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13 Abril 2023 | Cobertura: Yuri Codogno / Texto: Renata Vomero

"Precisamos recuperar a relação afetiva com o audiovisual brasileiro", diz Mauricio Hirata

Painel desta quinta-feira debateu as perspectivas de fomento do audiovisual

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(Foto: Exibidor)

Na tarde desta quinta-feira (13) foi realizado o painel “Primetime Riofilme: perspectivas para fomento público do audiovisual no Brasil” neste segundo dia da conferência do Rio2C. Glaucia Camargos, veterana na produção audiovisual, Mauricio Hirata, diretor de investimentos da RioFilme; e Vinicius Clay, diretor da Ancine, se reuniram para debater os desafios e gargalos da indústria para a criação de novas políticas públicas.

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A conversa foi mediada pela jornalista e especialista em políticas públicas de audiovisual, Ana Paula Sousa, e o papo foi permeado por temas como diversidade, pluralidade, digitalização, streaming, cota de tela e investimentos federais e municipais.

Claro que a discussão partiu das dificuldades enfrentadas nos últimos anos por conta da crise da pandemia e pela paralisação de apoio a cultura promovido pelo Governo Bolsonaro. Nesse sentido, o sentimento que passa pelas entidades e profissionais do setor é da necessidade de  uma avaliação das mudanças que foram impulsionadas no meio audiovisual no último ano, entre elas a digitalização, mudando as formas de fazer e consumir audiovisual.

“A questão da digitalização mudou de fato o cenário do mercado, a gente compara com a criação da Lei do SeAC, dez anos atrás, era um cenário muito mais organizado, os problemas eram muito claros, hoje tá muito difícil aprender o gargalo, a digitalização deu a oportunidade de muita gente produzir audiovisual e com uma qualidade mínima aceitável e profissional. Você consegue entregar um conteúdo para o Brasil inteiro, por outro lado a digitalização da distribuição desmontou o sistema de janelas que era a base do negócio”, comentou Mauricio Hirata.

Nesse sentido, diante de todas essas transformações, é preciso não só retomar antigos fomentos, mas criar novos com base nas atuais formas de que o mercado têm se movimentado, entendendo as demandas e gargalos. Entra aí necessidade de apoiar capacitação, profissionalização, regulação de streaming e retomar a cota de tela, além de fortalecer a internacionalização das nossas produções para garantir boa presença da cultura brasileira no exterior.

Com isso, a RioFilme entra como complemento aos recursos federais instrumentalizados pela Ancine, que se reergue da crise que se soma também às paralisações impostas no TCU, com um processo que se desenrolou durante anos. Passada essa primeira dificuldade, o foco da agência é a atenção para crescer a eficiência dos recursos e na velocidade que sejam liberados para os produtores e players nacionais.

“Há uma expectativa relacionada à operação da agência, para que seja mais célere nas ações de fomento”, comentou Clay, que ainda complementou: “Uma outra perspectiva é na eficiência da aplicação dos recursos e para avaliar se a política está sendo eficiente, precisamos de indicadores para mensurar a ação, que devem estar dentro de um plano de diretrizes e metas que deve ser pactuado entre o setor público e privado, para ser como norte de onde devemos chegar com esse aporte. Esse novo anúncio é um aporte significativo, representa pelo menos 5x o aporte recorde de recursos, vem no sentido de ser reparação histórica”, concluiu.

Cota de tela

Um dos temas centrais do encontro foi a imposição de cota de tela para filmes nacionais nas salas de cinema. O Market Share brasileiro, que já chegou a 13%, caiu vertiginosamente nos últimos anos, registrando a marca de 4,2% em 2022.

“Se você não tem cota de tela que regula a exibição, o cinema nacional fica com os horários são ruins e os blockbusters acabam dominando e pegando os melhores horários e sessões, não tem ninguém impedindo eles de fazer isso. Não tem como aumentar o market share, não tem como formar público para o mercado, se o produto não chega na ponta final, isso é deficiente e é grave”, cravou Glaucia Camargos.

Uma questão inerente a este assunto é o valor ainda deficiente do número de salas de cinema no Brasil, ainda são 3400 no país e que mal alcançam a totalidade dos brasileiros, tendo em vista que apenas cerca de 10% dos municípios do país contam com cinema.

“A Ancine continua acreditando no cinema, ele ainda é a principal vitrine e principal janela para difusão e para a rentabilidade dos produtores. Consideramos ampliar o número de salas, ainda há déficit de salas por habitantes, comparando com Argentina e México, por exemplo. Mudança de hábito há, mas o cinema não vai acabar, não acabou antes com a TV, e não vai acabar agora”, comentou o diretor da Ancine.

Com isso também foi falado sobre a perda do hábito de ir ao cinema e como reconstruí-lo. Para a Ancine, precisa haver também apoio para que as distribuidoras brasileiras tenham como reforçar a divulgação dos filmes e aumentar seu poder de difusão destes conteúdos.

Para Mauricio, essa é uma questão complexa, mas há caminhos: “Há formas de impulsionar essa volta a sala de cinema, tem poucos distribuidores brasileiros que veem a sala de cinema como uma fonte de recurso, de alguma forma o modelo econômico de lançamento de cinema se confundiu com o modelo de pré-licenciamento do streaming, em que ele se transformou na janela principal e o cinema vire apenas uma vitrine simbólica, precisa que esse incentivo privado retorne como prioridade para essa primeira janela da tela grande”, contou.

Sobre preconceito e desinformação acerca de apoio público ao cinema

Quando falamos sobre fomento e incentivos públicos para a cultura e especialmente ao audiovisual, nos recordamos rapidamente destes últimos anos que foi fortalecida a ideia errônea de que se trata de dinheiro dado a “vagabundos”, sendo uma “mamata” para os artistas.

Há, sem dúvida, uma preocupada entre as autoridades públicas e tomadores de decisão quanto a desconstrução dessa ideia preconceituosa e até perigosa que ganhou a opinião pública e apoio popular dos próprios brasileiros.

“Há muita desinformação, existe um problema da identidade brasileira que nasce com a própria imagem, há preconceito. O papel do estado é garantir acesso à cultura para todos”, logo comentou Glaucia.

Mesmo diante das mudanças de governo, é evidente que este é um desafio continuo e que, talvez, a maior solução seja realmente reaproximar o brasileiro de sua cultura, fortalecendo seu laço afetivo com ela.

“Precisamos recuperar a relação afetiva com o audiovisual brasileiro, ele existe. O brasileiro adora o nosso produto, é mentira que a gente é formado no audiovisual estrangeiro, a gente é formado no audiovisual brasileiro. Precisamos recuperar isso em todas as janelas, no streaming está mais forte, essa relação afetiva vai fazer com que o fomento se torne imperativo”, destacou Mauricio.

No entanto, como bem sabemos que a melhor vacina para combater notícias falsas e ideias deturpadas, é a informação, e esse objetivo definitivamente está no radar da Ancine.

“Acho que esse fantasma não está plenamente afastado, vamos ter que lida com ele por mais tempo, a forma que entendo de fazer isso é mostrar a credibilidade da indústria, geração de emprego e renda, capacidade de mostrar nossa força cultural e fortalecimento da democracia”, concluiu Clay.  

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