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22 Junho 2023 | Renata Vomero

"Tinnitus" navega entre o body horror e o drama em história sobre vínculos e obstinação

Filme, distribuído pela Imovision, estreia nesta quinta-feira (22) nos cinemas

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(Foto: Divulgação)

Na semana em que comemoramos os 125 anos do cinema brasileiro, nada como celebrar o lançamento de nossos próprios filmes. Entre as novidades nacionais na programação está Tinnitus (Imovision), dirigido por Gregorio Graziosi, e que conta a história ficcional de Marina Lenk, uma atleta dos saltos ornamentais que se vê fora das piscinas ao enfrentar uma condição angustiante, o tinnitus, causador de um constante zumbido no ouvido.

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Marina Lenk, interpretada por Joana De Verona, então, recorre ao apoio médico e psicológico para tentar superar ou apaziguar seus sintomas, enquanto trabalha como sereia em uma atração do aquário da cidade. No entanto, o controle médico rígido – o próprio profissional responsável pelo tratamento é também seu marido –  e a distância das competições e sua parceira de saltos, Luiza, interpretada por Indira Nascimento, sem dúvida causam fortes perturbações nos ânimos da personagem.

Mas toda essa história surgiu de uma nada simples observação do diretor sobre a pintura A Bigger Splash, de David Hockney, que mostra um trampolim, uma piscina e apenas a água espirrando.

“Eu imaginava e ficava me perguntando onde o mergulhador estava, se o mergulho deu certo ou não e o que aconteceu com ele. Então, pesquisei mais sobre os saltos ornamentais, que via muito nas Olimpíadas e achava encantador, visualmente é muito impactante. As pessoas pulam do trampolim, mas sobem em uma plataforma de concreto de mais de dez metros de altura, desafiando a gravidade. Achava aquilo estranho e particular”, comentou Gregorio Graziosi em entrevista junto ao elenco ao Portal Exibidor.

Tendo este ponto de partida, então, ele começou a desenvolver essa história ao redor da protagonista que, sofrendo do tinnitus, não consegue mais saltar. E mais, além disso, há uma trama que se desenvolve em torno das duas atletas e parceiras de longa data do esporte, enquanto a relação delas é rompida por conta do acontecimento com Marina, já que Luiza parece não compreender a situação e se ressentir da amiga.

“A relação delas é muito real e bonita, porque é muito complexa e nem sempre é estável, elas se embolam, são agressivas. Não tem cinismo, não tem um socialmente correto, elas são agressivas e instáveis, ou seja, é uma verdadeira relação de amizade, de quem gosta de verdade”, comentou Joana, e seu comentário foi complementado por Indira: “É uma coisa de relações longas, em que as pessoas já passaram por muitas coisas juntas, acho que é isso, elas tinham um sonho e parece que em algum momento se afastam desse objetivo, tem uma frustração no meio disso, mágoa, ressentimento, inveja, isso faz ser interessante, porque torna a relação delas real, verdadeira”.

E é em parte nesta reconciliação que o filme se sustenta, como a própria crítica francesa ressaltou, enquanto o filme passava por diversos festivais ao redor do mundo, inclusive, sendo premiado no último Festival de Cinema de Gramado.

Do outro lado, há toda a jornada da protagonista, que vive essa dualidade entre se desvencilhar do tinnitus -  que exige um controle de seu corpo, constante vigilância e reprimendas de seu parceiro – ou ter a liberdade de viver seu maior sonho como atleta. Resta a ela dar um salto de fé por si mesma.

“Tenho muito o que agradecer ao Greg, porque ele fez uma personagem que é uma delícia de trabalhar. Falo que são três filmes: uma personagem do filme da sereia, uma personagem do filme da atleta, uma personagem do filme da pessoa com uma questão física, uma doença. É muita coisa, muito material, não tem mais nada que você pode querer enquanto criadora, artista, intérprete. Seja lá o que ela tem que fazer no fim, ela quer voltar a saltar com sua bela parceira, que é a Luiza”, comentou Joana, que ainda teve que passar por um grande preparo para realizar as cenas na piscina, especialmente como sereia, fazendo treinos de apneia e como se movimentar com a cauda.

Para o cineasta, que escreveu boa parte do roteiro em uma residência artística da França, este é um filme de esporte que parece “errado, porque normalmente estas produções falam de superação, mas neste caso, o ponto central era o sacrifício”, contou o cineasta.

Outra parte importante do preparo foi justamente ligado à questão do tinnitus. Para tal, Gregorio contou com a consultoria de Dra. Tanit Ganz Sanchez – especialista em tinnitus e fundadora do Instituto Ganz Sanchez, primeiro centro latino-americano de investigação e tratamento de zumbido no ouvido e intolerância a sons. Desta forma, o elenco teve contato com pessoas que sofrem da doença para entenderem seus dramas e aflições.

“Essa é uma doença que afeta a pessoa de um ponto de vista muito profundo, quem não entende pode achar que a pessoa está enlouquecendo, mas é um drama interno, porque ainda não tem cura, têm soluções que minimizam”, comentou o diretor.

Além disso, toda essa discussão e retrato angustiante reverberam em uma certa aflição na audiência, um desconforto, o que leva o filme a ser considerado um body horror, além de todo o drama envolvido.

Este é só mais um elemento que se soma a uma estética apurada e som milimétricamente trabalhado, para além das atuações, e que fazem de Tinnitus um filme que deve ser assistido dentro de uma sala de cinema.

“Esse filme é uma experiência para a tela grande porque além da emoção do trabalho dos atores, a emoção vem também através da composição, dos espaços, da luz, do som e de trilha sonora. Tivemos uma equipe muito especial trabalhando com a gente, a gente escolheu as locações com muito cuidado e carinho”, declarou Gregorio, que ainda destacou: “Tem que ter uma reconciliação com a sala de cinema e com o público do cinema brasileiro, para eles ficarem surpreses com o quanto nossos filmes são especiais, o quanto temos atores talentosos, técnicos talentosos, diretores e roteiristas trabalhando, isso é notório. Acho que temos hoje mais talento dentro do cinema brasileiro do que público”.

Tinnitus conta com a direção de arte de Carol Ozzi, premiada em festivais como Cannes Lions e London, a produção é de Zita Carvalhosa e a coprodução de Jean Thomas Bernardin; a fotografia é assinada por Rui Poças e Som por David Boulter.

O filme fez sua estreia mundial no 56º Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary, na mostra competitiva Proxima, e participou das seleções oficiais do 31º Festival de Biarritz Amérique Latine, da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e do 50º Festival de Cinema de Gramado, onde foi premiado nas categorias Melhor Fotografia, Melhor Montagem e Melhor Direção de Arte.

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