31 Janeiro 2022 | Juliane Albuquerque
Cinemateca Brasileira retoma, aos poucos, suas atividades
Depois de 16 meses fechada, a atual gestão avalia a situação e traça metas para a Cinemateca
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Gradualmente, a Cinemateca Brasileira vem retomando suas atividades após 16 meses de fechamento e interrupção dos trabalhos da instituição. No dia 18 de outubro de 2021, a Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC) venceu o edital de Chamamento Público para assumir a gestão da Cinemateca. No mês seguinte, firmou um contrato de doação com a Secretaria Nacional do Audiovisual (SNAv) para executar um plano emergencial, com fundos provenientes do Instituto Cultural Vale e, então, reconstituir o Conselho Consultivo da Cinemateca.
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No dia 18 de novembro de 2021, 20 ex-funcionários da área técnica da Cinemateca, que haviam sido demitidos pela antiga gestora, foram recontratados, como pessoas jurídicas, para assumirem seus antigos postos nas áreas de documentação, difusão, preservação e laboratório.
É importante destacarmos que o longo período de paralisação do funcionamento da Cinemateca Brasileira, responsável pela preservação e difusão da produção audiovisual do país, provocou graves problemas em todos os setores da instituição, como nos equipamentos de restauro, digitalização e duplicação de filmes pela falta de uso e por vazamentos no telhado do laboratório, entre outros.
Balanço da retomada
Nas primeiras semanas do processo de retomada, a equipe técnica realizou uma força-tarefa para avaliar a situação do acervo e da infraestrutura tecnológica e predial da sede da instituição, localizada na Vila Clementino, para definição dos fluxos de trabalho passíveis de retomada imediata.
As análises realizadas nos espaços de trabalho e de guarda de materiais do acervo apontaram como preocupante a situação de infiltração de água de chuva no Galpão 4, resultando em marcas nas paredes, nos pisos, nos mobiliários e equipamentos. Houve uma tentativa de consertar o telhado antes da entrada da SAC, mas sem sucesso. Neste Galpão estão instalados, além do Laboratório de Imagem e Som, depósitos de coleções fílmicas e documentais, bem como as áreas técnicas de preservação, difusão e atendimento.
Foi necessário fazer um rearranjo temporário dos espaços para execução dos trabalhos emergenciais na Cinemateca. Desde novembro de 2021, a SAC vem empenhando esforços em torno de um projeto para reparação do telhado do Galpão 4, com vistas à proteção dos núcleos ali instalados. Os projetores de filmes das salas de exibição e da área externa estão com defeitos e as telas danificadas. Saídas de som e exaustores de ar também apresentam deficiências.
A coleção de filmes em suporte de nitrato de celulose, uma das mais frágeis e que demanda cuidado permanente, voltou a ser analisada e a equipe já constatou a deterioração de 25 rolos, que precisam ser duplicados imediatamente. Entre esses materiais, há títulos preciosos como As curas do professor Mozart, Veneza americana, documentários sobre a Revolução de 1932, Tecelagem Votorantim. A SAC elaborou, ainda, o projeto Nitratos da Cinemateca Brasileira – Preservação e Acesso – aprovado para captação via Lei Rouanet, em dezembro de 2021.
O jardim da Cinemateca, que é usado pelos moradores do entorno, apresentou seis árvores comprometidas por cupins que terão de ser removidas e substituídas por mudas. Essa operação está em curso, pois depende de aprovação e acompanhamento da Subprefeitura de Vila Mariana.
Nesse período, foram realizadas reuniões com gestores públicos e representantes das principais empresas contratadas para serviços contínuos na Cinemateca, relacionados à segurança, limpeza, manutenção e climatização. Foram verificadas as condições de cada contrato, tendo em vista a operação do projeto emergencial e também a futura gestão da SAC, que foi reconhecida pelo governo federal como Organização Social apta a gerir a Cinemateca Brasileira pelos próximos cinco anos.
Reabertura gradual
O Centro de Documentação e Pesquisa que engloba a Biblioteca Paulo Emílio Sales Gomes encontra-se relativamente em ordem e será reaberto ao público em fevereiro. Os sistemas de informação do acervo não fílmico foram recuperados e vem sendo atualizados pela equipe de pesquisadores e catalogadores. O processamento técnico do acervo documental também foi retomado.
Mesmo com todo esse árduo e minucioso trabalho pela frente, a previsão de reabertura total da Cinemateca Brasileira ao público ocorrerá gradualmente e está prevista para o primeiro semestre deste ano. Enquanto isso, o Banco de Conteúdos Culturais, que disponibiliza mais de 10.000 itens online relacionados ao campo do audiovisual, já foi reativado pelo Ministério do Turismo e está em pleno funcionamento para acesso do público.
Em 27/12/2021 foi publicado o Decreto presidencial nº 10.914/21, qualificando a SAC como Organização Social e, no dia 29, foi então assinado o Contrato de Gestão com a Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo.
Unidade Cinemateca Vila Leopoldina
Somente em 30 de dezembro de 2021 foi permitida a primeira visita técnica à unidade da Vila Leopoldina para averiguação das condições após o incêndio que atingiu o local no dia 29 de julho de 2021. Os depósitos climatizados que abrigavam materiais fílmicos e documentais estão totalmente destruídos, com cobertura temporária e precária. Parte do telhado original permanece sobre os escombros dos itens queimados, o que dificulta a identificação de possíveis materiais sobreviventes. O laudo do incêndio ainda não foi divulgado pelas autoridades competentes, e sem ele é impossível analisar as causas do sinistro, bem como avaliar a extensão das perdas.
Relatórios com propostas de medidas a serem adotadas pela União Federal, quando uma enchente inundou o espaço em fevereiro de 2020, haviam sido encaminhados pela Cinemateca. No entanto, na recente visita técnica, constatou-se um acúmulo de danos oriundos da enchente e do incêndio, numa combinação muito desfavorável ao resgate do material sobrevivente.
A SAC, por sua vez, iniciou tratativas junto à Defesa Civil e representantes do governo sobre o imóvel da Vila Leopoldina e os materiais ali armazenados, bem como autorizações para entrada, movimentação e transferência imediata de itens. Seguiremos observando como serão esses processos de cuidados e de retomada das atividades, na torcida e no apoio para que a Cinemateca Brasileira seja reerguida às condições que merece.
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