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17 Fevereiro 2023 | Renata Vomero

De casa nova, Andrea Giusti pretende fortalecer perspectiva global da Abrolhos Filmes

Com mais de 15 anos de experiência no mercado, Giusti é nova produtora executiva da empresa

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(Foto: Divulgação)

Com mais de 15 anos de experiência atuando nos mais diversos formatos do audiovisual e acumulando passagens por produtoras como RT Features, Moonshot Pictures e Spray Media, Andrea Giusti, fundadora também da Match Point Pictures, está de casa nova. Agora ela ocupa o cargo de produtora executiva da Abrolhos Filmes, fundada em 2014 por André Sobral.

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A empresa tem em sua filmografia filmes como Chico Rei entre nós, além de Sobral ser produtor associado de filmes premiados como Me chame pelo seu nome e A Ciambra. Atualmente, a Abrolhos Filmes trabalha na produção de três longas: Corpo Celeste dirigido por André Sobral, com Maria Ribeiro e Fernando Alves Pinto, Flamingo Azul, de Beatriz Seigner, coproduzido pela França, e que deve ser rodado em 2023; e Um casamento, escrito e dirigido por Maíra Bühler, e inspirado numa história real de uma índia que é levada para o Rio de Janeiro para se casar com um homem branco, no início dos anos de 1950.

“Minha missão na Abrolhos é, além de apresentar esse momento mais maduro da produtora fortalecendo suas parcerias no Brasil, trazer uma perspectiva mais global para os nossos projetos que possa combinar as possibilidades de fundos brasileiros com os internacionais, tanto com relação a co-produções como grants, conteúdos para marcas e mesmo investimento privado. Ou seja, buscar um modelo de negócio que não dependa apenas dos editais e incentivos fiscais brasileiros”, disse Andrea Giusti ao Portal Exibidor.

Este tem sido justamente um caminho trilhado pelos players brasileiros há diversos anos, mas que tem sido acelerado pelas transformações que a indústria passou tanto na pandemia, quanto no crescimento dos streamings e, aqui no Brasil, pelas dificuldades impostas pelo último governo. Com isso, é algo que pode ser extremamente benéfico para as produções nacionais.

“Por exemplo, o projeto passa a poder se beneficiar de fundos públicos, editais, tax rebates, investimento privado, etc de mais de um país. Além disso, já se parte da premissa que será distribuído minimamente em dois países. A estratégia de festivais internacionais, busca por distribuidores, sales agents e campanhas de marketing são potencializadas. Todo esse trabalho tende a resultar em mais fontes de receita já que o intuito é que o projeto alcance público e seja distribuído no máximo de países possíveis”, comentou a produtora.

Com a atuação na Abrolhos e tendo como missão justamente globalizar os conteúdos nacionais desenvolvidos dentro da produtora, alguns desafios, claro, acabam sendo impostos, especialmente tratando-se de universalizar as narrativas, algo que a Abrolhos tem domínio, já que é reconhecida por tratar de temas intimistas, mas que atravessam um grande espectro de possibilidades globais.

“Por isso mesmo ficamos atentos a qual será o recorte e a abordagem para cada um de nossos filmes. Principalmente quando tratamos de documentários, temos que ter uma atenção redobrada para que haja uma contextualização do assunto tratado e do momento no qual estamos inseridos. Por mais que o tema principal seja universal temos que partir da prerrogativa que a audiência de outros países não está inserida nas particularidades sociais, culturais e relacionadas ao meio ambiente do nosso país. Esse é o feedback que sempre tenho dos decision makers internacionais para projetos unscripted”, ressaltou.

Formada em Relações Públicas pela FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado, Giusti também tem pós-graduação, pela mesma instituição, em Produção Executiva e Gestão de Televisão. Em seu currículo, a produtora conta com filmes exibidos nos principais festivais internacionais, como Sundance (Abe) e Cannes (a série Quebrando o Tabu), além das produções Down Quixote e Sociedade do Cansaço

Desta forma, tendo trabalhado nas mais diversas frentes nacionais e internacionais e estando hoje baseada em Toronto, no Canadá, é impossível não observar a evolução do mercado audiovisual como um todo, especificamente o brasileiro.

“Passou a haver investimento para séries grandes dos mais distintos gêneros e fomos capazes de imprimir o devido valor de produção, antes tão desafiador principalmente para séries de televisão. Séries e filmes brasileiros passaram a ser conhecidos ao redor do mundo e não mais apenas aqueles títulos de sempre como: Cidade de Deus, Tropa de elite, etc. Porém, do outro lado, a produção independente sofreu demais com o último governo já que todas as iniciativas e fundos públicos foram congelados. O impacto extremamente negativo que a pandemia teve com relação a janela de cinema também foi e ainda está sendo um baque. A cadeia desbalanceou”, destacou.

Tendo tudo isso em vista, para Andrea o caminho para tornar a indústria mais sustentável está na diversificação dos modelos de financiamento das produções, não mantendo apenas um como base para, assim, buscar parcerias criativas e até internacionais para ganhar mais espaço.

“Na minha opinião é hora de retomarmos o fôlego e buscarmos soluções criativas.  Tudo que aconteceu veio para mostrar que não podemos depender apenas de um modelo de financiamento. A indústria tem que poder sobreviver a crises, tanto econômicas como políticas, porque elas sempre existirão. Não podemos depender apenas dos subsídios públicos. Da mesma forma que não podemos depender apenas dos streamings. Temos que buscar compor através de parcerias criativas, distintas formas de financiamento nacionais e internacionais e até mesmo através de alianças mais ousadas”, concluiu.

Confira a entrevista na íntegra:

Quais expectativas você tem neste novo capítulo de sua carreira agora com a Abrolhos? Quais serão suas prioridades dentro da produtora? 

A Abrolhos busca aliar excelência artística com alcance de público através de produções nos mais diversos formatos. Estamos focados na produção de conteúdos relevantes para cinema, TV, Canais Digitais, Branded Content e Publicidade.

Sempre comprometida em fortalecer sua presença no mercado como uma empresa dedicada ao entretenimento que estimule a mudança social de maneira inovadora e impactante.

Minha missão na Abrolhos é, além de apresentar esse momento mais maduro da produtora fortalecendo suas parcerias no Brasil, trazer uma perspectiva mais global para os nossos projetos que possa combinar as possibilidades de fundos brasileiros com os internacionais, tanto com relação a co-produções como grants, conteúdos para marcas e mesmo investimento privado. Ou seja, buscar um modelo de negócio que não dependa apenas dos editais e incentivos fiscais brasileiros.

Minha prioridade no momento é estabelecer uma estratégia que envolva uma nova carteira de projetos que viaje e possa resultar em campanhas de impacto e, a partir daí, traçar um plano de ação de quais serão os parceiros ideais para o empacotamento destes projetos tanto no âmbito do mercado nacional quanto internacional.

A Abrolhos tem um olhar mais intimista para os filmes, como vocês mesmo dizem, indo do local para o global. Olhando agora como produtora-executiva da empresa, como ela se posiciona dentro das demandas atuais do mercado? 

Buscamos histórias locais que tenham relevância Global. Apesar das características culturais, uma boa história sempre poderá causar identificação na audiência internacional desde que questões universais estejam presentes. Por isso mesmo ficamos atentos a qual será o recorte e a abordagem para cada um de nossos filmes.

Principalmente quando tratamos de documentários, temos que ter uma atenção redobrada para que haja uma contextualização do assunto tratado e do momento no qual estamos inseridos. Por mais que o tema principal seja universal temos que partir da prerrogativa que a audiência de outros países não está inserida nas particularidades sociais, culturais e relacionadas ao meio ambiente do nosso país. Esse é o feedback que sempre tenho dos decision makers internacionais para projetos unscripted.

Isso é uma diretriz importante para garantir que produziremos projetos com potencial de alcance de público e, consequentemente ampliaremos as possíveis frentes para a sua viabilização.

Ao lado da produtora, há a expectativa de desenvolver diversos projetos em coprodução com outros países. Quais são os principais benefícios de produzir neste modelo e como a produção brasileira pode se valer disso para expandir sua presença de mercado? 

Co-produções internacionais costumam ser bem trabalhosas porém os benefícios de produções nesse modelo são inúmeros: além da troca profissional que é super importante tanto no âmbito criativo como executivo, as fontes de financiamento, alcance de público e fontes de receitas passam a ser maiores.

Por exemplo, o projeto passa a poder se beneficiar de fundos públicos, editais, tax rebates, investimento privado, etc de mais de um país. Além disso, já se parte da premissa que será distribuído minimamente em dois países. A estratégia de festivais internacionais, busca por distribuidores, sales agents e campanhas de marketing são potencializadas. Todo esse trabalho tende a resultar em mais fontes de receita já que o intuito é que o projeto alcance público e seja distribuído no máximo de países possíveis.

Obviamente é mais complexo do que isso e existem várias regras e prerrogativas nos acordos bi e multilaterais que devem ser cumpridas. Infelizmente não é todo projeto que tem a devida adequação a uma co-produção internacional.

O Brasil é um país muito singular, porque além da língua falada ser português é um país extremamente populoso. Ou seja, a tendência durante muitos anos foi que a produção audiovisual brasileira estivesse fechada nela mesma. Hoje em dia, após a COVID, as receitas provenientes da janela de cinema ainda têm sido irrisórias e, apesar dos streamings estarem ajudando nessa equação a competição é desleal. Mais do que nunca o mercado internacional passa a ser uma vitrine fundamental para que possamos viabilizar produções independentes das quais possamos manter os direitos patrimoniais das obras.  

Você tem uma vasta experiência no meio, passando pelos mais diversos tipos de produção, qual sua avaliação destes anos de mercado, como ele evoluiu e se transformou? 

De um lado, com a vinda dos streamings o mercado brasileiro se profissionalizou muito e provou a altíssima competência dos nossos profissionais. Os estúdios passaram a investir de forma mais adequada no desenvolvimento de projetos no Brasil. Finalmente, o papel de show runners e a importância da formação de salas de roteiro passou a ser valorizado. Temos ainda um caminho pela frente, mas já melhorou muito em comparação ao que era.

Passou a haver investimento para séries grandes dos mais distintos gêneros e fomos capazes de imprimir o devido valor de produção, antes tão desafiador principalmente para séries de televisão. Séries e filmes brasileiros passaram a ser conhecidos ao redor do mundo e não mais apenas aqueles títulos de sempre como: Cidade de Deus, Tropa de elite, etc

Porém, do outro lado, a produção independente sofreu demais com o último governo já que todas as iniciativas e fundos públicos foram congelados. O impacto extremamente negativo que a pandemia teve com relação a janela de cinema também foi e ainda está sendo um baque. A cadeia desbalanceou. Os exibidores e distribuidores passaram a não ter nenhuma receita. Logo não conseguiam pagar o P&A para o devido lançamento dos filmes e, consequentemente, o produtor independente que mal conseguia ter verba para produzir seu filme, acabava lançando-o do jeito que dava. Ninguém assistia e muito menos ficava sabendo. E, assim se dava o efeito dominó.

Tudo isso prejudicou imensamente as possibilidades de co-produções internacionais. Já que, o produtor brasileiro mal conseguia cumprir perante o seu co-produtor internacional a parte que lhe cabia referente ao financiamento.

Com o novo governo estamos otimistas e numa fase de retomada, mas acredito que ainda vá demorar um pouco para que a produção independente brasileira volte a alcançar o equilíbrio. Infelizmente, andamos para trás e agora estamos correndo atrás do prejuízo.

Como enxerga a indústria brasileira neste momento e quais pontos são necessários trabalhar agora para pavimentar um caminho mais estável no futuro da nossa produção? 

Na minha opinião é hora de retomarmos o fôlego e buscarmos soluções criativas.  Tudo que aconteceu veio para mostrar que não podemos depender apenas de um modelo de financiamento. A indústria tem que poder sobreviver a crises, tanto econômicas como políticas, porque elas sempre existirão. Não podemos depender apenas dos subsídios públicos. Da mesma forma que não podemos depender apenas dos streamings. Temos que buscar compor através de parcerias criativas, distintas formas de financiamento nacionais e internacionais e até mesmo através de alianças mais ousadas.

Atualmente estou baseada em Toronto e tenho visto iniciativas muito interessantes do mercado internacional que acredito que será uma questão de tempo para serem adotadas também no Brasil. Séries de televisão que tiveram alcance de público local e foram financiadas através de recursos públicos fazendo alianças com os streamings e aumentando assim ainda mais o alcance da audiência para nível Global. Como foi o exemplo do Shits Creek produzido pela CBC Canadá, que posteriormente foi comprada pela Netflix. Uma negociação bem sucedida para ambos os lados pois a série jamais teria tido uma repercussão mundial se não tivesse sido vendida para a Netflix. O que mudou? Eles entenderam que não competiam e sim, podiam ser complementares. Outro exemplo, é a série das Casas Mais extraordinárias do Mundo produzida pela BBC agora no line up da Netflix.

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