25 Julho 2023 | Yuri Codogno
IMS Paulista exibe maior retrospectiva de filmes feministas já apresentada no Brasil
A partir de amanhã (26), cinema recebe acervo do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir
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O cinema do Instituto Moreira Salles de São Paulo (IMS Paulista) exibe a partir de amanhã (26) a maior retrospectiva de filmes feministas já realizada no Brasil. Intitulada Arquivos, vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir, o espaço fará sessões de 23 filmes durante os meses de julho e agosto, com alguns que prosseguirão até o fim de ano acompanhados de novos programas mensais.
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Os ingressos podem ser adquiridos no site Ingresso.com ou na bilheteria do IMS, para sessões do mesmo dia. Os valores são R$ 10 ou R$ 5 a meia-entrada.
O Centro Audiovisual Simone de Beauvoir (CaSdB) foi fundado em 1982, quando as cineastas e militantes francesas Delphine Seyrig, Carole Roussopoulos e Ioana Wieder se uniram, em Paris, com o intuito de preservar e difundir o extenso material realizado por coletivos audiovisuais feministas desde o final da década de 1960, além de produzir e distribuir novos títulos.
Entre filmes históricos e contemporâneos, o centro reúne um amplo acervo, que inclui desde registros de conferências feministas e greves de trabalhadoras até obras que tratam de temas como aborto, democracia, prostituição e estereótipos televisivos.
No dia de abertura (26/7), às 19h30, serão exibidos os filmes A conferência sobre a mulher – Nairóbi 85 (1985) e Os racistas não são nossos camaradas, nem os estupradores (1986). A sessão será seguida de debate com Barbara Alves Rangel, curadora da mostra e diretora-geral do CaSdB, a pesquisadora Rosane Borges e Glênis Cardoso, crítica de cinema e editora da revista Verberenas, voltada para o cinema realizado por mulheres.
Grande parte dos filmes do acervo são produções da década de 1970 e pertencem a um contexto de emergência de equipamentos de captação de imagem portáteis. Com essas pequenas câmeras, os coletivos feministas passaram a criar suas próprias narrativas, utilizando o audiovisual como ferramenta de mobilização e difusão de suas lutas.
Ainda nesse contexto, temos o curta A FHAR – Frente Homossexual de Ação Revolucionária (1971), de Carole Roussopoulos, que mostra a primeira manifestação de rua gay e lésbica da França. Em Com a palavra, as prostitutas de Lyon (1975), a diretora filma um ato organizando em 1975, no qual um grupo de trabalhadoras do sexo ocupou a igreja de Saint-Nizier em Lion.
O curta É só não trepar! (1971) trata do debate sobre o aborto na França, desde a propaganda contrária nos meios de comunicação até a primeira grande manifestação a favor do aborto em Paris realizada no ano do filme. O tema da saúde também está presente em Trate de parir! (1977), de Ioana Wieder, no qual diversas mulheres tecem críticas às práticas hospitalares de parto, colocando em xeque a ideia de “instinto maternal”.
A programação completa inclui ainda documentários contemporâneos que reconstituem as trajetórias de Delphine Seyrig e Carole Roussopoulos, registrando o encontro entre as duas, suas relações com o entorno e as batalhas conduzidas com as câmeras nas mãos.
Sobre a seleção exibida na mostra, Barbara Alves Rangel comentou: “Nos filmes propostos, o registro de testemunhos e vivências é consciente de sua importância para a transmissão da luta e da história feministas. Seja através de práticas de contrainformação bem-humoradas ou de vídeos institucionais, são obras que atuam como ponto de partida para o aprofundamento dos debates aos quais se propõem, não como um fim em si mesmas. A exibição dessas, que nada mais é do que uma continuidade da preservação dessas memórias, permite descobertas das intersecções com o tempo presente, sem perder de vista seu contexto histórico”.
Lista de filmes
- - Os racistas não são nossos camaradas, nem os estupradores (1986), de Anne Faisandier, Ioana Wieder e Claire Atherton
- - A conferência sobre a mulher – Nairóbi 85 (1985), de Françoise Dasques
- - Où est-ce qu’on se mai? (1976), de Iona Wieder e Delphine Seyrig
- - Maso e Miso vão de barco (1976), de Carole Roussopoulos, Ioana Wieder, Delphine Seyrig e Nadja Ringart
- - Flo Kennedy, retrato de uma feminista americana (1982), de Carole Roussopoulos e Ioana Wieder
- - A morte não quis saber de mim: retrato de Lotte Eisner (1983), de Carole Roussopoulos, Carine Varène e Michel Celemski
- - Delphine e Carole, insubmusas (2018), de Callisto McNulty
- - Carole Roussopoulos, uma mulher por trás das câmeras (2011), de Emmanuelle de Riedmatten
- - Transformações… em Mondoubleau (1982), de Carole Roussopoulos e Catherine Valabrègue
- - Os homens invisíveis (1993), de Carole Roussopoulos
- - Profissão: ostreicultora (1984), de Carole Roussopoulos e Claude Vauclaire
- - As trabalhadoras do mar (1985), de Carole Roussopoulos
- - Seja bela e cale a boca! (1976), de Delphine Seyrig
- - A FHAR – Frente Homossexual de Ação Revolucionária (1971), de Carole Roussopoulos
- - SCUM Manifesto (1976), de Carole Roussopoulos e Delphine Seyrig
- - É só não trepar! (1971), de Carole Roussopoulos
- - Com a palavra, as prostitutas de Lyon (1975), Carole Roussopoulos
- - Trate de parir! (1977), de Ioana Wieder
- - Young Lord (1972/1975), de Carole Roussopoulos
- - Genet fala de Angela Davis (1970), de Carole Roussopoulos
- - Os veteranos do Vietnã (1972), de Carole Roussopoulos
- - Greve na Jeune Afrique (1972), de Carole Roussopoulos e Paul Roussopoulos
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