14 Setembro 2022 | Yuri Codogno
"Os estúdios prezam pela acessibilidade de conteúdo", ressalta MPA após sessão acessível em Brasília
Evento exibiu "Top Gun: Maverick" para pessoas com deficiência auditiva ou visual que nunca haviam ido ao cinema
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À medida que o prazo se aproxima para que todos os cinemas nacionais sejam equipados com recursos de acessibilidade de conteúdo, na primeira semana de janeiro de 2023, os exibidores buscam realizar os últimos ajustes para se adaptar às normativas da Ancine e a um mundo mais inclusivo. Antes, porém, foi realizada uma sessão que demonstrou como uma das novas tecnologias irá funcionar.
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O Portal Exibidor foi convidado a cobrir o evento que exibiu Top Gun: Maverick (Paramount) ontem (13) em Brasília, no Espaço Itaú de Cinema do shopping Casa Park, e teve a chance de acompanhar como as novas tecnologias serão fundamentais para que pessoas com deficiência auditiva ou visual possam ter uma experiência mais completa nos cinemas. A iniciativa do evento foi da Motion Pictures Association (MPA) e contou com a participação de vinte cegos e vinte surdos que nunca haviam ido ao cinema.
O equipamento usado foi desenvolvido pela Riole, funciona por infravermelho e só faz a transmissão dentro da sala onde o filme está sendo exibido. Os cegos, através de fones de ouvido, ouvem uma audiodescrição que complementa o áudio original do filme. Para quem possui deficiência auditiva, o equipamento se assemelha a um smartphone, que, através de uma haste, se conecta no porta-corpos e exibe legendas descritivas e também LIBRAS simultaneamente ao longa.
Importante ressaltar que os equipamentos são individuais e, mesmo na sua versão que emite imagem, não interfere em nada na exibição do filme para os espectadores que não necessitam deste tipo de acessibilidade.
Para que o filme seja considerado totalmente acessível, ele precisa dos recursos de legendagem, legendagem descritiva, audiodescrição e LIBRAS, questões que são cumpridas pelos filmes de Hollywood desde 2017. “Os estúdios da MPA prezam, acima de tudo, pela acessibilidade [de conteúdo]. A coisa mais importante que a gente quer é que as pessoas com deficiência vivam uma das melhores experiências de suas vidas, que é por meio do cinema”, ressaltou Andressa Pappas, diretora de relações governamentais para o Brasil da MPA e responsável pela organização do evento.
A executiva esteve presente durante a sessão e ressaltou que, para que a acessibilidade seja mais difundida, a divulgação é um próximo desafio: “em primeiro lugar, [o próximo passo é] fazer com que as pessoas com deficiência saibam que existem muitos cinemas que estão adaptados para elas. Eu acho que isso é o mais importante, de modo que eles consigam ir até esses cinemas e assistir aos filmes que são acessíveis”.
Porém mesmo com a divulgação sendo um desafio, há uma preocupação geral em resolver tal questão. “Os esforços entre todos os agentes envolvidos continuam sendo colocados, de maneira que a gente possa propiciar que as pessoas com deficiência tenham uma experiência 100%”, ressaltou Andressa Pappas.
Segundo Andressa, há um protocolo em que as empresas podem utilizar para criar novas tecnologias de acessibilidade. E por ser aberto, qualquer um pode evoluir as tecnologias, assim a acessibilidade estará sempre em melhoria.
Em relação a tecnologia da Rioli, chamada de ProAccess e usada na sessão em Brasília, a diretora Cristiane Moro diz se orgulhar de participar desse processo: “temos muito orgulho de fazer parte dessa contribuição e poder ajudar essas pessoas com deficiência a usufruir de qualquer sessão, junto com amigos e familiares, dividindo essa emoção que o cinema nos proporciona”.
Segundo a diretora, 43% das salas brasileiras haviam adquirido os equipamentos antes mesmo da pandemia e que esperam por mais encomendas. “Temos estoque de matéria prima, porém a fabricação é feita por demanda. Como até o momento não temos muitos pedidos, a não ser por parte dos cinemas públicos, ficamos no aguardo para iniciar novos lotes”, frisou Cristiane Moro.
Nesse ponto é importante ressaltar que, no Brasil, os cinemas também podem se equipar com a tecnologia produzida pela Dolby, cujo nome é CineAssista, ficando a critério dos exibidores escolher qual será o equipamento.
Aliás, de acordo com as normativas da Ancine, a obrigatoriedade de poltronas acessíveis, independentemente da tecnologia utilizada, vai de acordo com a quantidade de salas que há no complexo. Para uma sala, será necessário ter no mínimo três equipamentos e suportes individuais acessíveis; a partir de 13 salas, o mínimo são 15 equipamentos disponíveis. A tabela completa pode ser conferida aqui. Vale também ressaltar que o valor investido pelos exibidores é elevado, o que, com o prazo final se aproximando e com o cronograma de blockbusters em baixa, dificulta muito a adesão no momento, além de que os exibidores ainda estão se recuperando da crise causada pela pandemia.
Até agora não há nada indicando que o prazo final será adiado novamente, como ocorreu em maio de 2021 e dezembro de 2019. Inclusive, antes da pandemia tomar conta do mundo, o Portal Exibidor havia sido convidado a participar de uma sessão semelhante a que foi realizada ontem. No caso, o filme exibido seria Um Lugar Silencioso - Parte II, também da Paramount.
Por essa razão, Cristiane Moro acredita que a maior ameaça para a acessibilidade seria um novo adiamento: “o maior desafio é ter a certeza que essa normativa não será novamente postergada e que o direito das pessoas com deficiência seja respeitado”.
Além de Andressa Pappas e Cristiane Moro, estiveram presentes na exibição: Cláudio Panoeiro, Secretário Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência; Vera Barros, subsecretária de Educação Integral e Inclusiva da SEED; Hélvia Paranaguá, secretária de Educação do Distrito Federal; representantes da Secretaria Especial de Cultura; Péricles D'Ávila e José Guilherme Franco, executivos da Disney; e Cesar Silva, Vice-Presidente e Diretor Geral da Paramount Pictures Brasil.
Por fim, Cesar Silva me convidou para aproveitar, de olhos fechados, algumas cenas do filme utilizando o equipamento de audiodescrição. Apesar de não ser possível fazer muitas comparações, a sensação que tive é que, de maneira muito lúcida, as partes descritivas do roteiro do longa estivessem sido lidas para mim, porém sempre respeitando o áudio original do filme e os diálogos, não havendo locução simultânea a eles.
Não apenas por essa experiência, mas principalmente por ver como os cegos e surdos estavam se divertindo com o filme, só podemos chegar a duas conclusões: os equipamentos de acessibilidade funcionam e que o cinema é, sim, um lugar para todos.
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