18 Janeiro 2023 | Yuri Codogno
"Eu vejo um caminho muito bonito pela frente", ressalta Alê Abreu sobre o mercado de animações nacionais
Cineasta, que estreia a animação "Perlimps" em fevereiro, conversou sobre o filme e a indústria com o Portal Exibidor
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A animação nacional Perlimps (Vitrine Filmes) entra hoje em cartaz nos cinemas franceses. E logo mais, a partir do dia 9 de fevereiro, o público brasileiro terá a chance de assistir ao longa nas telonas. O Portal Exibidor teve a oportunidade de conversar com Alê Abreu, cineasta que assina a direção e roteiro de Perlimps, além de ter sido o responsável pela bela ilustração do filme.
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A trama apresenta a jornada de aventura e fantasia de Claé e Bruô, agentes secretos de reinos rivais que precisarão superar suas diferenças e unir forças para encontrar os Perlimps, criaturas misteriosas capazes de encontrar um caminho para a paz em tempos de guerra. Por si só, toda a ideia de Perlimps é bastante criativa, mas, apesar disso, Alê não consegue definir exatamente o que o inspirou.
“Meu processo de trabalho é quase como uma investigação. Eu vou juntando peças, como se eu me propusesse a um desafio. Vou colecionando desenhos, sensações, situações, vou anotando… aí nesse processo, eu começo a perceber que esse personagem ou aquele começa a fazer parte desse filme, até que chega o ponto que eu tenho quase que um argumento, mas que ainda precisa ser atualizado com começo, meio e fim. Por isso é difícil falar o que me inspirou. A maior inspiração é estar ligado a tudo no dia a dia que nos inspira a criar”, contou o cineasta.
Na questão visual, algo que chamou bastante atenção desde o momento em que saiu o primeiro trailer, as inspirações de Alê também se misturam: “A parte visual tem também muitas notas. Eu vou encontrando os personagens e os lugares nessa brincadeira. Mas chega um momento em que forma e conteúdo precisam se entender. No Perlimps, em específico, o caminho visual vem muito da própria ideia dos perlimps, na medida que eles vêm de uma explosão de luz, eu queria trazer essa explosão, esse mundo colorido”.
A qualidade da animação rendeu a Perlimps uma oportunidade de ser exibida no Festival de Annecy de 2022 - o principal evento mundial de animações -, dentro da sessão Événements Excepcionelles. Mas não foi a primeira experiência do cineasta no evento, visto que Alê Abreu foi o vencedor da edição de 2014 com o filme O Menino e o Mundo. “[Estar de volta] parece que completa um ciclo. Annecy é um grande local de encontro da animação mundial. É muito prazeroso e é uma responsabilidade muito grande ter o mundo te olhando”, destacou.
Programado para estrear no circuito nacional comercial na segunda semana de fevereiro, as expectativas para Perlimps, segundo Alê Abreu, estão altas, mesmo reconhecendo que não é um filme com grande orçamento de lançamento: “Eu tenho muito claro que as salas de cinema ainda não recuperaram o público de antes da pandemia, mas estou muito feliz com a chegada do filme para o público, então gera uma expectativa e uma alegria muito grande. Então quero acreditar que ele merece chegar onde merece estar”.
Em relação ao público, Alê acredita que a mensagem de Perlimps irá tocar os espectadores, especialmente porque, há alguns anos, o Brasil está bastante dividido. “Perlimps trata de dois seres que vêm de mundos opostos e que precisam se tornar amigos para fazer mudar aquele mundo deles. Em um lugar que a gente vê tão polarizado, apesar de não ter sido feito pensando nisso, ele acaba falando disso”, disse o diretor.
Além dessa questão, o tratamento gráfico é algo dito como destaque por Alê Abreu: “Uma explosão de colorido. É um tipo de filme que a gente não está tão acostumado a ver comercialmente”. Indo além, o cineasta completa que o filme traz um diálogo familiar, auxiliando o adulto a resgatar seus elos da infância e a criança a ter uma luz para enxergar o mundo adulto: “é um filme que pode falar pra toda família. E é muito pra uma discussão, um diálogo entre pais e filhos, sobre a infância que teve e sobre o mundo dos adultos”.
Abrindo a conversa para a indústria como um todo, Alê Abreu acredita que, pelos lançamentos de filmes e séries, o Brasil está no caminho certo com suas animações. “O Brasil vem há muitos anos construindo e buscando entender o que é a animação brasileira. Esse é o grande desafio, assim como entender o que é cinema de animação no Brasil, e eu acho que a gente tem tido sucesso, com novas séries, novos autores e novos longas. E eu vejo como um caminho muito bonito pela frente. Eu acho que no espaço a demanda da TV principalmente para séries de animação e o mercado explodiu bastante. E aí para sair novos longas é um pulo”, concluiu sua ideia.
Pensando no próprio futuro, porém, Alê ainda não tem muito a revelar. Apesar disso, ressaltou que está pensando em um longa que dialoga com O Menino e o Mundo, tratando-se do mesmo universo. E também um curta, mas o cineasta preferiu ainda não dar mais detalhes.
Voltando a Perlimps, esse foi um forma diferente de trabalho para o cineasta, visto que havia mais pessoas envolvidas com a produção, como Laís Bodanzky (A Viagem de Pedro e Bicho de Sete Cabeças) e Luiz Bolognesi (Uma História de Amor e Fúria, vencedor do prêmio principal de Annecy de 2013). “Um detalhe que é muito legal, esse filme diferentemente dos outros, foi feito por muitas cabeças. Pela primeira vez eu tinha produtores trabalhando comigo, foram cabeças que o tempo todo estiveram me questionando e ajudando a direcionar o filme para o lugar que ele chegou. E acho que isso fica muito marcado no resultado dele”, finalizou Alê Abreu.
Além dos produtores e da distribuição da Vitrine Filmes, Perlimps foi produzido junto a Buriti Filmes. Sony Pictures, Globo Filmes e Gloob assinam a coprodução. O elenco de dublagem conta com as vozes de Lorenzo Tarantelli, Giulia Benite e Stênio Garcia.
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