Exibidor

Publicidade

Notícias /mercado / Lançamento

28 Março 2023 | Renata Vomero

Manifesto contra a agressividade, "Um Samurai em São Paulo" propõe conversa entre culturas

Documentário distribuído pela Elo Studios é dirigido por Débora Mamber Czeresnia

Compartilhe:

(Foto: Divulgação)

Estreia no circuito comercial em 30 de março, o documentário Um Samurai em São Paulo, distribuído pela Elo Studios. O filme é de Débora Mamber Czeresnia, que estreia na direção contando a história do japonês Taketo Okuda, um dos mais importantes mestres de Karatê e professor da arte marcial no Brasil desde os anos 1970.

Publicidade fechar X

A narrativa é contada pela própria perspectiva de Débora, aluna de Okuda e neta de sobreviventes do holocausto, ou seja, a história é atravessada – e nos atravessa – por esse olhar sobre a violência e hostilidade, algo que o sensei era veementemente contra em seu trabalho com o karatê. Taketo Okuda faleceu em fevereiro de 2022.

“Ele contou um pouco de sua experiência de infância durante a Segunda Guerra Mundial, no Japão. A partir disso, foram se costurando algumas conexões entre a história dele e a dos meus avós, que também foram sobreviventes da Segunda Guerra. Passei a olhar para a trajetória dele e do karatê a partir dessa perspectiva histórica, trazendo o karatê como algo que conectou nossas vidas, mesmo que tenhamos vindo de lugares tão distantes. Foi interessante observar como, mesmo quando contamos a biografia de alguém que nos parece tão diferente de nós, sempre estamos observando a partir do nosso olhar, que é carregado com a nossa experiência. Para mim, essa conexão permitiu que o filme se ampliasse. Deixou de ser apenas um documentário sobre um professor de karatê, e se tornou um manifesto de resistência contra a agressividade”, contou Débora em entrevista ao Portal Exibidor.

Jornalista, escritora e cineasta, Débora começou a ter aulas de karatê há alguns anos, quando conheceu o mestre, no entanto, as interações com ele sempre foram distantes, pelo próprio perfil dele, mais reservado, a ideia de fazer o documentário portanto, surgiu quando seu filho faleceu em 2013 e ela queria preservar a memória do carateca, ou o “samurai de Pinheiros”, como era conhecido.

No entanto, tendo em vista justamente essa personalidade mais fechada do personagem, para Débora foi um processo de dez anos para a realização do documentário, já que ela foi se aproximando pouco a pouco do mestre, na intenção dar tempo a ele, sem cruzar qualquer limite.

“Ao longo do tempo, consegui me aproximar um pouco mais dele, mas sempre havia entre nós muitas barreiras: a da língua, já que ele tinha muita dificuldade com o português apesar de viver aqui desde os anos 1970, a de gênero, a de cultura. Para cada passo da filmagem, eram necessárias negociações delicadas. Com o passar dos anos também pude compreender nos treinos o que ele pretendia com sua prática, em que a agressividade que eu sentia nos meus primeiros anos como aluna foi sendo apaziguada. São aprendizados que só são possíveis com anos de dedicação, e eu quis imprimir isso no filme”, afirmou a cineasta, que fez algumas das conversas em japonês com a presença de tradutor simultâneo.

Essa troca entre Débora e Okuda não deixam também de conversar com o Brasil atual, que se vê reerguendo pautas de intolerância, ódio, supremacia e preconceitos. Desta forma, o documentário vai muito além do retrato do personagem, enviado oficial da Associação Japonesa de Karatê para difundir a arte marcial por aqui.

“Nesse contexto, o que Okuda tem a dizer é um libelo pela paz. Okuda dizia que demonstrar hostilidade é sinal de fraqueza. Ele nos ensinava a sermos mais fortes, mas o objetivo nunca foi atacar o outro, porque ele entendia que essa força vinha de uma conexão profunda com a natureza, com o universo. Penso que essa mensagem precisa ressoar, para que nos ajude a superar esse momento”, explicou.

Tendo tudo isso em vista, as expectativas para a estreia no circuito comercial são significativas, especialmente pelo desejo de que essa mensagem encontre o público e reverbere nas pessoas que se interessarem pela história.

“Nesses dez anos que o filme demorou para ser feito, o mercado mudou completamente. No entanto, eu ainda acredito que a experiência coletiva do cinema permite a imersão em um universo silencioso e meditativo que é essencial para esse filme, um mergulho que a televisão dificilmente é capaz de proporcionar. Um Samurai em São Paulo não é um filme sobre karatê, não é apenas um documentário sobre uma figura que teve sua importância dentro de um pequeno grupo de artistas marciais. É uma conversa entre culturas”, finalizou a cineasta.

Um Samurai em São Paulo estreará em São Paulo, Aracajú, Balneário Camboriú, Goiânia, Palmas, Poços de Caldas, Salvador e Vitória. O filme, entre as produções mais votadas pelo público na 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, foi selecionado como parte do Selo ELAS, uma iniciativa que fomenta filmes feitos por mulheres, na intenção de ajudar na equidade de gênero do setor.

Compartilhe:

  • 0 medalha