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28 Outubro 2022 | Yuri Codogno

Telecine apresenta estudo que aponta "spoiler emocional" como determinante na hora do público escolher algum filme

Segundo a pesquisa, espectadores querem saber qual sentimento vão sentir ao assistir ao longa

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(Foto: Divulgação)

Em um estudo inédito, o Telecine revelou como as emoções conduzem os novos hábitos dos brasileiros no consumo de filmes. A empresa realizou dois eventos para apresentar a Pesquisa Gêneros e Emoções, um na segunda-feira (24) e outro ontem (27), para explicar os resultados do levantamento. O Portal Exibidor esteve presente em ambas as ocasiões e acompanhou as apresentações.

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Segundo a pesquisa, as emoções passaram a ser fator-chave na hora que o público escolhe algum gênero e título. Com o consumo do audiovisual se intensificando ao passar dos anos (em especial desde 2020, com o boom do streaming por causa do isolamento social), novos hábitos surgiram, como o conforto e o aconchego ganhando relevância ao assistir um filme em casa, além das escolhas serem pautados pelas sensações que cada indivíduo deseja sentir no momento. 

Como resultado, a pesquisa que foi encomendada pelo Telecine e realizada pelos institutos Coletivo Tsuru e Quantas, descobriu-se que os espectadores buscam uma fuga do mundo real, assim como a retomada do controle do tempo, das emoções positivas e, assim, das compensações.

A pesquisa mostrou que duas a cada três pessoas ouvidas declararam ter ampliado seu interesse por filmes e séries na pandemia em busca de lazer dentro do próprio lar e também da fuga do contexto externo. Esse novo hábito veio acompanhado de mudanças que aumentem o conforto, como investimento em tecnologia (50%), como uma televisão nova; em conteúdo (48%), principalmente em serviços de streaming; em uma conexão melhor de internet (46%); e um novo sofá (25%). 

O grande destaque, porém, foi o chamado “spoiler emocional”, caracterizado pelo espectador querendo saber o que vai sentir ao assistir determinado filme ou série. Diferente do habitual spoiler, que é descobrir o desfecho da história antes de vê-la, o espectador se apoia no spoiler emocional para ter certeza que irá assistir algo que vai propiciar os sentimentos que gostaria de sentir.

Simultaneamente, a busca pelo controle do tempo faz com que haja preferência por filmes do que por séries. Enquanto em um longa o espectador sabe exatamente quanto tempo irá gastar, em uma série há mais exigência de tempo. A pesquisa apontou que 84% concordam que filmes permitem melhor planejamento/controle do tempo do que as produções seriadas. Além disso, os longas-metragens são garantias de início, meio e fim, que, diferentemente de séries, o desfecho final é sempre empurrado para a temporada seguinte. 

 

Mais descobertas da pesquisa

Dividida em duas etapas - qualitativa (com pequenos grupos de classes sociais, gêneros e etnias diferentes) e quantitativa (com 1452 pessoas) -, a pesquisa apontou diversos pontos importantes para toda cadeia cinematográfica do país. Por exemplo, duas a cada três pessoas são da Classe C, com renda familiar média inferior a 4 salários mínimos, o que impede maior adesão aos cinemas.

Mas indo além, o estudo trouxe um comparativo entre 2018 e 2022. Antes, ao assistir um filme, um grupo de pessoas buscava um jeito despretensioso de relaxar e de se distrair, sem pensar muito a respeito. Mas também havia aqueles que queriam elaborar questões da própria vida e pensar sobre o que foi assistido. Simultaneamente, os grupos se dividiam em assistir um filme que disponibilizavam o mesmo mood do momento ou algo que ajudasse a mudar o que estavam sentindo.

Entretanto, o cenário mudou radicalmente no pós-pandemia. No levantamento de 2022, não bastava relaxar; agora a busca é por se desconectar da realidade e por imergir naquele universo. Além disso, os espectadores também estão mais suscetíveis a expandir para outros sentimentos, deixando-se levar pelo conteúdo e permanecendo quase que em estado  catártico.

Para avaliar o que o público tem buscado ao assistir um filme, a pesquisa também realizou um levantamento de como as pessoas estão se sentindo. Em um contexto macro, envolvendo questões além da própria vida privada, as emoções negativas dominam, como cansaço, querer o “aqui e agora” e o desejo de se curar dos tempos ruins. Já no aspecto micro, que envolve questões mais íntimas, houve mais espaço para emoções positivas. 

Deste modo, a pesquisa avaliou como o controle do tempo e das emoções, mantendo rotina e aconchego, é a busca principal dos espectadores. E isso se conecta diretamente com o já comentado spoiler emocional, pois assim o público sabe quantas horas vai gastar para assistir aquele filme (controle do tempo) e também quais sensações terá durante e após a experiência (spoiler emocional).

E o que mais importa na escolha de um filme? O gênero, porque aprendemos assim desde sempre, mas também se o longa é muito comentado, se é recomendado por amigos ou indicado nas redes sociais e se é indicação de influencer são questões levadas em consideração. Como são sugestões relativas, em que o público diz o que achou e como se sentiu, acaba também por ser um direcionamento das emoções, novamente se conectando ao spoiler emocional.

A pesquisa também apresentou alguns gráficos que exemplificam como o humor da pessoa se conecta ao gênero. Quem está desanimado opta mais por ficções e desenhos, porque há a fuga da realidade; alguém acuado quer o romance pelo aconchego; já pessoas positivas se abrem mais ao drama, visto que aceitam uma carga dramática maior naquele momento; e quem está mais imediatista prefere se conectar com a realidade, como filmes baseados em fatos.

Por fim, um rápido panorama de diferentes gêneros e tipos de filme: romance atrai pessoas que querem um final feliz; comédia romântica acaba sendo ideal para o compartilhamento de emoções; clássicos são buscados por aqueles que estão na procura de companhia para atividades; o cinema nacional cria conexão com o hoje, aqui e agora; temáticas LGBT é uma fuga da realidade e conhecimento de outros universos; comédia para relaxar; filmes de super-heróis são fugas da realidade; busca drama quem gosta de qualidade técnica; terror é a imersão, mas também fuga da realidade a partir de um universo mais deteriorado do que o do espectador; suspense é alvo de quem quer fortes emoções variadas; ação é uma escolha certeira e que não envelhece; ficção ajuda na imersão e fuga; e animações proporcionam relaxamento.

Claramente cada gênero também possui outras características e as pessoas buscam por outros motivos. Mas é um bom panorama de como as emoções se conectam com cada tipo de filme. 

Line-up, cinema e Telecine: “temos como missão promover a ida ao cinema”

Durante a apresentação do dia 24, o Telecine apresentou quais filmes serão incluídos em seu catálogo nos próximos meses. Além disso, Sovero Pereira, CEO da Telecine, cedeu entrevista exclusiva ao Portal Exibidor e contou quais são os planos da empresa e também passou um panorama do mercado como um todo.

Antes foram apresentados os títulos: Sonic 2 e A Viagem de Pedro, que já estrearam na plataforma, Top Gun: MaverickJurassic World: Domínio, Minions 2: A Origem de Gru, Não! Não Olhe!, Halloween Ends e Telefone Preto são os próximos a entrarem no catálogo. Além de Gato de Botas 2 e Nosso Sonho, que ainda nem entraram em cartaz nos cinemas, mas que já estão garantidos no Telecine.

Sovero aproveitou o momento e destacou como um filme que faz boa campanha no cinema é ótimo para o próprio Telecine. “O Telecine tem como missão promover a ida ao cinema e promover os filmes quando estão nessa primeira janela. O filme que fez uma carreira bacana, seja de público ou de crítica, atrai mais gente pro Telecine e deixa os assinantes do Telecine melhor atendidos”, ressaltou o CEO.

Apesar disso, é de conhecimento geral que a retomada dos cinemas ainda não aconteceu por completo, apesar dos filmes-eventos, como os blockbusters, estarem registrando bons públicos. “O filme médio ainda não aconteceu e o filme nacional, que ficou muito represado, também sofreu bastante e, em parte, foi até para os streamings. Mas acho que agora a gente está num momento de reconstruir a relação do público com o cinema e de promover a ida ao cinema”, disse Sovero.

Em relação ao Telecine, os planos do grupo é fazer a plataforma não apenas crescer, mas entregar com mais exatidão aquilo que o público quer ver. “Há uma equipe de especialistas que está ali agrupando os filmes em moods, em temáticas, em diretores, em escolas de cinema, pra te ajudar nessa escolha. É muito importante que a pessoa saiba não spoiler do filme, mas spoiler da emoção, como vimos na pesquisa, e assim descobrir de antemão o que ela pode esperar daquele tempo que ela comprometeu para ver o filme”, informou Sovero. Aliás, ele destacou que a curadoria especializada é o que falta por enquanto nesse universo de diversas opções de streaming.

Por fim, Sovero também comentou do futuro a longo prazo do Telecine e afirmou que a tecnologia é parte essencial para entregar um conteúdo mais preciso. “A gente vai estar sempre andando junto do cinema e nossa vocação é fazer que o filme certo chegue para a pessoa certa e no momento certo. À medida que a tecnologia vá permitindo que a gente combine essa curadoria, que hoje é humana, com a recomendação do comportamento, eu acho que esse é o futuro da nossa indústria e do Telecine. Essa mistura de gente que entende de cinema com o que o algoritmo dá, é pra gente fazer com que as pessoas encontrem rapidamente e exatamente aquilo que precisam naquele momento. O futuro é uma mistura de tecnologia com curadoria”, concluiu o CEO.

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