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12 Abril 2023 | Cobertura: Yuri Codogno / Texto: Renata Vomero

Painel discute o papel criativo dos produtores dentro do audiovisual brasileiro

Encontro reuniu os produtores Adriana Silva, Maria Angela de Jesus e Rodrigo Teixeira

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(Foto: Exibidor)

Em um importante encontro neste primeiro dia de conferências do Rio2C foi debatido o papel e a importância do produtor criativo dentro dos projetos audiovisuais brasileiros. Ou melhor, o papel criativo dos produtores dentro de tais projetos.

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Para tal, foram convidados Adriana (Dida) Silva, VP e Diretora Geral da Floresta; Maria Angela de Jesus, Head de Produção e Conteúdo da Paramount Brasil; e Rodrigo Teixeira, fundador da RT Features. A conversa foi mediada por Rafaella Giannini, Diretora do departamento de Séries e Filmes da KondZilla.

Para esquentar os trabalhos, os profissionais, antes de tudo, definiram bem qual é a atuação de um produtor criativo e o diferenciaram do produtor executivo, que exerce uma função mais estratégica dentro das produções, embora, muitas vezes, as tarefas se misturem no Brasil.

“O produtor criativo é justamente um profissional que ajuda a todos os talentos estarem na mesma página, é uma das funções mais importantes do produtor criativo, não só viabilizar e entregar aquele projeto, mas também ajudar todos os talentos estarem no mesmo objetivo até entregar um show de sucesso”, contou Dida Silva, que ainda complementou: “tem projetos que ele ocupa o papel de executivo e criativo, acompanha aquele projeto desde o dia 0 até depois de entrar no ar”, sobre a mistura de funções.

Aliás, mistura essa que não costuma acontecer nos Estados Unidos, onde Rodrigo Teixeira tem forte presença tanto como produtor, tanto com a RT Features. Por lá, as duas funções são separadas e muito bem estabelecidas.

“Quando você assina o trabalho como produtor por lá, naturalmente você é visto como aquele cara com uma função criativa. Criativo para arrumar dinheiro, para criar o projeto, para o projeto sair bem e empacotar o projeto. O produtor executivo é outra função. Produtor é produtor, você não pode limitar a criatividade de alguém com um crédito”, contou Teixeira.

Maria Angela de Jesus contou a história, por exemplo, de que quando realizou a série O Hipnotizador (2015 – 2017). Rodada no Uruguai por ali ser mais viável, a produção veiculada pela HBO tinha atores brasileiros, argentinos e uruguaios e era falada nas duas línguas.

“Essa é um decisão que não é separada de uma decisão de orçamento, de cronograma, tudo isso evidentemente aliado ao olhar de até onde se pode ir, até onde o conteúdo permite. Mas não é uma fórmula fechada, não caberia para outro projeto. O papel dos executivos é ter essa sensibilidade de pensar no projeto em si e não apenas no orçamento e cronograma, é isso o que mata o conteúdo”, destacou a produtora.

E é justamente essa sensibilidade que foi bem destacada na conversa, diante de um mar de demanda, com a chegada dos players de streaming, aliado ao alto consumo de televisão e cinema, esse radar precisa estar muito bem afinado para farejar bons projetos.

Mas isso, claro, não é um dom simples, passa por experiência, repertório e conhecimento de mercado, entender o que funciona em cada lugar e para cada audiência. Está nas mãos do produtor conciliar todas essas variáveis.

“O importante também é ter um pouco do feeling, precisa ter para entender o que pode dar certo. Também precisa de escuta, porque precisamos ouvir todo mundo, a audiência e quem está encomendando o projeto, isso faz com que a gente junte as pontas e entregue um projeto que atenda a todas essas demandas e ainda forme profissionais”, destacou Dida, que ainda ressaltou a importância da capacitação de profissionais nessa fase do mercado.

A conversa é permeada por uma série de dicas para realizadores brasileiros, especialmente para que eles também desenvolvam esse radar sobre como vender seus projetos e para quem, tudo isso faz muita diferença na tomada de decisão de um produtor, afinal, ideias não vendem, mas ideias empacotadas, sim. Com concordam os três produtores da mesa.

“Tem um olhar que passa pelas nossas preferências, claro que não é só isso, mas tem seu lado sim da maneira como ele é apresentado, qual é a história que eu quero contar. Tem que estar certo do que quer fazer, essa força é o que conduz os projetos, não estou sendo ingênua, não existe segunda visão. Não há sorte, é olhar e entender o que é o conteúdo. Tem que ter coragem de correr alguns riscos. Entretenimento é um negócio de risco, tem que apostar. Ter o olhar, saber avaliar”, salientou Maria Angela.

Com a palavra criativo e criatividade como chave da conversa, seria imprescindível falar sobre o equilíbrio entre as forças do mercado, às vezes muito apoiadas em fórmulas do que pode e deve dar centro, e o conteúdo original e criativo, que deve sim ser valorizado e talvez seja o caminho para encontrar boas audiências. Tudo isso, ainda com o impacto de algoritmos e inteligência artificial que podem ajudar – ou ditar – a tomada de decisões de grandes players ou compradores.

“As boas histórias engajam a audiência. No primeiro momento tem que olhar para história e a cauda longa dela, entender como trabalhar esse produto, como ele pode ser vendido, não acho que seja uma coisa de ‘agora é só uma coisa que funciona’, se não a gente não estaria fazendo conteúdo e tudo estaria dando certo. Se fosse assim a gente já teria parado de trabalhar, a IA ainda não contaminou, ela ajudou, mas não passa só por isso. Tem um outro olhar, tem a questão de apostar e acreditar no conteúdo”, destacou a executiva da Paramount Brasil.

E se estamos falando sobre conteúdo e originalidade, é preciso reforçar e amplificar os talentos locais. Estando no Brasil, a conversa sobre diversidade ganha muito mais camadas, já que estamos em um país diverso e trazer isso para as telas talvez seja questão “apenas” de abrir espaço para que todas essas vozes entrem em cena.

E entrem em cena atuando, mas também escrevendo, produzindo, dirigindo, já que tudo isso faz uma grande diferença no produto final.

“Tem que estar aberto a ouvir e ver as pessoas, meu time é essencialmente feminino. Os melhores projetos que recebo são de mulheres, acho que há muitos anos a produção criativa é de mulheres, são os melhores projetos. Pelo menos da minha leitura de uns anos para cá, a qualidade delas é muito superior, acho que vem da necessidade contar histórias que os homens não têm. Me interessam mais os projetos de pessoas que pertençam a grupos minoritários”, contou Rodrigo.

E claro que isso entra na conversa sobre soft power, tema norteador deste Rio2C e que dialoga bastante com essa discussão, afinal, qual é a melhor maneira de reforçar a identidade do Brasil aqui e no exterior, se não representando em tela nossas histórias e rostos?

“A demanda por conteúdo local tem crescido no mundo todo, nosso soft power somos nós, temos que entender o que temos aqui dentro e exportar isso, sempre consumimos o que vem de fora. É um momento importante para trazer diversidade e só assim vamos sair do mais do mesmo, o risco existe até na encomenda de uma temporada de um projeto que está bombando”, explicou Dida Silva.

Além disso, é importante pensar em diversificar os conteúdos e os formatos, indo além dos temas que são inerentes às dores de opressão de pessoas vindas de comunidades subrepresentadas, sem desvalorizar esses temas, claro.

Por fim, a mesa abriu espaço para que os produtores pudessem dar ainda mais dicas para os realizadores, especialmente em futuros pitchings para apresentar seus projetos: leitura e aquisição de repertório estiveram entre os comentários, já que os profissionais precisam ter conhecimento sobre o que estarão falando. Outra dica foi Ir para esse encontro bem preparado não só sobre o projeto, mas sobre quem vai avaliar ele também.

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