01 Junho 2022 | Renata Vomero
Números de "Medida Provisória" no Circuito Spcine exaltam interesse pelo cinema nacional
Reportagem da Folha de S.Paulo destacou desempenho do filme em detrimento de blockbuster
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Nesta terça-feira (1), a Folha de S. Paulo reportou o sucesso de Medida Provisória (Elo Company) nos cinemas do Circuito Spcine, da prefeitura de São Paulo. Nas quatro primeiras semanas em cartaz, entre 14 de abril e 10 de maio, o longa atraiu 3.026 pessoas nas três salas em que esteve em exibição.
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Somando a carreira completa que fez no Centro Cultural de São Paulo, na biblioteca Roberto Santos e no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, o filme fez ao todo 3.653 mil ingressos, lembrando que as salas nos CEUs são gratuitas e os demais cobram valor de R$4 a inteira.
Com essa performance, o longa supera em 200% o desempenho de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (Sony), que quebrou recordes da pandemia. No Circuito Spcine, o longa ficou em cartaz entre 17 de março e 13 abril e atraiu 1006 pessoas no período. Importante destacar que, por conta da pandemia, 15 salas do circuito (que conta com 20 delas no total) ainda não voltaram a operar normalmente.
Os números exacerbam o apelo que o cinema nacional tem para o público, que acaba não tendo acesso a ele tanto por questões financeiras, quanto pela menor presença que estes filmes têm no circuito comercial.
“O sucesso das sessões Spcine demonstram a força do filme dirigido por Lázaro Ramos e a clara demanda da população. Porém, parte dessa audiência não tem acesso às salas de cinema. E esse é o grande problema do nosso mercado. Não a qualidade da produção nacional e sua demanda e sim o acesso”, destacou Sabrina Nudeliman Wagon, CEO da Elo Company, ao Portal Exibidor.
O Circuito Spcine conta com 20 salas espalhadas por regiões da capital em que não há cinemas comerciais ou acesso a eles. Os objetivos de sua criação são formar público para o cinema, democratizar o acesso a produções audiovisuais e abrir mais espaço para o cinema nacional.
Pensando em tudo isso, não é coincidência o sucesso do filme de Lázaro Ramos no circuito. O primeiro motivo é a própria qualidade do filme, que fez sucesso nos festivais internacionais por onde passou, e fez uma das melhores bilheterias do cinema nacional na pandemia, com quase 500 mil ingressos vendidos.
Além disso, entendendo a importância também da temática do longa – sobre um Brasil autoritário que toma a medida de mandar a população para África como ação reparatória pelo período de escravidão –, Lázaro Ramos exigiu que fossem feitas sessões sociais, para que o filme pudesse alcançar mais público e também engrandecer o debate que suscita. Tudo isso inspirado nos “rolezinhos” criados na época de lançamento de Pantera Negra, em 2018.
“O filme contou com mais de 130 sessões sociais que contemplaram aproximadamente 20 mil pessoas que tiveram a chance de ver o filme de graça e ainda, em alguns casos, participaram de um rico debate sobre letramento racial com Lázaro Ramos. O total das pessoas impactadas pela ação ainda é pequeno se comparado com a bilheteria total, mas extremamente relevante. Foram mais de 60 organizações contempladas incluindo escolas, organizações sociais, comunidades periféricas e ainda colaboradores de empresas”, ressaltou a executiva da Elo Company, que criou o projeto Sessões de Impacto, com exibições gratuitas ou a preços mais acessíveis, podendo ser seguidas de debate.
Medida Provisória já dava fortes sinais de que seria um marco. O longa contou com pré-estreias que tiveram ingressos esgotados ou a necessidade da abertura de mais salas e datas de exibição. Na semana de estreia, o filme lotou salas de cinema e teve a maior média por sessão, mesmo concorrendo com grandes franquias, caso de Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, que estreou no mesmo dia.
“Pessoalmente considero o Lázaro realmente ‘o homem do ano’, mais que um diretor ou ator, um líder e um influenciador”, finalizou Sabrina.
Outro fator interessante que destaca o sucesso do filme no Circuito Spcine, está o histórico dele por si só. Criado em 2016, o circuito se destaca, além das razões citadas acima com ações de formação e democratização do cinema, por ter um forte apelo do cinema nacional ao público.
Em dados recentes divulgados pela empresa municipal, que celebrou sete anos de existência neste mês, ao todo já passaram 1,7 milhão de pessoas pelas salas do projeto, sendo 92% deste público das classes C, D e E. Além disso, 50% da audiência do Circuito Spcine não costumava ir ao cinema por conta de questões financeiras.
Para além disso, o Market share de filmes brasileiros do projeto é de 20,11%, sendo quase 7% superior ao Market share do cinema nacional no circuito comercial. Com tudo isso, fica mais compreensível ainda entender o sucesso do filme de Lázaro em detrimento de blockbusters de super-heróis.
Voltando para 2019, conseguimos ver um retrato bastante semelhante. Ano de recordes para a indústria e grandes lançamentos, o filme de maior bilheteria no ano do circuito foi Turma da Mônica – Laços (Downtown/Paris), que fez 22,1 mil ingressos, sendo a maior estreia da história do projeto e a quarta bilheteria total dos filmes lançados entre 2016 e 2021. 2019 foi o ano em que os cinemas foram dominados por Vingadores: Ultimato, Homem-Aranha: Longe de Casa, Toy Story 4 e O Rei Leão.
Retomando suas 20 salas, agora o Circuito Spcine deve ser ampliado, com planejamento de abertura de mais dez salas em São Paulo, sendo todas elas em CEUs da periferia paulistana, somando 25 delas nas unidades de educação da prefeitura.
Os dados recentes do Estudo de Impacto Socioeconômico do audiovisual, divulgado recentemente pela Spcine e disponível em seu Observatório, mostram que, dos 5.570 municípios do Brasil, apenas 440 contam com ao menos um cinema, 33 possuem mais de 20 salas de cinemas e somente 19 contam com mais de 30 salas de cinema.
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