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15 Março 2023 | Renata Vomero

Rodado no Amazonas, "O Rio do Desejo" faz convite à imersão nas complexidades humanas

Dirigido por Sérgio Machado, filme estreia em 23 de março no circuito comercial

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(Foto: Divulgação)

Em 23 de março estreia, em cerca de 50 salas do Brasil, o filme O Rio do Desejo (Gullane), dirigido por Sérgio Machado e inspirado em conto do escritor amazonense Milton Hatoum. A produção tem elenco principal formado por Sophie Charlotte, Daniel Oliveira, Gabriel Leone e Rômulo Braga; e conta a história de três irmãos que se apaixonam pela mesma mulher.

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A história se passa no Amazonas na beira do Rio Negro e coloca a região como parte integrante da narrativa, como o próprio escritor Milton Hatoum tem como tradição em seus livros e contos.

“Tanto ‘O Rio do Desejo’, quanto ‘Órfãos do Eldorado’, outra adaptação de uma história minha, retratam muito bem a atmosfera dos contos, não é uma Amazônia exótica, para o inglês ver, não tem esse apelo da Amazônia pulmão do mundo, que é mito também, é uma Amazônia real, que o filme tornou transcendente”, destacou Milton Hatoum em coletiva de imprensa realizada na tarde desta quarta-feira (15) e que o Portal Exibidor foi convidado. Aliás, o escritor participou ativamente do desenvolvimento do roteiro, realizando outros contos que complementassem “O Adeus do Comandante”, que inspirou o filme.

Foram três meses em que toda a equipe ficou instalada em Itacoatiara, onde foram realizados os ensaios e as filmagens, momento fundamental para o desenvolvimento do filme.  Com isso, eles tiveram tempo de preparação para seus personagens também absorvendo a vivência da cidade amazonense, quente e com períodos de seca e cheia, mas, acima de tudo, que conta com o calor humano da comunidade, tão receptiva para toda a equipe.

“A recepção da comunidade foi algo surreal, fora do padrão, foi o primeiro susto que a gente tomou.  Comecei a ler o roteiro depois de um tempo de preparo e essa era a proposta, para não ter engessamento, descobrimos muita coisa na sala de ensaio, fomos descobrindo juntos os caminhos.  Não tem como não deixar o calor chegar, não deixar aquela natureza, presença, aquele tempo entrar e isso tudo entra na gente, invadindo, chutando a porta. Seria um outro filme se fosse feito em outra locação, o lugar nos ajudou a construir o tempo e o pulso dos personagens”, destacou Rômulo Braga, que vive Dalmo.

Desta forma, espaço e segurança para que todo esse preparo fosse plenamente aproveitado. Especialmente para Sophie Charlotte, que vive Aníra, a mulher pela qual os três irmãos - interpretados por Daniel Oliveira, Rômulo Braga e Gabriel Leone - se apaixonam. Acima de tudo, uma mulher que vive em plena liberdade, dona de si, de seus desejos, vontades e caminho.

“A Aníra como energia, como presença, como barro moldado de um feminino que vem para iluminar esse três irmãos, não foi uma construção de algo de fora, idealizado, foi um processo físico de suor, de chão de sala de ensaio e de abrir espaço interno de uma energia feminina fluindo, desejante, na criação de um sujeito mulher. Poderia ser muito opressor uma mulher desejada por três homens, mas o cinema do Sérgio nesse filme e a atenção de todos da equipe tornaram ela como um portal para um feminino livre, pulsante”, enfatizou a atriz, que ainda se sente atravessada pela personagem, mesmo mais de três anos após as filmagens.

Tendo tudo isso em vista, algo fica extremamente evidente para quem assiste ao filme. Mesmo sendo uma história que traga um drama familiar tão intenso e complexo, não há, nem por descuido, a proposta de um julgamento moral acerca deste quarteto, especialmente para a mulher.  Muito pelo contrário, o longa faz um convite ao espectador imergir justamente nessa complexidade humana, formada por erros, acertos, vontades, tentações, frustrações, sem uma lógica maniqueísta, é assim que eu sou e você que está lendo também é.

“A beleza desses personagens está de alguma forma em um não-julgamento e olhar para todos de forma humana, independente de erros, acertos e escolhas, construir uma camada para todos em que você consiga ter empatia, de se colocar e entender, isso potencializa para quem assiste ao filme de não entrar em um lugar maniqueísta de quem está certo ou não”, reforçou Gabriel Leone.

Arrematando tudo isso, é impossível não questionar o renomado cineasta Sérgio Machado, responsável também por Cidade Baixa, sobre a escolha desse tema para fazer o filme, com as camadas dos personagens e esse retrato de um lugar marginalizado na sociedade, mas que tem em si uma gama de temas, vivências e figuras únicas e conectadas vivamente com a realidade.

“Esse universo do submundo sempre me interessou, nunca quis fazer uma história sobre a classe média ou alta, gosto do universo marginal. Acho que o longa tem relação com Cidade Baixa, lá também são homens que se apaixonam pela mesma mulher, acabo voltando para os mesmos assuntos, não sei porque. Os personagens femininos que faço são sempre personagens brilhantes, ela traz luz para o mundo masculino que é escuro e desinteressante. Essa luz representa a liberdade também. Gosto disso”, ressaltou o cineasta.

O Rio do Desejo foi realizado em sua totalidade com apoio público, tanto das instâncias federal, estadual e municipal, representando a última leva do auge das políticas públicas do audiovisual no fim da última década.

Passada a crise da pandemia, que tanto impactou a indústria e o próprio lançamento do filme, bem como o Governo Bolsonaro, o setor segue buscando a recuperação, tentando atrair de volta as audiências para a sala escura, especialmente para o cinema nacional. Considerando tudo isso, a estreia do filme em um circuito de cerca de 50 salas é de grande importância para este momento.

“O Brasil é um dos países do mundo que está demorando muito para recuperar seu mercado de antes da pandemia, a gente tinha antes os filmes grandes fazendo grandes bilheterias, mas tinham os filmes médios e outros pequenos que despontavam, hoje concentra tudo em um filme lá na ponta. Queremos retomar esse hábito, esse costume de ir ao cinema ver os nossos filmes, as pessoas voltaram para muitas coisas, mas para o cinema ainda falta voltar, claro que tem aí uma questão econômica que pode ser a razão para isso, mas enfim. Estamos nessa batalha com este filme, com todos os outros colegas do mercado, tentando recuperar esse protagonismo da sala do cinema na história de um filme, é uma delicia ver em casa, mas é incrível e mágico ver na tela grande”, enfatizou Fabiano Gullane, ainda reforçando o quanto está sendo crucial o apoio de parceiros, da imprensa e também o sucesso do filme nos festivais internacionais dos quais participou.

O filme acumula passagens e prêmios por festivais da Bélgica, Uruguai, Estônia, entre outros, tendo mais 14 outros programados neste ano. Além disso, já foi vendido pela distribuidora americana CMG para diversos países como: Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Japão e Coreia do Sul.  

O Rio do Desejo é uma produção da TC Filmes e Gullane, em coprodução com a SPCINE, associação com Canal Brasil e Mar Grande, patrocinado pela Petrobras, com investimento BNDES, com a distribuição da Gullane. O filme também tem o apoio da ANCINE, através do Fundo Setorial do Audiovisual; patrocínio da Sabesp por meio do Programa de Fomento ao Cinema Paulista do Governo do Estado de São Paulo, assim como fomento via ProAC LAB. E conta também com apoio do Projeto Paradiso.     

 

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