02 Março 2023 | Renata Vomero
Produção de guerrilha, "Coração de Neon" emociona e abre nova via ao cinema nacional
Filme da IHC foi dirigido, roteirizado e protagonizado por Lucas Estevan Soares
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Na próxima quinta-feira (9) chega aos cinemas Coração de Neon (IHC), de Lucas Estevan Soares e primeiro longa nacional mixado em Dolby Atmos. A produção brasileira, e quase integralmente curitibana, nasceu do longínquo sonho do diretor e sua sócia e companheira, Rhaissa Gonçalves, de fazerem cinema, levando suas ideias para a tela grande.
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Este sonho vinha sendo adiado, especialmente por Lucas, desde seu primeiro trabalho em cinema, quando lançou o filme Trilhos Independentes, por volta de 2012, com uma coletânea de curtas. Vindo do teatro, portanto, acostumado ao esquema de guerrilha (com poucos recursos e equipe enxuta para produção), este foi o método usado neste primeiro trabalho no meio.
Alguns anos depois, ele e sua companheira fundaram a IHC (International House of Cinema), produtora e agora também distribuidora, mas, como é bastante comum no meio, o mercado publicitário acabou sendo o caminho trilhado pela empresa para conseguirem se manter.
“Quando comecei a empreender é que o sonho do cinema ficou mais distante, porque infelizmente ele não paga as contas. A IHC, minha produtora, focou mais no lado comercial, todo esse marketing hoje é resultado da experiência na produtora. A gente teve agência, criava as campanhas de marketing, fazia tudo 360º de uma publicidade desde 2012 ou 2013. Ainda fazemos isso”, explicou Lucas Estevan Soares em entrevista ao Portal Exibidor.
Com o crescimento da empresa, veio a expansão para Miami, nos EUA, em 2017, o que impulsionou ainda mais o sucesso da produtora. Foi aí que Lucas pôde voltar a sonhar em fazer cinema com a ideia que tinha na cabeça desde 2014, quando imaginou um carro de telemensagem fugindo de um cara ciumento, misturando romance, ação e muita brasilidade curitibana.
No entanto, mesmo sendo de renome no meio publicitário, a falta de um longa já produzido para apresentar para interessados em financiar essa empreitada, acabou afastando investimentos no filme, fazendo com que Lucas retomasse sua técnica de guerrilha, produzindo com o próprio dinheiro. A começar, inclusive, pelo próprio equipamento de filmagem, adquirido nos EUA, já que era mais barato do que até mesmo alugar no Brasil. Então, em 2019, o casal desembarcou por aqui para dar vida a este sonho.
“Escolhi filmar no Boqueirão, bairro em que eu nasci, precisava de um cartão de visita, precisava mostrar para as pessoas de onde eu vim e quem sou e isso ia baratear a produção também”, destacou.
Justamente para diminuir os gastos, o longa foi inteiramente filmado em apenas alguns quarteirões do bairro, com a equipe e produção usando casa de amigos e familiares como locação ou QG do time.
Desta forma, a maior parte da equipe é de Curitiba, algo que dá muito orgulho para os envolvidos e que é tratado como um ponto forte de Coração de Neon, inclusive comercialmente, já que gera a identificação imediata dos espectadores da região.
“Também preferi fazer na região porque o curitibano é bairrista e ele nunca se enxergou na tela de verdade, há muitos cineastas que produzem ali, mas não são de lá, não conectam com as pessoas, se distanciando do sotaque, da cultura e dos costumes. Fiz questão de trazer tudo isso no Coração de Neon, foi instantânea a conexão das pessoas e isso é um elemento comercial de cara, você desperta o senso de orgulho, isso gera advogados para o seu filme, um boca a boca orgânico. Nesse sentido, a região está conquistada”, destacou Lucas.
Um outro ponto precisa ser destacado neste processo: para dar sequência à vontade de lançar o título nos cinemas, do jeito que gostaria, a IHC se viu com a necessidade de abrir um braço para distribuição. Ou seja, estão mergulhados no Coração de Neon de ponta a ponta, um case a parte para o mercado.
E a partir disso uma nova jornada começou a se desenrolar, com os executivos passando por festivais no Brasil e no Mundo e até conseguindo espaço no Marché du Film, em Cannes, no ano passado, o que foi um divisor de águas para o projeto.
O longa saiu de lá com a chancela de “novo cinema popular brasileiro”, no sentido de ser um equilíbrio interessante entre cinema autoral e comercial, e a partir disso ganhou mais visibilidade da imprensa e do mercado como um todo, o que abriu caminho para conseguir ser programado nos cinemas, inclusive, em grandes redes. A expectativa é de que ele entre em cartaz em 150 salas.
“Muitos filmes brasileiros já chegam dentro de uma caixinha, ou é algo super alternativo ou voltado para festival ou as famosas comédias, e aí de vez em quando surge algo brasileiro diferente e que vira um fenômeno. Foi um medo quando começaram a tratar o filme assim por lá. Considero uma boa estratégia comercial, porque para ter um sucesso, você precisa gerar envolvimento e para isso as pessoas precisam se enxergar na tela”, reforçou.
E não tem ninguém melhor para vender o filme do que eles próprios, tanto pela paixão por esse “filho”, tanto por terem participado de cada etapa do filme, inclusive a pós-produção que passou pelos perrengues da pandemia. Além disso, a expertise da produtora no segmento de marketing e publicidade também está sendo fundamental neste momento.
A empresa trabalha com um perfil ativo do filme nas redes sociais e criou a campanha de marketing também em torno do carro de telemensagem, quase protagonista do longa e uma figura mega presente na cultura popular brasileira. Para além disso, estão sendo trabalhadas peças mais voltadas para as cenas de ação, que atraem mais um público masculino, e pensando também nas mulheres, há outras peças voltadas para o emocional da história, além da trilha, que está sendo toda trabalhada já no Spotify e YouTube.
Muitas marcas parceiras embarcaram na ideia do lançamento também, especialmente de Curitiba, gerando até sorvete e cerveja com material do filme. A recente aproximação com o mercado exibidor também tem sido fundamental, com os profissionais colocando os displays do longa nos lobbys e até envelopando o cinema com a temática do Coração de Neon, caso do Cine Sul de Medianeira, Paraná.
“O Coração de Neon ficou maior que eu, ele sempre vai ser meu filho, mas deixou de ser um produto que tenho que defender muito. Isso éperceptível pelo movimento das pessoas. O filme já foi visto por muita gente e do mundo inteiro, isso me deixa tranquilo quanto a recepção das pessoas, o desafio é fazer com que elas vejam, porque o produto é bom, mas o difícil é fazer as pessoas darem uma chance para o filme”, destacou.
E é justamente nesse convencimento que a distribuidora está mais focada, dada a ansiedade em levar público na primeira semana do filme e garantir um boca a boca que beneficie sua carreira nos cinemas.
Perguntado do por que as pessoas devem ser Coração de Neon nos cinemas, Lucas é direto: “Pessoalmente acredito que a história do Coração de Neon faz com que você saia do cinema com vontade de realizar seus sonhos, te deixa mais orgulhoso do cinema brasileiro, do talento do potencial do cinema brasileiro e isso tem a ver com a vontade de realizar seus sonhos. É possível. Essa é a principal mensagem do filme, acreditar nos sonhos e entender que é possível”.
O filme conta a história de Fernando, que acompanha seu pai em seu serviço de telemensagem, o Coração de Neon. A bordo de um carro personalizado eles são contratados para realizar mensagens ao vivo. Após uma apresentação que terminou em tragédia, a vida de Fernando muda por completo e ele embarca em uma jornada alucinante em nome do amor.
A produção já conta com pré-estreias especiais desde esta semana no Rio de Janeiro e São Paulo, e na semana que vem Curitiba e Medianeira. O elenco principal é formado por Lucas Estevan Soares, Wawa Black, Ana de Ferro, Paula Matos e Wagner Jovaci.
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