06 Julho 2022 | Renata Vomero
Primeiro semestre atrai aos cinemas do Brasil público próximo ao de todo 2021
Espectadores de filmes brasileiros dobraram e América do Norte retomou liderança do mercado global
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O primeiro semestre de 2022 dá um animador horizonte para a recuperação do mercado, tanto brasileiro, quanto global. Por aqui, os números do OCA (Observatório Brasileiro do Cinema e Audiovisual), braço de pesquisa da Ancine, apontam para avanço na retomada do público, já somando 44,5 milhões de espectadores nos cinemas durante os seis primeiros meses de 2022. Este valor é apenas 15% menor do que o total de 2021, que registrou 52,6 milhões de público.
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Em termos de renda, o valor é ainda mais próximo. Os cinemas brasileiros arrecadaram até o momento R$869,9 milhões, apenas 5% a menos do que o total de renda de 2021, que fechou o ano com arrecadação de R$918,9 milhões.
Quando falamos em cinema nacional especificamente, os valores são ainda mais animadores, embora ainda seja um período desafiador para a produção nacional. 2,7 milhões de espectadores já conferiram algum título brasileiro nos cinemas neste ano. O valor é 181,3% maior do que a totalidade de 2021, com 970 mil pessoas. Em renda o número também sobe, a arrecadação com nossos filmes até o momento é de R$48,8 milhões, mais 196,8% comparando com os R$16,4 milhões do ano passado.
Analisando os títulos estrangeiros, as porcentagens são parecidas com o panorama geral. Estes filmes já renderam R$821,1 milhões para a nossa bilheteria, 9% a menos do que os R$902,5 milhões do ano passado. Em termos de público, estes títulos atraíram 41,8 milhões de pessoas, 19% a menos que 2021, que vendeu 51,6 milhões de ingressos.
Alguns destaques merecem ser comentados aqui, já que em 2021, especialmente no primeiro semestre, nós vivemos o auge da pandemia, ainda mais no Brasil, com altos índices de casos e especialmente de mortes. Neste período, a vacinação avançava a passos lentos, o que só foi acelerado a partir do meio do ano, período também que Hollywood retomou seus sucessos com total força.
Nesse sentido, foi apenas da metade para a frente do ano passado que os cinemas puderam ser reabertos e diminuíram gradualmente suas restrições por conta da covid-19, sendo as duas principais com relação aos horários de funcionamentos e limite de ocupação das salas.
Isso foi somado a uma maior oferta de filmes, já que alguns destes grandes títulos esperados pelo público foram adiados durante a pandemia. Caso, por exemplo, de Duna (Warner), 007 – Sem Tempo Para Morrer (Universal), Velozes & Furiosos 9 (Universal), Venom: Tempo de Carnificina (Sony) e Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (Sony).
Desde então, a oferta de filmes vem crescendo gradualmente para atrair os públicos aos cinemas, embora ainda esteja aquém do ideal para a total recuperação do setor, o que é esperado em 2023. Isso fica evidente no número de títulos exibidos em comparação a 2021, único indicador que não apresenta a mesma avançada melhoria que os outros aqui já citados. Até o momento foram exibidos 371 filmes, valor 53% abaixo do total de 2021, que fechou o ano com 558 títulos nas telonas.
Entre os que já chegaram ao público e ajudaram a somar os resultados, se destacam Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (Disney), com 8 milhões de espectadores; Batman (Warner), com 5,8 milhões, e Top Gun: Maverick (Paramount), com 4 milhões.
Entre os nacionais, foram grande sucesso Turma da Mônica: Lições (Downtown/Paris), com 539,5 mil espectadores; seguido por Tô Ryca 2 (Downtown/Paris), com 517,7 mil, e D.P.A. 3 (Downtown/Paris), com 415,5 mil. Medida Provisória (Elo Company) merece destaque também com 392,2 mil espectadores, conseguindo uma excelente média por sala de 28 espectadores. O filme alcançou o máximo de 332 salas.
Cenário global
O cenário global também apresenta um panorama interessante, embora os analistas apontem realmente para uma recuperação total apenas a partir de 2023, quando o calendário de filmes deve finalmente se estabilizar em quantidade de oferta semelhante ao período pré-pandemia.
Nestes dois anos de crise, a China tomou a liderança global do mercado, sendo, especialmente nos períodos mais duros da pandemia, um modelo na forma como conduziu esse desafio. Desta forma, o mercado de cinema no país retomou mais rápido do que o resto do globo, garantindo boas cifras ao setor chinês.
Com a retomada dos cinemas e lançamentos de Hollywood, o mercado da América do Norte vem pouco a pouco se recuperando e se reaproximando dos números chineses. O esperado era que isso pudesse acontecer apenas em 2023, depois as estimativas apontaram para que isso acontecesse já no final deste ano. No entanto, com novos fechamentos de cinemas na China, além de questões políticas e diplomáticas, junto ao reaquecimento da América do Norte, fez com que a região já retomasse a liderança do mercado global.
Neste primeiro semestre, os cinemas chineses totalizaram renda de US$2,6 bilhões, uma queda de 38% com relação ao mesmo período de 2021, segundo informações da Artisan Gateway.
Já os cinemas norte-americanos totalizaram bilheteria de US$3,7 bilhões, US$1,1 bilhão a mais do que o ano passado. Tudo isso foi bastante impulsionado pelo sucesso de Doutor Estranho e Top Gun, e deve crescer ainda mais no decorrer deste verão.
A grande ironia é que ambos os mercados estão intrinsecamente interligados e necessitarão de uma maior flexibilidade entre si para conseguirem superar estes números e alcançarem os valores de antes da pandemia.
Isso porque com a força da China, o país se tornou um mercado crucial para os lançamentos de Hollywood, que estão tendo suas rendas prejudicadas por conta da resistência chinesa em abrir espaço para tais títulos, com algumas exceções. Da mesma forma, embora os filmes locais encontrem seu público na China, o crescimento do parque exibidor não pode ser sustentado sem uma grande oferta de títulos, o que era impulsionado pelos lançamentos de Hollywood. Essa é uma questão vista de modo bastante capcioso, já que há uma barreira política no relacionamento entre os países e que vem se agravando no governo de Biden, especialmente com a guerra na Ucrânia. Antes da pandemia, em 2019, os filmes de Hollywood geraram renda de US$1,9 bilhão no primeiro semestre na China, neste mesmo período de 2022 o valor arrecadado no país foi de US$400 milhões. As informações são do The Hollywood Reporter.
A expectativa da Artisan Gateway é de que a China feche o ano com bilheteria total de US$5,2 bilhões e a América do Norte encerre 2022 com acumulado de US$7,5 bilhões. Até lá, há muita água para rolar, já que a China pode abrir mais espaço para os títulos estrangeiros se quiser somar maior cifra do que está estimada.
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