09 Novembro 2023 | Renata Vomero
Festival Varilux de Cinema Francês tem meta de crescer público e defender a diversificação do cinema
14ª edição do festival conta com 19 títulos na seleção e acontece entre hoje (9) e 22 de novembro em todo o Brasil
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Inicia hoje (9) a 14ª edição do Festival Varilux de Cinema Francês, um dos mais importantes do gênero no país e já presença constante na agenda dos cinéfilos brasileiros. Em uma edição marcada pela reconstrução do apetite pelo cinema francês e independente, são mais de 19 títulos na seleção e uma importante homenagem à diva do cinema francês, Brigitte Bardot, a grandiosa BB, como era chamada.
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A curadoria filmes é formada por uma coleção de histórias que exemplificam o cinema francês no seu melhor: diverso e heterogêneo. Ou seja, navegando entre o drama, o romance, o terror, o suspense, a comédia e a animação, há opções para todos os gostos, sendo uma oportunidade perfeita tanto para os admiradores da sétima arte francesa, tanto para aqueles que desejam se expor ao cinema francês, mas não sabem ao certo por onde começar. Para tal, foram reunidas produções de nove distribuidoras, todas elas independentes, que normalmente já trabalham com o cinema independente.
“Cada vez mais o festival está no radar deles, porque hoje o Varilux faz mais ingressos do que a própria distribuição, dependendo do filme, claro. Na última edição percebemos que o festival teve uma força e alcance muito maior, já que chegamos em cerca de 50 cidades, e um filme menor com uma distribuição comum, chegaria em 15 ou 20”, destacou Christian Boudier, curador e diretor do festival, que complementa o cuidado com as escolhas: “reivindicamos o direito à avaliação dos títulos, para chegar na qualidade máxima e para que o público pense que sempre vai gostar de qualquer filme do festival, é para conquistar a confiança do público”.
E realmente não são poucos os destaques da seleção deste ano, a começar pelo ganhador da Palma da Ouro em Cannes, Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet, com exibição inédita para todo o Brasil, com exceção de São Paulo, onde o filme fez parte da Mostra de Cinema. Outro título que chama atenção é Making Of, de Cédric Kahn, em uma história metalinguística sobre a indústria de cinema. Também se destaca As Bestas, direção do espanhol Rodrigo Sorogoyen , e que também se destacou em Cannes e no Goya. Dois títulos interessante para entrar no radar do público e exibidores são Culpa e Desejo, de Catherine Breillat, e O Desafio de Marguerite, de Anna Novion.
A lista de destaques se estende por toda a seleção de filmes, como bem apontou Christian, tendo em vista a força da curadoria realizada. Nesse sentido, sendo profundos observadores da cinematografia francesa a cada ano, fica inevitável tentar entender quais temáticas e sentimentos despontam entre os cineastas da região neste momento atual.
“Vi menos ansiedade do que nas edições anteriores, pessoas querem falar mais de superação, isso aparece em O Astronauta, em O Desafio de Marguerite e em Making Of até, em todos esses filmes a gente teve essa impressão, pode ser que não reflita uma tendência geral, mas gostamos. Ainda têm filmes com temáticas muito presentes na França, na sociedade, como o problema da violência sexual, do incesto, enfim. A gente nunca procura uma certa temática, vai surgindo de forma espontânea, mas percebemos que essa é uma edição mais alegre comparando com algumas que já tivemos”, afirmou o diretor.
A partir disso, é imprescindível retomar a conversa contínua sobre a importância de um evento como o Festival Varilux para a formação de público nos cinemas, especialmente falando na produção independente de fora do eixo de Hollywood e, incluindo também, a nacional.
Os números no Brasil em 2023 apontam para resultados preocupantes para a indústria, evidenciando um domínio de mais de 90% de Hollywood tanto em presença no circuito, quanto em venda de ingressos. Em dados trazidos pela própria organização do festival, em 2022, foram 546.167 espectadores para o cinema francês no Brasil, uma queda de 65% com relação a 2019, ano que antecede a pandemia, e ficando entre os piores indicativos fora do país.
Consciente disso, o Varilux vem criando ações de democratização com sessões gratuitas ou a preços populares, outra estratégia é fortalecer o marketing e divulgação do evento por meio das parcerias realizadas, entendendo a importância de tornar o festival conhecido do público. Por último, a importância de parcerias com os exibidores, incluindo as grandes redes (Cinépolis, Cinemark, Kinoplex e Cineflix), fazendo aumentar a capilaridade do evento em todo o Brasil. Com isso, o Festival Varilux está presente em 50 cidades, quase 100 cinemas e com mais de 4 mil sessões, o que gerou a meta de chegar a 100 mil espectadores nesta edição.
Para tal, inclusive, os organizadores até toparam mudar o evento de data, saindo de junho, quando normalmente realizava as exibições, para entrar em novembro, período sem grande concorrência dos blockbusters de verão.
“O Brasil precisa enxergar esse problema com atenção, da diversidade. Entendemos que a prioridade seja o cinema brasileiro, mas a diversidade também é um objetivo importante. Na França tem verbas para atender a promoção de filmes independentes e até estrangeiros, isso é muito importante. O que o Varilux faz não é só trazer o cinema francês, mas também o modelo de defesa do cinema”, complementou Christian.
Com isso fica evidente que o principal objetivo do festival é fazer essa frente pela diversificação da indústria, trazendo o próprio mercado francês como exemplo. Com cotas de telas aprovadas há anos e apoio para as distribuidoras independentes, o cinema francês respondeu, em 2022, por 40,9% dos ingressos vendidos no país, sendo 40,5% para Hollywood, e o percentual restante, de quase 20%, para o cinema estrangeiro.
“A defesa dos cinemas é fundamental aqui. Para nós, o objetivo número 1 é o público, mostrar que se tem possibilidade de lotar salas com um cinema diferente, é fundamental para o Brasil, para o cinema francês e independente, para o mercado brasileiro”, concluiu.
Confira os detalhes no site do evento.
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