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14 Julho 2022 | Yuri Codogno

"Somente nos cinemas": campanha de Hollywood visa atrair público de volta à sala escura

A ideia é mostrar aos espectadores que determinado filme será exibido inicialmente nos cinemas, para apenas meses depois chegar ao streaming

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(Foto: iStock: LeMusique)

Há alguns anos, era normal se deparar com um cartaz promocional que, além de imagens do filme, continha somente a data de estreia. Até então ficava subentendido que naquele dia o longa iria estrear nos cinemas. Mas atualmente as coisas mudaram.

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E quem são os responsáveis? Bom... como tudo que vem acontecendo ultimamente no mundo cinematográfico, a responsabilidade se divide entre pandemia e plataformas de streaming. “Somente nos cinemas” foi acrescentado aos cartazes promocionais e comerciais porque boa parte do público acredita que os filmes terão estreia simultânea nos cinemas e streaming ou apenas nas plataformas digitais.

Por essa razão, todos os estúdios e distribuidoras estão apostando nessa pequena frase para atrair de volta o público aos cinemas, indicando que aquela produção, ao menos naquele momento, não estará disponível em nenhum outro lugar.

Com a chegada da Covid-19, entre os anos de 2020 e 2021 os cinemas precisaram interromper suas atividades completamente ou parcialmente. Porém o mundo cinematográfico pode até diminuir seu ritmo, mas nunca parar. Algumas produções estavam em andamento e outras estavam em processo de finalização, então as empresas precisaram decidir entre esperar a situação começar a normalizar ou procurar alternativas de distribuição.

Alguns longas, como Um Lugar Silencioso – Parte II, que estava previsto para ser lançado em março de 2020, decidiram aguardar. Outras, como Mulher Maravilha 1984, optaram por outro caminho: o de lançamento simultâneo ou exclusivo nas plataformas digitais.

E para os grandes estúdios, a longo prazo o resultado foi pior do que o esperado. “Por causa dessas estratégias híbridas, as linhas ficaram confusas”, disse Paul Dergarabedian, analista sênior da Comscore. “Isso criou uma confusão no consumidor que terá que ser tratada com o tempo”, completou. As informações são da Variety.

No período pandêmico, com as salas totalmente ou parcialmente fechadas, os estúdios fizeram diversos testes que jamais seriam realizados antes. Filmes com grande apelo de público e que costumam gerar bilheterias multimilionárias, senão bilionárias, tiveram lançamentos híbridos. Alguns exemplos são Viúva Negra, que estreou simultaneamente nos cinemas e no Disney+, assim como Matrix: Resurrections e Duna, que saíram ao mesmo tempo nas telonas e na HBO Max. O próprio Um Lugar Silencioso II foi para a Paramount+ apenas 45 dias depois de ter estreado nas telonas, algo inimaginável na pré-pandemia.

Importante ressaltar que algumas empresas tiveram estratégias diferentes em alguns países, como diversos filmes da Warner que saíram simultaneamente na HBO Max nos EUA, mas não no Brasil.

Enfim, essas mudanças podem ter injetado alguns milhões de dólares de aluguéis e assinaturas nos bolsos dos estúdios em um momento difícil, mas também resultou em uma nova consciência cultural, em que boa parte dos espectadores ainda creem que os filmes terão lançamento híbrido.

Como agora as preocupações sobre pegar Covid-19 no multiplex parecem ter diminuído consideravelmente, assim como os lançamentos experimentais, os executivos de marketing estão trabalhando para desfazer essa confusão e ajudar o espectador a acompanhar onde pode assistir aos mais novos blockbusters. E, na prática, isso significa que apenas ter a data de lançamento nos pôsteres não será mais suficiente. Deste modo, os estúdios precisam convencer o público que “filme X não está disponível para assistir em casa” e que “não adianta pagar uma taxa adicional para assistir ao filme no sofá”. “Para que as pessoas reconheçam a distinção, temos que ser insistentes”, dise Josh Goldstine, presidente de marketing da Warner Bros.

“Usamos todas as mídias pagas ou ganhas como um caminho para mensagens no cinema”, disse Danielle Misher, co-chefe de marketing teatral global da Sony. Não são apenas outdoors e trailers divulgando essas informações; membros do elenco de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, Um Lugar Bem Longe Daqui e outros lançamentos recentes fizeram questão de exaltar a experiência teatral em programas de televisão.

E felizmente o marketing está começando a valer a pena. De acordo com novas informações da pesquisa do setor Guts + Data, o conceito de janelas teatrais está muito mais claro para os consumidores. Dos 600 que foram entrevistados, cerca de metade conseguiu distinguir onde os novos lançamentos estarão disponíveis primeiro para assistir.

Uma semana antes do lançamento de Thor: Amor e Trovão, 52% dos entrevistados sabiam que a aventura da Marvel seria exibida exclusivamente nos cinemas. Mas ainda há trabalho a ser feito, pois 38% acreditavam incorretamente que a quarta aventura do Deus do Trovão teria um lançamento híbrido no Disney+, enquanto 10% pensavam erroneamente que o filme estrearia somente no streaming.

Para Minions 2: A Origem de Gru, 48% sabiam corretamente que animação estava disponível exclusivamente nos cinemas, enquanto 40% acreditavam incorretamente que o filme teria uma exibição simultânea e 12% achavam que seria apenas streaming.

Apesar da pandemia ter intensificado o problema, as linhas entre digital e cinema começaram a se confundir ainda antes, com alguns players, como a Amazon, introduzindo janelas de exibição mais curtas em comparação ao até então tradicional intervalo de 75 a 90 dias, e grandes estreias da Netflix não indo para as telonas.

E o oposto também acontece: para o próximo grande lançamento da Netflix, O Agente, cerca de 38% dos consumidores entrevistados pela Guts + Data acharam que estaria disponível pela primeira vez na tela grande, embora os filmes da Netflix raramente tenham lançamentos robustos nos cinemas.

Mais uma razão para a campanha “Somente nos cinemas” existir, dizem os executivos. “Há muito conteúdo sendo comercializado diariamente”, comentou Marc Weinstock, presidente de marketing e distribuição mundial da Paramount. “Isso ajuda os consumidores, direta ou indiretamente, a saber que é um filme de cinema”, completou.

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