De Repente Drag (Elo Company) chega em 4 de agosto em diversos cinemas selecionados do Brasil trazendo uma história que envolve humor, investigação e muita representatividade bem construída. O filme tem assinatura de roteiro e direção de Rafaela Gonçalves, participações especiais de Silvero Pereira, Kaya Conky, Pepita, Potyguara Bardo, Rochelle Santrelly, Sangalo Schneider, Silvetty Montilla e Tchaka, além de elenco principal formado por Ruan do Vale, Brena Maria e Frimes.

O longa-metragem acompanha Julião (Ruan do Vale), um repórter cansado de ser a piada no jornal onde trabalha. Com sorte, ele e sua amiga Yasmin (Brena Maria) esbarram em Lohanny (Frimes), que denuncia um caso de tráfico de pessoas após participar do maior concurso de Drags do Nordeste, na agência NorDrags. Julião percebe ali sua oportunidade de mudança de cargo, mas, para isso, vai precisar se despir dos pré-conceitos e mergulhar no universo Drag, como parte de sua investigação.

O filme começou a ser desenvolvido por Rafaela em 2014. Para a história, ela teve como referências, mesmo de forma inconsciente, os longas Quanto Mais Quente Melhor, de Billy Wilder, e Para Wong Foo, Obrigada por Tudo!, de Julie Newmar, ambos apresentados pela mãe, fã de cinema, e até a comédia O Máskara, serviu de inspiração. No entanto, na época faltavam materiais de estudo do universo das Drag Queens para construir uma narrativa que fosse mais próxima da realidade, sem martelar estereótipos.

“Na época ainda não tinha muito material de estudo, porque não sou drag queen, mas depois da popularização do Ru Paul, as Drags vieram para o nosso convívio, tanto que até aqui em São Luís começaram a ter várias festa e eventos, então, consegui começar a viver esse momento”, explicou Rafaela Gonçalves.

A partir dali ela teve mais contato com conteúdos que retratassem de forma mais responsável a expressão artística, então, era hora de dar outro passo. Sabendo que De Repente Drag era um filme que teria uma abordagem mais comercial, diferente do que tinha trabalhado até então, Rafaela precisou mergulhar de cabeça nas leis de incentivo do país para compreender melhor como seria o processo de inscrição do filme.

Em paralelo, São Luís do Maranhão passava por um processo de mudança de paradigma político, em que os profissionais do audiovisual conseguiram se organizar e criar um movimento de união que trouxe mais investimentos públicos para o setor local, além da criação da Escola de Cinema do Maranhão, escola pública que permitiu acesso da população à capacitação no audiovisual, algo que muitas vezes fica ainda restrito aos grandes centros.

“A partir disso houve uma virada de chave aqui no Maranhão. Quando vi que queria fazer cinema, primeira coisa que pensei foi ‘meu deus, não tenho grana para estudar nos grandes centros, estou fadada a fracassar e não produzir nada?’. Então, esse foi o primeiro passo porque começamos a nos reconhecer aqui como produtores”, destacou.

Todo o processo de De Repente Drag passa por esse desenvolvimento do audiovisual na cidade, sendo a equipe do filme formada pela segunda turma da Escola de Cinema e também majoritariamente formada por mulheres, pretas e LGBTQIA+.

Essa foi uma questão de suma importância para Rafaela, já que queria trazer para a tela uma narrativa que trouxesse uma representatividade longe de estereótipos e que ao mesmo tempo tivesse humor e entretenimento.

“A gente está falando da gente e não dá para falar da gente, sem a gente. Isso gerou para mim um ambiente muito legal, porque eu tinha uma consultoria de roteiro o tempo todo. A gente sempre chamava o filme de ‘nosso’”, explicou.

Mais do que isso, a vontade de fazer o filme dessa forma e com pessoas das quais o filme representa, também toca no lugar de entregar ao público que também se identificam com esses grupos, um produto que faça rir sem ofender. Pelo contrário, que seja acolhedor das pautas em questão e derrube estereótipos que o próprio cinema ajudou a construir.

“Fui criança nos anos 1990 e 2000, a TV e as comédias não incluíam muita diversidade e quando tinha, esse personagem não tinha história, era uma escada, um adorno, um alívio cômico. Quando comecei a prestar atenção de verdade, isso me incomodou, porque era sobre mim, eu não conseguia rir junto, porque era muito pessoal. Era uma preocupação grande abordar esses temas de uma forma mais leve e palatável, digamos”, ressaltou.

Desta forma, o filme, que passou pelo Selo Elas em 2020, fez sua grande estreia na tela grande abrindo o Rio LGBTQIA+ Festival de Cinema 2022. Ali, apesar do nervosismo, Rafaela pode ver como foi o contato do público com o De Repente Drag e entender que sua missão de entregar essa representatividade e um conteúdo que seja divertido, didático e inclusivo para as pessoas, mesmo aquelas que não se identifiquem com os personagens, foi cumprida.

Neste sentido, o sentimento para a grande estreia no circuito comercial é de alegria e apreensão, entendendo que há um Brasil homofóbico que também pode reagir ao filme, mas a vontade é de ocupar, sim, a grande tela.

“Espero que as pessoas consigam receber a mensagem do De Repente Drag independente de orientação, é uma mensagem de conciliação, que a gente pode viver de uma forma respeitosa. Também quero quebrar esse paradigma de que as narrativas LGBTQIA+ têm que ser voltadas para o sofrimento do relacionamento, porque temos outras nuances. Quero quebrar essas narrativas que vamos internalizando. Estou ansiosa, mas feliz, tento me blindar para esperar o melhor dele, das pessoas, para que ele possa ajudar pessoas como eu”, finalizou.

Com produção da Matraca Filmes e distribuição da Elo Company, De Repente Drag mistura

comédia e suspense e apresenta um elenco diverso e com participações especiais. O longa estreia dia 4 de agosto em nos cinemas das praças de São Luís, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo.