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11 Outubro 2023 | Gabryella Garcia

"Meu Nome É Gal" apresenta conflitos internos da cantora durante movimento Tropicalista

Filme mostra transformação de Maria da Graça, a Gracinha, em Gal Costa, e também sua espantosa ascensão durante o período da ditadura militar

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(Foto: Stella Carvalho)

Meu Nome É Gal (Paris Filmes) chega aos cinemas no dia 12 de outubro mostrando toda a complexidade e profundidade da cantora que é considerada uma das maiores vozes da história do nosso país. Ao contrário de outras recentes cinebiografias como Mussum, O Filmis (Downtown/Paris) e Nosso Sonho (Manequim Filmes), que contam do início ao fim da vida dos personagens, as diretoras Dandara Ferreira e Lô Politi optaram por trazer momentos decisivos da vida de Gal, desde quando decide deixar Salvador no final dos anos 1960 até se consagrar como uma das maiores artistas brasileiras na década seguinte.

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Na trama, além da transformação de Maria da Graça Penna Burgos Costa em Gal Costa, quando começa a despontar como a principal voz feminina do Tropicalismo, também é mostrada a relação da cantora com outros grandes nomes, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Tom Zé e Dedé Gadelha, mulher de Caetano e que ganha grande destaque no Tropicalismo e no filme. O Portal Exibidor teve a oportunidade de assistir o filme e conversar com as diretoras Dandara e Lô, além de Sophie Charlotte, que dá vida a Gal na produção. Dandara Ferreira, inclusive, explicou a opção pelo recorte de um momento específico da vida da cantora.

"Foi um grande desafio porque estamos falando da história de uma das maiores cantoras e intérpretes da Música Popular Brasileira. E não falamos apenas da Gal neste filme, é uma homenagem também aos amigos. O filme fala sobre os encontros desse coletivo e desde o começo a gente achava que tinha que pensar em um recorte. A gente achava que era importante aprofundar a história e o recorte foi justamente essa transformação da Maria da Graça, a Gracinha, em Gal Costa. O começo dela, da transformação dela como mulher e como artista, porque depois, o que vem do resto da carreira da Gal, já está consolidada nesse lugar de Gal Costa. Então foi justamente mostrar esse lugar de transformação dessa mulher e dessa artista", destacou a diretora.

Sobre a decisão de mostrar as vulnerabilidades da cantora e também explorar seus conflitos internos, Lô Politi falou que a intenção sempre foi fugir do óbvio e do que geralmente é mostrado em produções biográficas.

"Dizer que o conflito da Gal é a timidez é uma simplificação muito grande e o conflito dela é muito mais profundo e interno. Então a gente queria um filme que fosse levado pelo movimento interno desta personagem e que não fosse o que é mais comum e óbvio em uma cinebiografia, que é um filme que é levado pela carreira e pelos pontos de fracasso e sucesso. A gente queria o corpo para dentro, então optamos por esse momento dessa furada de bolha da Gal e nesse cenário que é a Tropicália, que é o movimento cultural mais forte, incrível e rico que o Brasil já teve. É um momento de um movimento contracultural absolutamente necessário", explicou.

O filme, vale destacar, é quase todo ambientado no período da ditadura militar e consegue mostrar de forma muito assertiva como os artistas do Tropicalismo enfrentavam esse acirramento da ditadura com prisões, torturas e exílios. Gil e Caetano, inclusive, saem do Brasil, mas Gal Costa fica. Sophie Charlotte falou da importância da cantora para o movimento e também sobre como foi construir essa personagem.

"Foi um processo muito longo e de muitas camadas a construção da personagem. Ela tinha muita sensibilidade e talvez nosso filme conte um pouco através dos olhos dela como ela viveu aquele momento e como transitou e absorveu tudo o que estava acontecendo e transformou na sua obra e na sua arte. Ela se colocou no mundo de forma tão revolucionária e firme e o nosso nosso intuito era realmente prestar uma homenagem respeitosa e à altura dela, mostrando como uma artista consegue se expressar de maneiras não necessariamente tão verbais e através de um discurso claramente politizado na palavra, mas também na atitude, no corpo e nas escolhas", disse.

Por fim, Dandara Ferreira também falou sobre a essência feminina da produção, que, além das duas diretoras, também conta com quatro mulheres assinando o roteiro. Ela destacou a intencionalidade de mostrar a voz feminina dentro do movimento da Tropicália, mas ressaltando que toda a feminilidade do filme aconteceu de forma orgânica e natural. Uma grande preocupação foi evidenciar o papel de Gal Costa dentro do movimento.

"Sempre me incomodou muito porque quando a gente vai falar sobre a Tropicália estamos falando de um grupo que é bem masculino, mas a Gal foi a voz da Tropicália. Sempre me incomodou muito porque quando você vai pesquisar, não é muita coisa que você acha porque muitos documentos dessa época foram perdidos na ditadura, mas a gente só acha as vozes masculinas falando sobre o movimento. É sempre Gil ou Caetano - e não estou falando que isso é ruim -, mas sempre quis ouvir um pouco mais o que a Gal, que estava tão inserida ali, tinha para dizer e quais foram as vivências dela. No filme a gente conseguiu trazer esse olhar da Gal que pode não ter sido através do discurso diretamente, como os meninos tiveram participação mais política através do discurso, mas você vê a importância dela e essa voz política através das músicas, do corpo e isso está perfeitamente no filme", finalizou.

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