15 Junho 2022 | Renata Vomero
Com filmes e séries na programação, Festival Varilux traz seleção francesa para escolher "de olhos fechados"
Evento acontecerá em todo o Brasil entre os dias 21 de junho e 6 de julho
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A 13ª Edição do Festival Varilux de Cinema Francês se aproxima, acontecendo entre os dias 21 de junho e 6 de julho nos cinemas das principais cidades do Brasil. Depois de dois anos desafiadores e que mesmo assim os organizadores conseguiram realizar o evento, ele retoma este ano com 17 filmes na programação e tendo como novidade a exibição de séries, reforço a potência do conteúdo audiovisual francês.
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No entanto, embora mais próximo da data tradicional (normalmente ele acontece no início de junho e as edições de 2020 e 2021 foram realizadas em novembro, quando a pandemia estava um pouco mais suave), os organizadores do festival ainda encaram alguns desafios grandes, tendo em vista a dificuldade do cinema independente em se recuperar neste pós-pandemia.
“É impressionante como estamos pensando nas edições de 2017 a 2019 quase que como uma época de ouro. Porque é difícil, cinema de arte sempre teve um espaço reduzido no Brasil, é uma luta. Agora olhando para trás, a gente chorava, mas era tudo lindo, fazíamos 30 mil ingressos, era ótimo e éramos tão felizes, hoje seria um paraíso. Para nós é uma mudança brutal, há muita vontade de retomada”, Christian Boudier, codiretor e cocurador do festival.
Assim como o cinema independente sente o impacto da pandemia, os exibidores, principalmente os que têm programação voltada para este nicho, também estão sendo duramente afetados, inclusive com riscos de fechamentos definitivos.
Desta forma, o circuito do Festival Varilux está um pouco mais reduzido do que costuma, devendo alcançar, segundo Boudier, cerca de 80 a 90 cinemas das principais cidades do Brasil, quando o ideal seria em torno de 120 complexos.
Parte dessa redução também se dá por conta da data, que pega o verão norte-americano, em que muitos blockbusters se enfileiram no calendário. “Este ano queremos encaixar o festival em sessões noturnas, com programação diferente, já que os filmes infantis estarão mais presentes, e aí conseguimos negociar com grandes redes exibidoras. Mas é uma conversa complicada com os exibidores, ainda mais com menos cinemas e a situação tão complicada para eles também”, explicou o executivo.
Tendo esses desafios em vista, algumas estratégias estão sendo adotadas, como o investimento forte em comunicação e divulgação, além, claro, de fortalecer o apelo da programação, sempre bastante diversa e robusta, navegando entre comédia, drama, suspense, e outros gêneros. Também se soma aos 17 filmes inéditos, dois filmes como homenagem: a um clássico e em comemoração aos 400 anos do dramaturgo francês Molière.
“Criamos a melhor programação possível, porque sabemos que essa é uma condição para conquistar a confiança do público. Mesmo que ele não consiga ver o filme que queria, vai gostar do que optar por ver, pode escolher de olhos fechados. O menu não é à la carte, é feito para facilitar a vida do espectador, porque festival com muitos filmes, a pessoa não sabe o que ver, a ideia é ele conseguir escolher fácil, ser um the best of”, ressaltou.
Entre os principais filmes franceses inéditos nesta edição estão O Acontecimento, de Audrey Diwan, vencedor do Leão de Ouro de melhor filme no Festival de Veneza em 2021; Um Herói, de Asghar Farhadi, vencedor do Grand Prix no Festival de Cannes de 2021; Contratempos, de Eric Gravel, vencedor dos prêmios de Melhor Diretor e Melhor Atriz (Laure Calamy) no Festival de Veneza; O Destino de Haffmann, de Fred Cavayé, vencedor nas categorias Melhor Atriz e Melhor Filme (Prêmio do Público) no Festival du Film de Sarlat 2021 e Peter Von Kant, de François Ozon, indicado ao Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim em 2022. Para além deles, vale o destaque para Esperando Bojangles, de Régis Roinsard; O Próximo Passo, de Cédric Klapisch, e Kompromat, de Jérôme Salle.
Outra grande novidade faz parte desta edição: pela primeira vez haverá também exibição de séries, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Serão sete delas apresentadas em dois episódios para o público conferir mais da produção francesa. Uma ideia que pode ser muito importante em termos de formação de público para os cinemas no futuro.
“Você falou a palavra certa, que é formação de público. Foi uma iniciativa pertinente porque cada vez mais festivais internacionais estão fazendo isso, e é óbvio porque cada vez mais diretores e atores de cinema estão fazendo séries, não é a mesma coisa, mas há uma qualidade incrível”, respondeu Christian.
É impossível falar com Christian Boudier sem tratar do mercado independente e fazer comparativos com o francês, que, segundo ele, assim como nós, está sofrendo para fazer o público voltar a consumir cinema de arte. Diferente da gente, no entanto, “lá os cinemas receberam forte apoio durante a pandemia, é um sonho quando falo com meus amigos de lá e eles contam o quanto receberam. O Brasil precisa dar apoio aos exibidores”, ressaltou.
No entanto, a questão que ainda vemos bem nítida por aqui e em qualquer outro território é o quanto o cinema independente realmente ainda está tendo dificuldade de recuperação mesmo nesta retomada.
“A verdade é que a oferta de cinema de arte ainda não está tão forte, por isso o festival vai ser um teste para ver se, com essa programação boa e sendo um evento, essa foi uma das razões que fez o público ficar em casa. É uma questão de paciência, não podemos desistir”, finalizou.
O Festival Varilux de Cinema Francês é realizado pela produtora Bonfilm e tem como patrocinadores principais a Essilor/Varilux e a Pernod Ricard/Lillet, além do Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura e a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura. Outros parceiros importantes são as unidades das Alianças Francesas em todo Brasil, a Embaixada da França no Brasil, as empresas Club Med, Air France e Ingresso.com, além das distribuidoras dos filmes Bonfilm, California Filmes, Elite Filmes, Mares Filmes, Synapse e Zeta Filmes e os exibidores de cinema independente/de arte e as grandes redes de cinema comercial. Entre os parceiros de mídia estão AdoroCinema, Arte1, Canal Curta!, Filme B e Papo de Cinema. Toda a programação pode ser conferida pelo site: https://variluxcinefrances.com/
Mais sobre esta edição do festival:
A DELEGAÇÃO
Uma delegação artística composta de 11 profissionais marca presença em São Paulo e no Rio de Janeiro para apresentar suas obras, entre filmes e séries, e conversar com o público. Para falar de seus longas-metragens estarão o ator Gilles Lellouche – protagonista em O Destino de Hoffman, Kompromat e Golias - e os cineastas Carine Tardieu (Os Jovens Amantes), Jérôme Salle (Kompromat), Diastème (O Mundo de Ontem), Eric Gravel (Contratempos) e Régis Roinsard (Esperando Bojangles). Para apresentar as séries e participar do encontro profissional os convidados são: o diretor Jean-Philippe Amar (As Sentinelas), o roteirista Antoine Lacomblez (Jogos de Poder e O que Pauline Não Diz), o produtor Alexandre Piel (ARTE), a produtora Soizic Gelbard (Gaumont) e a distribuidora Isabella Barsumian (Federation Entertainment).
O LAB
Atividade integrante do Festival Varilux de Cinema Francês, o 5º Laboratório Franco-Brasileiro de Roteiros foi confirmado para as datas entre 20 e 24 de junho no Rio de Janeiro. Com inscrições prévias, o programa é destinado a roteiristas, diretores e realizadores e propicia o desenvolvimento da escrita de projetos de roteiros de longa-metragem e de séries de TV. O LAB é coordenado por François Sauvagnargues, especialista de ficção e ex-diretor geral do FIPA, Festival Internacional de Programação Audiovisual (Biarritz, França), e tem como professores os roteiristas Corinne Klomp, Pascale Rey, Jean-Marie Chavent e Nicolas Clément, todos integrantes do Conservatório Europeu de Escrita Audiovisual (CEEA). Dezesseis participantes foram selecionados e irão trabalhar em quatro grupos durante cinco dias.
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