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19 Maio 2022 | Renata Vomero

Premiado em festivais, "A Felicidade das Coisas" traz debate sobre maternidade e patriarcado

Filme é a estreia de Thais Fujinaga na direção de longa-metragem

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(Foto: Divulgação)

Chega aos cinemas nesta quinta-feira (19) A Felicidade das Coisas (Embaúba). Premiado na Mostra de SP de 2021 e pela Abraccine, além de festivais internacionais, o filme é o primeiro longa-metragem dirigido por Thais Fujinaga, que misturou memórias da infância para trazer uma história que fala de maternidade e da construção da masculinidade na sociedade patriarcal.

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No longa, Paula (Patrícia Saravy) tem 40 anos e está grávida de seu terceiro filho. Com as crianças, ela se hospeda na modesta casa de veraneio que a família comprou há pouco, no litoral paulista. Além dos filhos, ela também conta com a presença de sua mãe (Magali Biff). Entre as melhorias que pretende fazer no imóvel está construir uma piscina, mas as coisas não se mostram muito favoráveis a esse sonho. Ao mesmo tempo, seu filho adolescente está se afastando dela, descobrindo um novo mundo na medida em que amadurece.

“Embora no filme essa questão não seja a mais evidente, a minha primeira vontade foi de falar sobre os desejos de uma família que está entre a classe C emergente e a classe média. Sua subjetividade, sua relação com a propriedade privada e com o consumo. Enfim, sobre a relação entre o acesso a bens e a ideia de felicidade. Depois de decidir sobre a geografia da história e seu tema de fundo - uma espécie de retrato das divisões existentes dentro da própria classe média, eu comecei a pensar as personagens. Foi nesse ponto que surgiu o desejo de falar sobre uma mulher que está chegando na meia idade e percebe que está sobrecarregada, insatisfeita com seu lugar de mãe e de esposa no centro de sua família”, contou a diretora Thais Fujinaga ao Portal Exibidor.

Essa ideia de mostrar uma mulher sobrecarregada com os cuidados dos filhos e da casa veio justamente da visão pessoal, de ver sua mãe e suas tias nesse papel e entendendo que férias são quase inexistentes para essas mulheres. A partir disso também, Thais trouxe ao roteiro essa vontade de Paula de construir uma piscina na casa.

No entanto, para a diretora, não é somente sobre essa questão da maternidade e todas as suas camadas –  todas elas muito reais e pouco exploradas no cinema –, o filme também trata, e no mesmo grau de importância, sobre a questão da masculinidade e como ela é construída em uma sociedade patriarcal. Em A Felicidade das Coisas esse debate é levantado por meio da figura do filho de Paula, que se distância da mãe.

“Essa relação do núcleo feminino com esse projeto de homem que não se sente parte desse núcleo familiar materno, era também um tema que era importante e complementar ao tema do protagonismo feminino, porque nos ajuda a pensar na formação de uma masculinidade numa sociedade patriarcal em que os meninos são ensinados a se juntarem aos seus e que vão em busca de uma validação da masculinidade pela aventura. Temos um filho presente que não enxerga a sua mãe, não a vê como gente, está sempre cobrando nesse lugar de um filho que vê a mãe como quem está sempre ali para fazer tudo para ele”, reforçou Thais.

Filmado em 2019 em Caraguatatuba, litoral de São Paulo, o filme, então, tem um reflexo quase natural da situação política do Brasil, inclusive, porque ele foi sendo amadurecido em meio a grandes transformações que o país passou. Tendo em vista que o argumento foi escrito em 2014, um ano que marcou a escalada da deterioração política brasileira.

“Pra mim, a narrativa do filme tem esse sabor, um sabor de incompletude, de ‘quase lá’: a piscina não finalizada corresponde a um projeto de país que às vezes parece impossível de se levar a cabo. E, quando eu falo de projeto de país, falo também da área cultural, que sofreu duros golpes de 2016 para cá. Nós filmamos o longa em 2019, o ano em que a Ancine foi completamente paralisada e, junto com ela, os principais mecanismos de fomento do nosso audiovisual. Ao apresentar o filme pela primeira vez, eu disse que a piscina é para Paula o que o filme é para mim, um projeto grandioso que parece não ter sido feito para gente como nós”, ressaltou a cineasta.

Finalizado, o longa teve sua grande primeira estreia no Festival de Roterdã, nos Países Baixos, no entanto, a exibição não pode ser aberta ao público nem a delegações internacionais por conta da pandemia, o que deu à equipe um sabor de melancolia por não estar presente.

No entanto, a grande estreia veio na última edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, quando Thais conseguiu sentir a recepção do público e apresentar o filme junto à equipe, momento que ela conta como “A primeira exibição do longa”.

Agora, a produção se prepara para chegar ao circuito comercial brasileiro pelas mãos da distribuidora Embaúba Filme, o que tem sido um misto de sentimentos para a cineasta.

“Por um lado estou muito feliz por estar chegando a diversas capitais e estar no circuito nacional de cinemas, porque é uma batalha. Me sinto muito privilegiada de estar com um filme prestes a ser lançado. Por outro lado tem uma espécie de preocupação, porque as salas de cinemas estão muito esvaziadas, estão mais vazias do que antes da pandemia. Esse processo das pessoas de verem os filmes no conforto de sua casa, de uma forma mais barata também através dos streamings, foi intensificado pela pandemia. São expectativas que geram sentimentos duplos”, finalizou.

A Felicidade das Coisas é uma produção da Filmes de Plástico e coprodução da Lira Cinematográfica, e chega aos cinemas em 19 de maio, com distribuição da Embaúba Filmes.

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