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08 Fevereiro 2023 | Yuri Codogno

"Dá Licença de Contar": longa abordará a conexão entre Adoniran Barbosa e a cidade de São Paulo

Filme que será distribuído pela Elo Studios está sendo gravado no bairro do Bixiga

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(Foto: Divulgação)

Existem poucas cidades no mundo que possuem uma relação tão forte com alguma pessoa quanto São Paulo está conectada à história do sambista Adoniran Barbosa. Figura marcante na capital paulista, Adoniran compôs canções que acompanharam o passar dos anos de São Paulo, homenageando-a com seus sambas. E agora chegou o momento do cantor ter sua devida representação nas telonas.

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O Portal Exibidor visitou o set de filmagens de Dá Licença de Contar (Elo Studios), no Centro Cultural Vila Itororó, localizado no bairro do Bixiga, e teve a oportunidade de conversar com o diretor Pedro Serrano e com o ator Paulo Miklos, que, após quase uma década, volta a interpretar Adoniran Barbosa. O filme é produzido pela Pink Flamingo.

A história de Dá Licença de Contar começou com o premiado curta-metragem homônimo lançado em 2015, escolhido como o melhor curta pela crítica no Festival de Gramado. “Foi uma coisa meio natural, não era planejada e aí depois do Festival do Rio veio a proposta de uma distribuidora. São sete anos de captação para estar aqui”, explicou Pedro Serrano sobre transformar o curta em longa.

Apesar disso, o diretor ressaltou que, por vários festivais, ouviu o público dizendo que o curta deixava um gostinho de quero mais: “Primeiro veio o feedback das pessoas, sabe? 'Pô, cara, essa história rende longa’. Aí comecei a matutar isso, mas ainda sem o planejamento profissional para fazer isso acontecer”.

“Tem sido uma delícia [revisitar o papel]. Inclusive revisitar também os parceiros de cena, então a gente reanima essa coisa que foi muito feliz no passado. O curta foi um mergulho gostoso no universo do Adoniran, tudo que a gente aprendeu ali, então estamos trazendo agora pro longa e nos aprofundando”, contou Paulo Miklos.

O ator também destacou como tem sido incrível e desafiador transformar um recorte da história de Adoniran e da cidade de São Paulo em um longa-metragem: “O Adoniran era um personagem do João Rubinato e ele queria falar a respeito justamente dessa passagem do tempo, de uma São Paulo que ele viveu e das transformações. Então ele é como se fosse a personificação de um outro tempo, conversando com a modernidade e, de uma certa forma, eterna”.

Os acontecimentos do filme remeterão a dois momentos da cidade de São Paulo e Pedro Serrano contou um pouco sobre esse processo: “A gente redesenhou duas São Paulos: uma dos anos 80, que são os últimos anos da vida de Adoniran, onde ele já via uma cidade embrutecida, um pouco mais cinza, onde o progresso já tinha transformado muito a cidade onde ele viveu. E essa, a cidade onde ele viveu, é a segunda cidade que a gente reconstruiu, que é a cidade dos anos 50. Uma cidade mais provinciana, mais humana, onde o contato humano era mais frequente”.

A representação dos anos 1950, porém, terá um leve toque fantasioso, que visa honrar o olhar de Adoniran Barbosa. “Essa São Paulo dos anos 50 é uma São Paulo onírica, uma viagem para uma cidade que não existe mais e que ele relembra com grande afeto, com grande carinho e com certa fantasia. Então o filme, quando vai pra esse passado, vai pra essa fantasia, pra essa parte mais onírica em busca dessa memória de um passado idílico”, completou o diretor.

E a relação do filme com a cidade vai além de sua representação e do espaço físico, pois o longa busca fazer com que o público encontre conexões com suas raízes, seja através da localidade ou das músicas. “O Adoniran chamava São Paulo de ‘o inferno que anda’ e é isso, né? Quer dizer… é uma coisa que não para nunca. São Paulo não pode parar e essa é outra máxima a respeito da cidade: a cidade que não dorme. Mas o que a gente quer preservar, principalmente no meio disso, é o ser humano. Acho que o Adoniran foi um grande cronista do ser humano, dos habitantes dessa cidade, especialmente aqueles com mais dificuldades, que são os que mais sofrem com esse rolo compressor do progresso e do sucesso também, de você ter que conseguir uma colocação e isso tudo com muita dificuldade. Então através do tempo o Adoniran foi o grande cronista desse drama dos paulistanos e agora a gente está vivendo esse drama”, ressaltou Paulo Miklos.

Dá Licença de Contar ainda não possui uma data oficial de lançamento, mas a previsão é de que entre em cartaz no segundo semestre de 2023 ou até mesmo no início de 2024. Independentemente da data de estreia, Pedro Serrano espera que o filme possa tocar as pessoas: “Mais do que pensar até onde o filme pode chegar, gosto de pensar sempre no micro. Cada sessão que consegue estar presente, cada pessoa que ele impacta, de um jeito que impactou de verdade, e que emocionou, que ajudou a contar um pouco da história daquela pessoa. Porque muitas pessoas falam ‘puta, esses sambas são parte da minha vida’. Pra mim, quando atinge nesse micro, já valeu. Mais importante, às vezes, do que o macro, de até onde pode chegar em números, de festivais. Gosto sempre de pensar o que significa para as pessoas e para a história de cada um. E o Adoniran tem esse vínculo com a história das pessoas, das famílias, da tradição oral”.

“Acho que a mensagem do filme é justamente essa possibilidade de encontrar a felicidade, de ter orgulho do lugar que a gente habita, de cuidar disso, de saber que existe uma máquina que pode ser violenta, a do progresso inexorável”, completou Paulo Miklos.

Apesar disso, há esperanças de que o longa-metragem possa atingir um bom número de público. ”Tenho expectativa de fazer um filme que corresponda à obra do Adoniran, que acho que é um patrimônio cultural, mas que ao mesmo tempo é popular. O ser popular não significa tornar a linguagem simples e cair em determinados vícios de linguagem, mas tenho a expectativa de que atinja um público vasto. Mas, de novo, sem perder essa essência cultural que ele representa. Então acho que ele tem esse papel de resgate dessa figura, ao mesmo tempo é um resgate da história da cidade, que Adoniran e São Paulo caminham juntos nesse sentido”, contou Pedro Serrano.

De fato, o longa-metragem tem chances de ganhar proporções ainda maiores quando estrear e, muito disso, é graças à onda de filmes que estão sendo lançados sobre algumas lendas da música nacional. Só este ano, já estreou Me Chama Que Eu Vou, sobre o Sidney Magal, e ainda tem outros três filmes em produção: Elis & Tom, Só Tinha de Ser com Você; Meu Nome é Gal; e Jair Rodrigues - Deixa que Digam.

“Acho bom, acho que vai chegar minha vez, já que é assim, né? Eu tô brincando, mas já existe uma peça de teatro muito bacana, muito bem-feita e se chama ‘Cabeça Dinossauro’. Então é muito bacana você se ver retratado, acho que isso tem a ver com a importância cultural que a gente tem através do tempo, de você ser reconhecido e de deixar uma marca”, revelou Paulo Miklos. 

Dá Licença de Contar, aliás, além de entrar em contato com a história e legado do Adoniran e das canções dele, tem também alguns objetos pessoais que a produção teve acesso e que estarão, em alguns momentos, em cena, engrandecendo a homenagem.

Por fim, Pedro Serrano reforça os motivos do filme ter de ser assistido nos cinemas: “Ele resgata uma figura importante cultural, mas ele tem um apelo popular, no sentido de contar tanto a história da cidade, quanto as histórias dos sambas. Acho que o público se surpreende muito quando vê as histórias dos sambas contadas na tela. Isso provoca uma reação muito legal de todo mundo que já ouviu e conheceu. Quando for passado no famoso boca a boca, tem bastante potencial para levar as pessoas a assistirem, se identificar e encontrar a relação que elas próprias têm com a história desse samba e com o Adoniran”.

“Essa marca do Adoniran é uma marca muito bonita, de percepção do próximo, sabe? De contar a história dessa cidade pelo olhar dos mais necessitados. Então tem muito humor, ao mesmo tempo ela é triste também porque é muito trágica, é dramática a situação dos personagens e ao mesmo tempo a capacidade de sempre de sobrepor as dificuldades com muito samba e com muito humor, com aquela maneira muito especial de falar. Então tem toda essa genialidade do Adoniran que a gente tá trazendo aqui no filme”, concluiu Paulo Miklos.

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