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06 Outubro 2023 | Gabryella Garcia

ESG deve ser normalizado no audiovisual: “A preocupação na pandemia ajudou a tornar a sustentabilidade mais sexy”

Painel da Expocine discutiu como setores do mercado audiovisual podem aderir a agenda ESG

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(Foto: Mariana Pekin)

Um dos temas mais falados e discutidos nos dias de hoje é o ESG, que nada mais é do que uma política de governança ambiental, social e corporativa que busca avaliar até que ponto uma empresa está trabalhando em prol de objetivos sociais que vão além de maximizar os lucros por parte de seus acionistas. O painel ESG no audiovisual, que abriu o último dia da Expocine 2023, buscou refletir acerca da aplicação desta política dentro da indústria cinematográfica.

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O painel contou com a presença de Cinthia Gherardi, diretora de relacionamento e comunicação do Sistema B, Débora Ivanov, produtora e sócia da produtora Gullane, e Marilha Naccari, diretora-presidente da Associação Cultural Panvision. A mediação foi feita pelo jornalista da Revista Exame, Rodrigo Caetano, que destacou o impacto econômico que o setor audiovisual tem na sociedade, além da potência de conseguir incluir pessoas de grupos minorizados em seus projetos.

Acerca do tema da inclusão, Débora Ivanov destacou uma iniciativa da Gullane que, no ano de 2006, criou uma escola de audiovisual na região de Santos, no litoral de São Paulo, para que jovens pudessem aprender etapas de produção e desenvolvimento de roteiros. "Hoje já são 17 anos e 40 jovens capacitados por ano com mais de 600 horas de aula. Eles estão até produzindo longas e também criamos o Núcleo Conexões para buscar postos de trabalho para a inclusão desses jovens no mercado", destacou.

Cinthia Gherardi ainda lembrou que a temática ESG começou a ganhar mais força a partir do ano de 2020 e teve um "boom" durante a pandemia de Covid-19, com as empresas passando, além de mitigar os impactos negativos de suas ações, também a pensar em promover impactos positivos. "Essa preocupação na pandemia ajudou a tornar a sustentabilidade mais sexy, porque era muito nichada e vista como aquela pessoa 'ecochata', mas a partir do momento que o mercado financeiro abriu os olhos para o futuro e começou a exigir métricas reais das empresas, as coisas começaram a mudar".

Ainda de acordo com a diretora do Sistema B, é importante que se pense na sustentabilidade como um todo, levando em consideração todas as pessoas que serão impactadas por um negócio - ou uma produção, no caso do audiovisual. Além disso, também é essencial pensar na representatividade racial e de gênero e em quais cargos essas pessoas ocupam dentro das organizações. "Essas pessoas precisam estar em cargos de liderança que vão promover uma mudança e não apenas garantir uma espécie de cota. Esses pilares de sustentabilidade e diversidade precisam gerar uma educação real na ponta e a Maria Farinha é um exemplo de produtora que quer mudar comportamentos na sociedade, influenciar de forma positiva as regiões de suas filmagens e sempre traz essa provocação", completou.

Ela também fez questão de pontuar que o conceito ESG não deve assustar as empresas envolvidas na cadeia da produção audiovisual, mas sim incentivar para que elas comecem a olhar para dentro de seus projetos e façam diagnósticos e planos de ação que avaliem os impactos na sociedade. Cinthia afirmou que a auto-avaliação deve servir como uma espécie de bússola para que as empresas consigam implementar novas políticas para tornarem-se sustentáveis de forma a gerar impactos em seus clientes.

Mas também é importante ter em mente que todas as áreas devem estar integradas em busca da sustentabilidade e, mais do que isso, é preciso ter em mente que não é possível separar o social do ambiental. Além disso, também é primordial que toda a cadeia econômica do setor esteja integrada para a obtenção de resultados sólidos e duradouros, que realmente gerem mudanças e impactem a sociedade e o planeta de maneira positiva.

Na Gullane, por exemplo, Débora destacou que além da política de carbono zero e ações internas para o lixo em produções mais privilegiadas economicamente, também foi criado um acervo de figurinos e materiais de cenografia para evitar o descarte e criar uma economia circular. "Ao fazer pequenos diagnósticos internos, você desperta uma consciência que não tinha antes e começa a irradiar para dentro de toda a produtora. Não é simples, mas é muito importante fazer o diagnóstico”, completou.

Ainda dentro do tema da sustentabilidade, Marilha Naccari afirmou que o conceito deve ser pensado em uma escala para todos, desde a pequena produtora que não tem condições financeiras até as grandes produtoras. "Se não pensarmos na sustentabilidade em uma escala para todos, não existe justiça social. Temos que pensar na cadeia de uma forma mais propositiva para a justiça chegar a todos e tenhamos capacitação e sustentabilidade", concluiu.

Promoção de uma cultura mais inclusiva no audiovisual

Um dos pilares da ESG é a promoção da diversidade dentro dos espaços e das empresas e, neste sentido, a Gullane começou um projeto piloto em parceria com a ONU Mulheres e o + Mulheres para criar indicadores de diversidade de gênero e racial dentro das produtoras. Em um primeiro momento, O2 Filmes e Prodigo Films, além da Gullane, fazem um levantamento de dados corporativos - e não apenas de suas produções - para medir a diversidade. Os resultados serão divulgados em março de 2024 e serão analisadas questões de gênero de cinco anos para trás e dois anos para frente. A partir do início do projeto, serão analisados dados mais completos que vão para além da questão de gênero.

"Quando você olha para a formação das narrativas que impactam o imaginário das pessoas, elas são fundamentalmente criadas por homens brancos. As mulheres são apenas 20% da criação narrativa e em algumas produtoras esse número é menor ainda. Nosso foco é promover essa mudança na criação de narrativas, porque entendemos que se colocarmos essas pessoas nas posições de liderança, conseguiremos uma mudança não apenas no conteúdo, mas em toda a estrutura", disse Débora Ivanov.

Para além das posições de liderança, Marilha Naccari também destacou a importância da diversidade estar presente em todos os setores da cadeia de produção. Para ela, isso possibilita que grupos considerados minorizados possam se ver como profissionais em diversas funções e se vejam representados. "Se essas pessoas não estiverem representadas, apenas se faz uma caricatura delas nas produções porque não tem a profundidade da vivência. Elas precisam participar de uma formação continuada porque, quando se pensa em diversidade e inclusão no audiovisual, tem que ser de forma naturalizada para gerar um sentimento de pertencimento".

Por fim, Cinthia Gherardi também afirmou que a responsabilidade da agenda ESG deve ser compartilhada por todos os elos da cadeia de produção do audiovisual. "A responsabilidade deve ser compartilhada porque ninguém vai resolver o problema sozinho. Precisa de uma aliança e as produtoras vão puxando distribuidoras para colocarem metas e exigências para que o mercado realmente seja sustentável para muito além de simplesmente abraçar uma árvore. A partir dessa noção um negócio se torna mais resiliente, assume menos riscos e abre novas oportunidades. Na dúvida entre duas empresas, aquela que prioriza a diversidade e causa menos impacto ambiental sempre será escolhida, então as empresas entram em um patamar de cumprir métricas para conseguirem fazer negócios", finalizou.

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