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03 Maio 2023 | Yuri Codogno

Pesquisa exemplifica efeito da desigualdade de classe no acesso ao cinema no DF

Levantamento sobre acesso à cultura na região foi realizado pelo ObservaDF

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(Foto: Agência Brasília)

Quanto mais dinheiro, mais acesso e mais possibilidades de gastar em meios culturais. Apesar de parecer óbvio, às vezes esquecemos de dimensionar o quão alto é o abismo do acesso à cultura entre as pessoas de alta e baixa renda. Visando demonstrar em números, o observatório de políticas públicas ObservaDF, vinculado à Universidade de Brasília (UnB), revelou dados sobre os hábitos culturais dos moradores do Distrito Federal. As informações são do G1. 

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A pesquisa "Hábitos Culturais no DF: a presença da desigualdade" demonstra como a renda pessoal representa uma limitação de acesso à cultura na região e como isso diminui a ida aos cinemas e outros eventos culturais. 

"Quando a gente pensa no impacto da renda no consumo de produtos culturais, o estudo mostra dois aspectos distintos, mas evidentemente associados. O primeiro diz respeito a preço, e o segundo a disponibilidade. Alguns produtos, principalmente cinema, são relativamente caros para as pessoas consumirem", disse Frederico Bertholini, professor do Instituto de Ciência Política da UnB e pesquisador do ObservaDF.

Para termos ideia, os moradores de baixa renda do DF vão 0,43 vezes aos cinemas a cada três meses, bastante atrás de quem tem uma renda média/baixa, com 0,64 vezes. Quem mais vai às salas escuras é quem possui renda média/alta, com uma média de 0,84 visitas nos últimos três meses, surpreendentemente à frente das 0,74 visitas de quem possui alta renda. 

Somando as médias, vale destacar que os moradores da região em torno de Brasília vão ao cinema uma vez a cada 4 meses, o que representa uma média de 0,7 vezes em três meses. Números extremamente baixos, especialmente se comparados com os dados apresentados pelo Instituto Boca a Boca em abril do ano passado, quando revelou que 80% das pessoas iam ao cinema ao menos uma vez no mês antes da pandemia.

"Quando olhamos para o padrão de acesso por renda familiar podemos notar que pessoas vivendo em famílias com renda familiar superior a dez salários-mínimos vão no cinema uma vez a cada dois meses, Já pessoas de famílias vivendo com até um salário-mínimo vão no cinema uma vez a cada 7 meses", acrescentou o ObservaDF.

Em relação ao acesso geral à cultura, Bertholini destacou também a disponibilidade, mostrando que os locais onde eventos específicos acontecem geralmente não favorecem a população com menor renda: "O nosso estudo mostrou que, principalmente no carnaval, esse componente é fundamental, porque a oferta de blocos tende a acontecer majoritariamente nas regiões administrativas mais centrais, menos periféricas. Então as pessoas que moram nessas regiões periféricas não têm a mesma disponibilidade".

No carnaval, como citado pelo pesquisador, a participação em blocos é de 17,1% para quem tem alta renda, diminuindo gradativamente à medida que o dinheiro em conta é menor: média-alta (15,5%), média-baixa (7%) e baixa (4,9%).

E se em cinema e blocos de carnaval, que apesar do acesso dificultado, ainda são eventos mais democráticos, shows que costumam estar mais conectados à elite seguem pelo mesmo caminho. No teatro, quem tem renda familiar de até cinco salários-mínimos, assiste uma peça menos de uma vez por ano. Já entre pessoas vivendo em famílias com renda superior a dez salários-mínimos, a frequência é de uma vez a cada cinco meses. E quem recebe até dois salários-mínimos, a frequência é menor do que uma vez ao ano.

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