12 Abril 2023 | Yuri Codogno
Soft power bem desenvolvido tem potencial para potencializar vendas de diversos produtos
Leonardo Edde, Nina Pedrosa e Júlia Zardo apresentaram o painel
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Tema central do Rio2C 2023, o soft power ganhou um painel exclusivo, que o relacionou com as maneiras de potencializar a indústria criativa e, consequentemente, a economia dos países. O Portal Exibidor esteve presente no debate, que contou com a participação do presidente do SICAV e vice-presidente da Firjan, Leonardo Edde, da diretora do SINE, Nina Pedrosa, e da Gerente de Ambientes de Inovação da Firjan, Júlia Zardo.
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A Casa Firjan é um espaço de inovação conectado com o futuro e foi a responsável por trazer o painel “Como a Indústria Criativa Potencializa o Soft Power” ao Rio2C. Mas antes, é preciso fazer uma rápida contextualização.
A economia criativa é formada pelas indústrias criativas, tendo como base as atividades econômicas à cultura e que englobam uma série de profissionais diretos e indiretos que movimentam a economia geral por meio de suas atuações. Mas ela também pode se estender a outros segmentos que seguem a criatividade como meio menos tradicional de atuação.
E isso nos leva ao soft power, que é como um país se posiciona por meio de sua cultura. Desta forma, a nação ganha mais destaque no cenário global, podendo até aumentar seu poder diante de negociações diplomáticas atendendo a diversos outros segmentos. Com essas informações em mente, é possível prosseguir e falarmos do tangível e do intangível.
O debate ressaltou que durante os quatro anos do último governo, houve uma desvalorização do intangível, especialmente relacionados aos bens culturais. Entretanto desvalorizar isso ocasiona na desvalorização do tangível, ou seja, naquilo que é físico, como roupas, imóveis e automóveis. “Se a gente tiver um investimento em cima do intangível, podemos fazer o que muitos países já fizeram", contou Julia, lembrando que soft power pode ser entendido como a forma de criar desejo e estilo de vida nos consumidores.
Para exemplificar, foi citada a Coreia do Sul, que começou a investir pesado no soft power ainda nos anos 1990. Parasita, sendo o vencedor do Oscar de Melhor Filme, e o K-POP no topo das paradas de diversos países, são apenas parte do resultado final de décadas de investimento na imagem da Coreia. Em 2019 foram seis bilhões de tweets sobre o K-Pop e, nos últimos três anos, 40 doramas (séries sul-coreanas) ficaram disponíveis mundialmente na Netflix. Um pouco mais no passado, por exemplo, também tivemos o rapper Psy e seu hit Gangnam Style como o primeiro vídeo a atingir um bilhão de visualizações no Youtube.
Mas como chegaram a isso? As estratégias partiram durante a democratização da Coreia do Sul, que colocou a produção cultural como foco e, em 1999, tornou o produto cultural uma commodity através de lei. Em outros países, indo além, a Coreia do Sul possui 33 centros culturais ativos (KCC) que ajudam a difundir a cultura sul-coreana.
Eis alguns resultados que a Coreia do Sul colhe após essas três décadas de investimento em seu soft power: US$ 12,3 bilhões em exportações relacionado à imagem do país, US$ 511 milhões em produtos de beleza exportados apenas para os EUA, US$ 239 milhões em exportações globais dos doramas e US$ 1,5 bilhãogerados pelo turismo. Tudo em 2019.
Esses valores se explicam pelo “ciclo de tangibilidade”, como batizou Leonardo Edde. No caso, o produto intangível leva a cultura mais longe, aumentando a comercialização dos produtos tangíveis. Por sua vez, os tangíveis, quando vendidos, ajudam a aumentar o valor do intangível. E assim segue infinitamente.
Em 2015, apenas uma empresa entre as cinco mais valiosas do mundo oferecia apenas produtos tangíveis, que era a Apple. Hoje em dia, aliás, a mesma empresa também produz longas e séries e até mesmo já ganhou o Oscar de Melhor Filme, com No Ritmo do Coração, em 2022.
E isso leva à questão das Propriedades Intelectuais (IP), que também são monetizadas. “[Em um filme], não é só a bilheteria que dá dinheiro. O direito autoral da imagem do personagem estampado na camiseta. A marca do filme Star Wars, por exemplo, para cada dólar vendido em bilheterias, mais US$ 5 de direitos autorais ligados à marca ou imagem dos personagens são gerados”, contou Nina. E ela aproveitou para citar um exemplo do Brasil, que a Turma da Mônica estampa uma marca de maçãs. "Carro e imóvel não valem nada perto da marca, da patente e dos direitos autorais”, completou Nina.
O soft power e o audiovisual nacional
Apesar do audiovisual ser um dos principais caminhos para realizar o soft power, o painel focou em resultados e estratégias antes de serem transformadas em produtos ou serviços. Leonardo Edde destacou que, em valores pré-pandêmicos, cada real investido em cinema gerava um retorno de R$ 4 em bilheteria. E se considerar outras vendas, chegava até R$ 8.
Mas para que isso volte a acontecer e intensifique os valores, duas questões são necessárias. A primeira é o alto volume de filmes. Se há espaço para o desenvolvimento de 200 produções por ano, tem que ser feito assim, porque se deixar esse espaço vazio, produções de outros países vão ocupá-lo.
A relação do VoD também recebeu atenção: “Se as plataformas de streaming não estiverem reguladas, os produtos de lá não serão [genuinamente] brasileiros. Porque agora quem detém os direitos é uma empresa americana, então a gente está falando de soft power americano através de uma produção brasileira”, ressaltou Edde.
Leonardo explicou que a não inserção de conteúdos nacionais produzidos por produtoras brasileiras facilita para que o soft power de outro país prevaleça nas obras, visto que será de direito do produtor do país de origem. Então, ao regular o VoD, garante que haja o acréscimo de produções totalmente nacionais que carreguem nossas mensagens e que geram arrecadação financeira para o Brasil.
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