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07 Dezembro 2022 | Renata Vomero

"É impossível pensar em crescimento de mercado sem considerar as histórias negras", diz diretor da Diáspora Conecta

Emerson Dindo conversou com o Portal Exibidor sobre o Dia.Lab, programa de imersão de profissionais negros do audiovisual

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(Foto: Milena Palladino)

Começa hoje (7) e vai até o dia 13 de dezembro, a quarta edição do Dia.Lab, programa internacional imersivo focado na profissionalização de produtores e roteiristas negros por meio do desenvolvimento de projetos cinematográficos de ficção e documentário. Novamente no presencial, a iniciativa, realizada pela Diáspora Conecta, acontece em Camaçari, no Litoral Norte da Bahia. 

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Foram selecionados oito projetos neste ano, sendo cinco de ficção e três documentários, todos eles são de cineastas das mais variadas regiões do Brasil, além de haver profissionais do México e Colômbia neste ano. A chave, no entanto, desta edição, é a volta ao presencial, que reforça esse senso de comunidade tão bem consolidado pelo programa.

“O Dia.Lab presencial significa isso, essa conexão, esse momento de integração entre pessoas com as mais variadas sensibilidades e histórias. Também significa a materialização de uma comunidade, ainda que passageira, transitória, mas que quando formada uma fricção, ela é transformadora nos mais variados aspectos, tanto do ponto de vista emocional, profissional e pessoal, mas também do ponto e vista técnico, do projeto, roteiro e produção”, explicou Emerson Dindo, diretor executivo da Diáspora Conecta.

Fazem parte da seleção desta edição do Dia.Lab: Alex e O Canto da Cigarra, ambos da Bahia; Experiências Incômodas em Dias Nublados, Rio de Janeiro/São Paulo; Liberdade é não ter medo, Rio de Janeiro/São Paulo; Pega a Laço, São Paulo/ Alagoas; Sou Sua Pessoa Amada, Distrito Federal/São Paulo; Carabali, do México - selecionado a partir do prêmio Miradasdoc; e Un Viejo Sin Documentos, da Colômbia.

“Este ano temos uma seleção um tanto mista, filmes com olhar mais experimental, outros que são mais comerciais, que flertam com a comédia e dramas, uma variedade de filmes que extrapola uma caixinha. Tentamos aproveitar ao máximo as histórias que vieram para tentar criar pontes com os mais variados lugares, seja com as plataformas de streaming, festivais ou público final. Essa seleção teve um pouco esse olhar, mas a gente não pode perder o que caracteriza o Diáspora, que é contar as histórias que a gente acredita e que ajudem a contar a história desse povo preto, que até recentemente foi muito subrepresentado nas telas”, destacou Dindo.

Claro que essa volta seria celebrada com novidades, para além das já consagradas parcerias com o Miradasdoc, da Espanha, e o Projeto Paradiso, ambos garantindo prêmios financeiros (que se somam ao prêmio do próprio Dia.Lab), desta vez o programa trará o Dia.Lab Audience. A nova iniciativa tem como objetivo fazer um design de audiência de alguns desses projetos, para que sejam desenvolvidos em caráter mais assertivos, também pensando em seu desempenho comercial no futuro, algo que o programa tem total preocupação.

Pela primeira vez neste ano, foram abertas chamadas para países ibero-americanos, além daqueles do continente africano cuja língua oficial seja o português. A ideia é ressaltar assim dois dos importantes pilares que fazem parte do Dia.Lab: criação de uma comunidade potente e a possibilidade de internacionalização dessas histórias. Tudo isso, a partir da troca e do networking potencializado na imersão.

“A gente entende que esse espaço múltiplo e diverso é lugar de fertilidade, de produtividade,  de encontro de modo que essa comunidade comece a ampliar e que contamine cada vez mais o nosso continente e chegue a diversos lugares do mundo”, reforçou o diretor executivo.

Para que tudo isso ganhe corpo, durante o programa, os responsáveis pelos projetos recebem assessoramento por meio de workshops, palestras, estudos de caso, exibição de filmes e consultorias direcionadas ao aprimoramento das narrativas audiovisuais, ao desenvolvimento profissional e à capacitação criativa e mercadológica dos participantes. 

Para as consultorias do Dia.Lab 2022 foi selecionado um time formado por cinco  profissionais premiadas do Brasil e do exterior: Xenia Rivery (Havana, Cuba), roteirista, professora e consultora de projetos; Claudia Gonçalves (São Paulo, Brasil), produtora executiva e consultora; Manoela Ziggiatti (Ceará, Brasil), montadora, documentarista e consultora; Leandro Santos (Bahia, Brasil), roteirista, diretor e consultor; e Tanya Valette, (Santo Domingo, República Dominicana), produtora executiva e co-gerente da produtora Monte & Culebra SRL.

Com tantos profissionais de excelência fazendo parte do programa, de ponta a ponta, fica evidente o quão urgente e necessário é o mercado amplificar as vozes e o espaço para que todos esses realizadores consigam dar vida às suas histórias.

Aliás, para Emerson Dindo, pensando economicamente e comercialmente, não tem como a indústria não abarcar essas narrativas e a produção que está sendo feita – de forma tão potente – por todos os cantos do Brasil.

“O principal elemento que salta nessa diversidade é que a gente tem uma produção de história muito potente no Brasil, os roteiristas e produtores negros do Brasil sempre tiveram a capacidade de fazer qualquer coisa, mas que de alguma forma a estrutura inviabilizava que essas histórias chegassem a outras pessoas, principalmente nas telas. É impossível pensar em um crescimento e desenvolvimento de mercado sem considerar as histórias negras como os grandes vetores de crescimento e desenvolvimento desse mercado”, reforçou.

E esse é um movimento global e que tem abraçado todas as mídias do audiovisual. A diversidade de histórias e a representatividade racial e étnica são elementos cruciais para pensar nessa indústria do futuro. Para tal, se torna impensável não celebrar projetos e programas como o oferecido pela Diáspora Conecta.

No entanto, eles servem para evidenciar a falta que há em iniciativas políticas e públicas para que estas criações consigam ser viabilizadas: desde o apoio à capacitação, passando pelo fomento às produções, os incentivos para as exibições e o aporte para que haja acesso do público a estas histórias.

“Recebemos cerca de 500 projetos ao longo destes anos. Esse número só comprova que a gente tem muitas histórias para acontecer e que tudo o que vimos na tela até então não chega a um décimo daquilo que a gente pode narrar e produzir no país. Se pensar em valores econômicos, imagina o quanto de recurso a gente consegue mobilizar, o quanto de empregos conseguimos gerar, o quanto de renda, imposto, etc. Talvez o que a gente precise é de um olhar estratégico”, finalizou.

Desde sua criação em 2018, o Dia.Lab já recebeu mais de 470 projetos de roteiristas e produtores das cinco regiões do Brasil e selecionou 60 participantes de 13 estados brasileiros e de outros cinco países. Totalizando 700 horas de atividades de capacitação, o  Dia.Lab teve, até o momento, a presença de 80% de participantes negros e 55% de mulheres.

 

Confira abaixo as premiações do Dia.Lab:

Os projetos selecionados concorrem ainda ao Prêmio Diáspora, que trata-se de um estímulo ao desenvolvimento narrativo para um dos projetos participantes do Diáspora Lab 2022 no valor de R$10 mil, além de premiações concedidas pelos nossos parceiros:

Prêmio Miradasdoc: seleção de um dos projetos de documentário para participar da próxima edição do Fórum de Coprodução África - América Latina AFROLATAM LAB, em 2023, com todas as despesas pagas;

Prêmio Paradiso: seleção de um dos projetos de ficção com inclusão do respectivo na Rede Paradiso de Talentos, além de apoio para o desenvolvimento do projeto no valor de R$3 mil.

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