para trabalhar como diretor em filmes de maior bilheteria, há poucos motivos para acreditar que o otimismo seja justificado”, ressaltou o estudo em nota.
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