16 Março 2023 | Yuri Codogno
Documentário "Biocêntricos" destaca como o mundo pode evoluir se humanidade buscar inspiração na natureza
Filme estreia hoje (16) em algumas capitais do Brasil
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Uma produção da Aiuê - produtora que atua há mais de 10 anos com sustentabilidade, educação e cultura -, Biocêntricos é o novo documentário dos diretores Fernanda Heinz Figueiredo e Ataliba Benaim (também responsável pelo roteiro) que estreia hoje (16) nas telonas. A distribuição é da Aiuê em parceria com a Espaço Filmes em diversas capitais do país.
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O foco do filme está na criação e utilização da Biomimética, processo de inovação científica que busca, na evolução de todas as formas de vida na terra, a inspiração de base para solucionar os problemas mais caros à humanidade contemporânea.
“Biocêntricos é um trocadilho e uma brincadeira com ‘excêntricos’ e ‘egocêntricos’. O termo se refere às pessoas que colocam a vida no centro de suas decisões. Mas o biocentrismo, como contraponto ao antropocentrismo, é uma filosofia que defende que o cerne de tudo é a natureza e que o homem deve se integrar a ela, deixando de ser o centro. Ou seja, a natureza é o que rege e dá sentido ao mundo”, explicou Fernanda sobre o nome do documentário,
A argumentação se baseia no fato de que, vivas, há “menos de 1% das espécies que já passaram pelo planeta e o que sobreviveu altamente aperfeiçoado durante 3,8 bilhões de anos de seleção natural", como ressalta a bióloga e ativista americana Janine Benyus, que é a figura central do filme. Deste modo, o documentário defende o uso das estratégias e conhecimentos da natureza para solucionar problemas gerados pela humanidade e da criação de inovações tecnológicas e sociais eficientes nos mais diversos campos da criação. Chamado Biomimética, ou Biomimicry Thinking, o termo foi propagado pela ativista.
Através do documentário narrado pela própria Janine, o público conhece as motivações e teorias científicas por trás do pensamento dos biomimeticistas e acompanha a rotina de nove personagens em seus campos de atuação. O filme entrelaça suas histórias com imagens da natureza em sua plenitude, mostrando desde o funcionamento de uma árvore centenária, que vai muito além de dar sombra ou servir de material para construções, a estratégias sofisticadas de certas espécies de plantas e animais para sobreviverem.
A Biomimética foi implementada de forma sistemática nos anos 1990, mas os diretores acreditam que agora é um bom momento para retomar a temática. “O mundo parece precisar ainda mais da ampliação da Biomimética do que na época em que ela deu seus primeiros passos. Acreditamos que este é o momento em que a Biomimética está madura para ser apresentada ao público não como um processo de inovação científica restrito aos cientistas, mas como uma visão de mundo necessária a todos nós”, disse Ataliba. Fernanda completou: “Além disso, o Brasil tem um potencial gigantesco para o desenvolvimento da Biomimética, por termos um dos maiores parques de tecnologia da natureza no mundo”.
Fazer do assunto um documentário, aliás, é algo que agradou bastante aos diretores. “Já tinha cursado dois másters em intervenção ambiental e em educação e comunicação ambiental em Barcelona e acabei me tornando documentarista. E foi em uma palestra de um evento enorme do mercado audiovisual que me deu um estalo: ‘Já sei! Biomimética, o fim da guerra contra a natureza. Esse vai ser nosso próximo projeto!’”, contou Fernanda.
Já para Ataliba, o encantamento de Fernanda pelo tema e a percepção de que ainda não havia no mundo um filme que se dispusesse a contar a história da Biomimética pelos olhos de sua criadora, Janine, foi algo que o incentivou. “Fomos motivados pela necessidade de levar esse conhecimento ao grande público, da melhor forma possível e o quanto antes. Não negamos a vontade de mostrar ao mundo que aqui temos um imenso potencial tecnológico com a nossa biodiversidade”, disse o diretor.
Entre as histórias contadas na tela, estão a dos designers Bruno e Pedro Rutman, que desenvolveram uma forma revolucionária de reflorestamento; a de Benki Piyãko, líder indígena e agente agroflorestal que viaja o mundo promovendo o intercâmbio entre os conhecimentos ancestrais e a ciência moderna; a do engenheiro e observador de pássaros Eiji Nakatsu, que redesenhou o trem bala japonês, reduzindo em 15% o consumo de energia, ao imitar a eficiência de um pássaro; e o carioca Fred Gelli, um dos designers mais requisitados do mundo por seu trabalho com marcas e embalagens e seu discurso que busca extinguir o rótulo de consumidor dos seres humanos.
Mas todas essas histórias levam à uma dúvida: como construir o filme, unindo todas as narrativas? Ataliba respondeu: “Nas últimas versões do roteiro, chegamos à ideia de que a Janine é uma personagem multifacetada, que não apenas costura as histórias de outras personagens, mas que também é, ela própria, uma personagem equivalente. Por fim, ela é também a narradora do filme, não apenas emprestando sua voz à locução, mas também imprimindo sua expertise de escritora, de contadora de histórias”.
Uma preocupação da produção, é importante destacar, foi traduzir a linguagem científica para que o público geral pudesse entender. “Nós, realizadores, não somos cientistas; durante a produção do filme, buscamos não nos perder. Assim, o que foi para tela, muito mais do que informação, é o afeto que nos une em torno da Biomimética, dessa consciência de que somos todos natureza. E a aposta é no poder de transformação que tem essa consciência”, contou Ataliba.
Biocêntricos possui coprodução com Globonews, Globo Filmes e Spcine, foi viabilizado pelo Curta!, através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e filmado no Brasil, EUA, Japão e Costa Rica. A estreia acontece hoje em diversas capitais brasileiras e em parceria com o Espaço Filmes. Antes, porém, o filme teve sua estreia mundial na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
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