15 Dezembro 2023 | Renata Vomero
Em modelo transnacional, "Almost Deserted" mira no mercado latino dentro dos EUA
Dirigido por José Eduardo Belmonte, longa foi filmado em Detroit e é falado em três línguas
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Acabaram recentemente as filmagens de Almost Deserted, novo longa dirigido e coproduzido por José Eduardo Belmonte e que chega com uma proposta bastante estratégica. Produzido dentro de um modelo transnacional, envolvendo produtoras brasileiras, latinas e estadunidenses, o filme foi filmado nos Estados Unidos e conta com elenco variado, sendo falado em três idiomas distintos (português, espanhol e inglês).
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A produção ficou por conta de por Rodrigo Sarti Werthein, com produção da ACERE, em coprodução com We Are Films (Nova Iorque) e Filmes do Impossível. Assinam o roteiro Belmonte, Carlos Marcelo e Pablo Stoll (Whisky).
Para garantir ainda mais a diversidade de línguas e maior alcance do longa, o filme é estrelado pela atriz armênio-americana Angela Sarafyan (Westworld), pelo ator uruguaio Daniel Hendler (O Abraço Partido) e pelo brasileiro Vinícius de Oliveira (Central do Brasil). Além de Angela, Daniel e Vinícius, o elenco conta com Alessandra Negrini, Thaís Gulin, Virginia Lombardo e Deborah Chennault Green.
Com tamanho time e os atributos já listados no início deste texto, Almost Deserted desenha uma estratégia que tem como objetivo não só o sucesso no Brasil e nos países latinos, mas também destes mercados dentro dos Estados Unidos, tendo em vista a força da comunidade latina no país.
“O mercado latino nos EUA é imenso e, a meu ver, pouco representado em seu drama cotidiano. Eu acredito que essa identificação em uma produção brasileira e americana, com diferentes nacionalidades envolvidas na frente e atrás das câmeras vai ter um impacto relevante na entrada do Almost Deserted em circuitos inéditos nos EUA e no mundo latino em geral”, comentou o produtor Rodrigo Sarti, que já se prepara para lançar mais projetos dentro deste modelo.
É interessante analisar que, mesmo o filme tendo este grande potencial fora do Brasil, essa estratégia também tem impacto dentro do nosso país, já que o cinema nacional vendo encontrando resistência do público desde a retomada pós-pandemia. Desta forma, muitas vezes, o longa precisa trilhar uma carreira fora do país para, assim, encontrar um espaço maior de visibilidade aqui dentro. Além, claro, de se beneficiar comercialmente do sucesso que possa fazer em outros territórios.
“O cinema brasileiro vive uma questão crônica. É um país grande com um mercado pequeno. E ainda: O Brasil ocupa pouco espaço nesse mercado . É um muro que estamos tentando transpor há tempos. Penso que devemos seguir tentando ocupar o que é nosso por meio da profissionalização, leis... mas em condições adversas é preciso procurar expandir, avançar, achar outras formas de pular o muro. Procurar parceiros e tipos de projetos nos quais ele pode ter outras janelas além do Brasil. Ultrapassar fronteiras. Por isso, a internacionalização”, comentou José Eduardo Belmonte.
Ambos os profissionais destacam que o filme, mesmo passando por toda essa estratégia, obviamente, só se sustenta dentro de uma boa dramaturgia, uma história que provoque e seja instigante, carregada pelo bom elenco.
E é essa a proposta de Almost Deserted, que conta a história de dois latinos ilegais e uma americana que testemunharam um assassinato numa Detroit apocalíptica e quase inabitada. Ou seja, um prato cheio para a tela grande.
E para realizar essa proposta tão interessante, Belmonte foi a fundo em suas pesquisas sobre histórias transnacionais, pensando justamente em uma forma mais intrigante de contar uma história que trouxesse todos esses elementos e se mantivesse interessante e cativante e ainda fugisse de outras histórias do tipo.
“A ambição desse movimento é mais ampla, mas muito pragmática. Expandir a fronteira, fazer o Brasil dialogar com os vizinhos. Tanto artisticamente como nos negócios. Ter um DNA brasileiro muito marcante, ou seja, criar as histórias com o Brasil como tema e no protagonismo, mas se relacionando, com temas de interesse comum a outros países. Criar histórias orgânicas em que personagens são obrigados a se relacionar com estrangeiros e, nesse processo, se discute por exemplo , como é o caso do Almost Deserted, a relação com as Américas latina e anglo-saxã. Nesse sentido, a questão do Brasil ser o único país que fala português na América pode ser um trunfo, não um problema. Sair do isolamento é sempre um bom conflito, uma boa dinâmica para contar histórias. Importante que para esses projetos eu trago uma expertise de filmar de forma objetiva. Como falei, é ambicioso, mas pragmático”, contou o cineasta.
Aliás, para ser filmado em Detroit, nos Estados Unidos, a produção precisou da liberação do SAG-AFTRA, sindicato de atores de Hollywood, que acabou de sair de uma greve histórica. Sendo este um filme independente, sem amarras com os grandes estúdios, que protagonizaram as negociações, Almost Deserted conseguiu sair na frente em uma Hollywood, aí no perdão do trocadilho, quase desértica.
“O processo foi de registro do roteiro no Copyright Office e apresentação de projeto de produção com cronograma e orçamento. Foram muitas semanas esperando a aprovação pois o volume de pedidos era enorme e o SAG jamais se estruturou para essa demanda. Uma vez aprovado tudo correu bem”, explicou Sarti.
E aí vem um outro ponto muito interessante e importante, tendo em vista o impacto das greves, e aí incluindo também a de roteiristas, são justamente essas produções independentes e de menor orçamento que devem estar disponíveis em um futuro próximo para o mercado de aquisições e para lançamento nos cinemas, ocupando um vácuo que ainda será deixado pelas grandes produções.
“Existe uma lacuna enorme nos filmes e séries ano que vem. Vai ser muito interessante ver como essa demanda vai ser preenchida. Creio que é um momento muito interessante de mostrar um outro cinema possível, que possa coexistir sem ser apagado ou engolido pelas grandes produções. Esteticamente e narrativamente é um refresco ver filmes autorais com grande foco narrativo e comunicação com público, como é Almost Deserted, ganhar espaço nas telas. Ainda mais se finalmente aprovarmos a Cota de Tela no Brasil”, reforçou o produtor.
Dito isto, os próximos planos para o filme é que ele tenha uma boa presença nos diversos festivais ao redor do mundo, já que, assim, deve chamar atenção de grandes exibidores nacionais e internacionais, garantindo também uma forte presença no circuito, para tentar buscar sucesso comercial e de público, claro.
“É um começo. A concretização de uma ideia. A possibilidade de um filme transnacional já não me parece mais tão distante. Se Almost Deserted despertar o interesse de outros mercados, ainda que sejam negócios de cifras de menor impacto, mas com bastante gente, já será um belo primeiro passo”, finalizou Belmonte.
O filme ainda não tem data de estreia confirmada nos cinemas e ainda não foi anunciada a distribuidora responsável pelo lançamento.
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