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20 Novembro 2023 | Yuri Codogno

Décadas de 2010 e 2020 concentram mais de 80% dos filmes nacionais dirigidos por pessoas negras

Levantamento levou em consideração 1.086 filmes, entre longas e curtas-metragens

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(Foto: Divulgação)

Segundo a pesquisa Cinemateca Negra, uma publicação sobre a história do Cinema Negro sob a perspectiva de filmes dirigidos por pessoas negras no Brasil entre 1949 até 2022, as décadas de 2010 e 2020 concentram 83% de todos os filmes com direção de cineastas afrodescendentes. Desta forma, o levantamento mostra que durante as décadas passadas, a população negra tinha ainda menos espaço na indústria audiovisual do que atualmente - que ainda está bem aquém do cenário ideal. 

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A pesquisa é uma realização do NICHO 54, instituto que apoia a carreira de pessoas negras em posições de liderança criativa, intelectual e econômica na indústria, e foi coordenada por Heitor Augusto, pesquisador responsável pela concepção, organização e edição da publicação. O pré-lançamento da Cinemateca Negra aconteceu na última sexta-feira (17), em São Paulo, durante a programação oficial do festival negro de cinema NICHO NOVEMBRO.

O levantamento da Cinemateca Negra demonstrou que 1.086 filmes (entre longas e curtas-metragens com pelo menos quatro minutos de duração) foram produzidos desde 1949, mas que até os anos 1960 apenas seis filmes haviam sido dirigidos por pessoas negras. Entre 1970 e 1990, a média sobe para 19 produções por década. Já nos anos 2000, o número vai para 117, com a década de 2010 chegando a 586 filmes e, finalmente, de 2020 até 2022, são 337 produções.

A pesquisa também apontou um recorte considerando o tipo de produção – curtas e longas – por década. A proporção dos longas dirigidos por pessoas negras por década é de: 23,8% nos anos 1970; 55% nos anos 1980; 11,7% nos anos 1990; 8,5% nos anos 2000; e pouco mais de 10% nas décadas de 2010 e 2020.

“Chama a atenção a importância percentual dos longas-metragens nesse período. Uma das hipóteses com a qual trabalhamos diz respeito à transformação do caminho de uma pessoa negra rumo ao longa. Até os anos 1980, antes de chegar ao longa, o profissional acumulava significativa experiência em funções como produção, continuísta, roteiro, atuação, cenografia e cinegrafia. Realizar um longa depende de muitos fatores que podem revelar tetos de oportunidade baixos para negros. O crescimento no número de longas produzido também se refere a maiores oportunidades”, explicou Heitor Augusto.

Em relação à metodologia, o levantamento foi inédito em utilizar um meio próprio para categorizar gênero e raça, que foi além da autodeclaração, método usado em levantamentos como o do IBGE. “Tudo foi feito com intenso rigor técnico, respeitando a literatura construída pelas humanidades, mas também entendendo a complexidade do tema, adaptando caminhos", revelou o pesquisador.

A Cinemateca Negra começou a ser produzida em março deste ano e teve como fonte de pesquisa festivais, mostras de cinema, retrospectivas e sessões especiais, além de cursos de cinema e audiovisual, cursos livres, formações técnicas e workshops de realização. Também foram consultadas coletâneas em DVD e Blu-ray, artigos acadêmicos, livros de entrevistas e coletâneas, Hemeroteca Digital Brasileira, notícias e matérias online. Repositórios digitais de cinematecas, acervos pessoais e o contato direto com o realizador de determinada produção ou seus descendentes também foram levados em consideração.

A publicação completa será lançada em 2024 em versão impressa bilíngue, contará com outros seis gráficos que apresentarão novos dados ligados aos formatos das produções, identidade de gênero dos realizadores e os cargos ocupados por eles (direção, codireção).

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