Exibidor

Publicidade

Notícias /mercado / Expocine21

19 Novembro 2021 | Juliane Albuquerque

Painéis levantam as possibilidades para o futuro do audiovisual brasileiro

Expocine encerra com debates que buscaram traçar um panorama para o setor

Compartilhe:

(Foto: Márcio Neves)

Em seu último dia, a versão virtual da Expocine 2021 trouxe painéis que refletiram sobre pontos importantes, como as inovações de produção, a necessidade que foi criada na pandemia de alternativas para realização de festivais, questões relevantes quanto a regulamentação do setor e, claro, as possibilidades para retomada da indústria. Debates que fazem pensar qual é o panorama futuro do audiovisual brasileiro no curto e médio prazo. Em geral o clima foi de desejo com que todos os elos retomem suas atividades ao máximo para termos mais produções nacionais, mais público nas salas de cinema e um círculo virtuoso sadio na indústria do audiovisual.

Publicidade fechar X

O primeiro painel foi justamente “Os caminhos da distribuição e da exibição na nova visão da Ancine” e reuniu grandes nomes do setor como o Diretor-presidente da agência, Alex Braga Muniz; Márcio Fraccaroli, da Paris Filmes; Marcos Barros, da Cinesystem, e como moderador Luiz Fernando Morau, CEO da Integradora Digital. Alex Braga trouxe uma apresentação com dados sobre o cenário atual no Brasil das exibições de filmes nos cinemas e a importância que o parque exibidor tem na formação de público. “São números que passam a nortear as ações de manutenção e preservação com o parque exibidor, pois acreditamos que exibidor e filmes brasileiros andam juntos”.

“Nós vemos que o mercado de salas de cinema favorece a circulação de obras nacionais. E que quando a primeira janela de exibição é a sala de cinema, há uma longevidade do filme, ele gera mais público e potencializa ainda mais a exibição em janelas posteriores”, afirmou Alex Braga. A Ancine vê também a importância dos distribuidores nacionais para o fortalecimento da indústria. “Vemos que 95% das obras brasileiras foram lançados por distribuidores brasileiros nos últimos anos”. Alex Braga ainda falou sobre algumas ações concretas que a Ancine busca realizar: “vamos ter uma reunião como o comitê gestor para o lançamento de alguns editais de produção, temos reuniões para contratos com o BNDS (linhas de crédito) para que a gente possa iniciar essa nova relação em prol da infraestrutura e inovação tecnológica para as salas, além de ações para capacitação de pessoal do setor”, disse o diretor da Ancine.

Marcos Barros, da Cinesystem enfatizou o quanto a área de exibição sofreu com as restrições impostas pela pandemia e a necessidade de apoio para a retomada. “O nosso retorno precisa de apoio, porque o público quer voltar aos cinemas. As pessoas querem sair, querem compartilhar experiência. Em relação à janela de exibição, os cinemas já sofriam antes com competições, mas avançou durante a pandemia. Acredito que vamos precisar de acordos de garantira de exibição como primeira janela e de garantir mais tempo. É um setor que está machucado, mas o entretenimento é forte. Os estúdios também estão retornando e apesar da situação, sinto otimista com o futuro”, afirmou.

Márcio Fraccaroli da distribuidora Paris Filmes, também vê com otimismo a retomada do setor. “Concordo que o filme nacional é aliado do fortalecimento das salas de cinema. Estou contente com a postura de retomada da Ancine. vejo que as políticas públicas para garantir o cinema como primeira janela é importante também. O filme nacional é um ativo muito importante e temos um grupo de pessoas muito talentosas trabalhando, bons produtores e agentes se dedicando”. Márcio ainda comentou sobre a necessidade de regulamentação das plataformas de streaming, principalmente para assegurar o cinema como primeira janela de exibição. “Essa discussão tem sido em todo mundo da relação com streaming. Acredito que seria interessante esse olhar para proteger as salas de cinema, porque posteriormente o filme acaba sendo muito mais lembrado e segue sendo visto nas demais janelas”.

 

Regulamentação e iniciativas

Essa discussão sobre a regulamentação do setor de streaming esteve latente no painel “Quando Presente e Futuro se cruzam: 10 anos da lei do SEAC e o que está por vir” que teve a presença de Jérémie Kessler (French National Film Fund - The CNC), para apresentar o modelo francês de regulamentação de exibição do audiovisual francês; João Brant (Instituto Cultura e Democracia), Mauro Garcia (BRAVI), com moderação de Vera Zaverucha. Jérémie deu o panorama de como a França há quase 40 anos estabeleceu regras que garantem um círculo virtuoso no audiovisual. “A nossa regulamentação funciona para todos os players de exibição (canais de tv, tv paga e VOD) para que paguem tributos para financiar trabalhos nacionais. Baseamos em taxas, impostos e também na obrigação de investimento em produções francesas. Os streamings também têm que pagar impostos próprios. Acreditamos que esses transmissores de AV ganham com esse investimento em produção também”, disse.

Ele contou que essa política pública do setor começou em 1986, com os transmissores tradicionais como TV e canal France 2, que virou um canal voltado à filmes produzidos para cinema e que depois vai para o canal. “A França virou um polo de cinema com cerca de 200 filmes por ano, com milhões de ingressos vendidos por ano. Temos financiamento para as salas também, é uma cultura de valorização da nosso audiovisual”, contou Jérémie. Ele também explicou como a França tem lidado com o ‘boom’ dos streamings internacionais: é a mesma política que para os franceses, é preciso pagar para o CNC cerca de 5,5% do lucro que é recebido na França e investir 80% em trabalhos em língua francesa. Tem obrigações específicas como investir em produções independentes, podem ter um produtor responsável para gerir, mas quem fica com os direitos da obra são os produtores independentes (o streaming fica os direitos por no máximo 12 meses), além da exibição de filmes sempre ser primeiro nas salas de cinema, indo para as plataformas 15 meses depois por conta da regulação francesa. “É uma forma de proteger as salas de cinema e criar público”, conclui Jérémie.

Mauro, da BRAVI, apresentou dados internacionais de regulação e dados nacionais que mostraram como a lei do SeAC foi fundamental anos atrás para o crescimento da indústria nacional do audiovisual e como é importante ter regulamentação para a recuperação do setor pós pandemia e a situação atual, com a presença de novos players de VOD. “Essa é uma lei que tem 10 anos, criada para regular os canais a cabo, mas agora temos uma outra realidade. Precisamos respeitar a relevância de todas as janelas e proteger a propriedade intelectual que tem que estar presente, porque possibilita os retornos financeiros para produção e, consequentemente, investimento em novas obras. Hoje nossas produtoras têm atuado como prestadores de serviço para os streamings em condições totalmente injustas em relação a valores, direitos e investimento”.

João Brant deu um olhar mais específico sobre o que tem sido levantado no Brasil para essa regulamentação dos streamings serem efetivadas. “O modelo francês é muito interessante, se ajustando às novas tecnologias que surgem. Nós vemos que outros países também atuam com regras como o Canadá, Coréia do Sul e até os Estados Unidos. Vivemos um momento delicado e precisamos de regular o setor. Temos um projeto de lei tramitando no Congresso ainda esse ano sobre o setor de streaming que carrega boa parte desses mecanismos e dialoga bem com o modelo francês”, disse João.

Inovações tecnológicas

O painel realizado pelo +Mulheres reuniu três profissionais de destaque do setor de produção para falar sobre “Novos Modos de Produção”: Geórgia Costa Araújo (Diretora e CEO da Coração da Selva). Caroline Fioratti (Diretora e Roteirista). Alessandra Casolari (Líder da Pós-Produção na Netflix), com a moderação de Debora Ivanov (+Mulheres/SIAESP). Geórgia apresentou todas as estratégias e inovações tecnológicas que a Coração da Selva utilizou para conseguir realizar filmagens de suas produções em alguns períodos da pandemia. “Nós priorizamos o máximo de segurança possível para nossas equipes, então buscamos maneiras de filmar evitando qualquer tipo de aglomeração de pessoas e para otimizar o tempo de contato também. Foi um exercício de adaptação para novas rotinas. Usamos mais as gruas de filmagem (que tradicionalmente são usadas mais em shows), câmeras com emissão de sinal remoto e deu muito certo, gravamos um longa onde todas as cenas foram feitas com dessa forma, usando essa tecnologia para isolar elenco e equipe”.

A Coração da Selva utilizou para o vídeo assist com sinal distribuído para os devices da equipe, assim cada profissional poderia acompanhar as filmagens de diferentes locais, sem precisar aglomerar. A produtora também desenvolveu um aplicativo para otimizar os processos da rotina dentro dos sets de filmagem, evitando também contatos desnecessários e agilizando o trabalho. É um app de integração de informações técnicas de comunicação, onde cada um vai alimentando com dados e ele vai gerando os relatórios diários contento quais cenas que foram gravadas, o que faltou etc. Esse app, inclusive, já está sendo utilizado por outras produtoras, como contou Caroline Fioratti, que já utilizou em uma das produções que realizou durante a pandemia.

Caroline compartilhou a experiência de ter gravado uma série para a Netflix durante a pandemia, a “Temporada de Verão” e contou dos recursos tecnológicos que usaram para adaptar a produção à segurança sanitária necessária e já otimizar a pós-produção. “Foi um grande desafio de testar novas possibilidades. A série se passaria em uma ilha paradisíaca, um hotel lindo na praia, mas dadas as condições não poderíamos levar uma equipe enorme para isso. Fizemos um planejamento grande de pré-produção para ‘levar o hotel de praia para um galpão’ graças ao uso de 250 placas de LED”, contou. Alessandra Casolari, líder de pós-produção da Netflix foi parceira dessa produção e disse que as escolhas integradas de pré-produção e pós se intensificaram com a pandemia e tem rendido grandes aprendizados para um conteúdo melhor. “Tivemos tempo para preparar melhor a pré-produção e criar uma integração maior entre os times de criação, produção e pós. Além de ampliarmos o uso de tecnologias na pós, como VFX, e outras que permitiram o trabalho remoto dos profissionais de edição, finalização, dublagem e toda equipe de pós”, contou.

Uma novidade que será bem-vinda para as equipes de pesquisa de conteúdo AV e para as de pós-produção é o site IMAGin, primeiro banco de imagens brasileiro independente que fez seu pré-lançamento durante a Expocine 2021, apresentado por Marco Antônio Coelho Filho, da CRONOS Audiovisual e Mauro Garcia, da BRAVI. A plataforma digital de licenciamento e monetização de imagens reunirá as melhores imagens do Brasil feitas nas duas últimas décadas pelas produtoras independentes brasileiras, com coleções de imagens por temas e por produtora participante. São imagens exclusivas de inicialmente de temas relacionados ao meio ambiente, flora e fauna brasileiras e centros urbanos. A previsão é a plataforma ser lançada até o final do 1º trimestre de 2022.

 

Olhar para curadoria na exibição

O painel “Pensando novos formatos: curadoria, programação e exibição de conteúdo” contou com Renata de Almeida (Mostra Internacional de São Paulo), Eduardo Saron (Itaú Cultural) e Marcus Ligocki Jr (XBPIX), sendo mediado por Ylla Gomes (+Mulheres) para debater sobre a importância da curadoria de filmes para exibição em festivais, mostras e também para streaming e também sobre a necessidade de uso de novos formatos para programação e exibição do audiovisual. Ylla levantou o fato de que a pandemia acelerou a necessidade de mudanças estruturais de como as pessoas consomem os conteúdos culturais de AV. Renata de Almeida, à frente da Mostra Internacional de São Paulo, o maior festival de cinema do país, contou sobre a sua experiência em comandar pela primeira vez a Mostra totalmente virtual em 2020 e no modelo híbrido, em 2021.

“Em 2020 a Mostra existiu graças à internet. Tivemos dificuldades até achar o melhor formato, mas no final, foi mais econômico e prático. O online traz vários ganhos: a formação de novos públicos, debates online, alcance em mais locais do país e de assistir ao filme quando possível. Mas uma coisa não substitui a outra. A Mostra é da cidade, faz parte da cultura de São Paulo. As salas de cinema para festivais são essenciais, os festivais são da cidade e movimentam a econômica da cidade. E esse foi um outro desafio, em fazer o formato híbrido presencial e online em 2021. Um festival é encontro, é discutir, é compartilhar impressões dos filmes, é fazer novos amigos. Contamos com a plataforma do Itaú Cultural como parceira e foi essencial. Acredito que há uma simbiose entre os eventos culturais e as cidades onde estão. Traz renda em geral e a nossa intenção é seguir sendo presencial e online”, contou Renata.

Marcus, que tem experiência no Festival de Brasília, lançou em junho de 2021 a plataforma de VOD XBPIX, que tem uma proposta inovadora de filmes independentes com curadoria para aluguel e que também há possibilidade de renda para o público. “Nossos usuários de recomendarem um filme e ele for alugado, quem recomendou é remunerado a cada aluguel. É uma forma de criar diálogo entre os espectadores, com indicações dentro de um universo de filmes independentes por pessoas que consomem estas obras. A nossa plataforma é de aluguel por filme, não tem o compromisso mensal, tem também um diálogo com outras pessoas que viram esse filme, além da possibilidade de poder compartilhar imagens dos filmes em redes sociais para seguir o diálogo. É um espaço para novos olhares e novos realizadores”, disse.

Como diminuir impactos da pandemia no setor

A mesa “Conexão com o público e garantia de boas experiências são ações da indústria para o futuro” foi mais um encontro importante na sala Spcine, na Expocine 2021, com os executivos Mauri Palos (Cine 14Bis), Gilberto Leal (Cinemaxx), Daniel Campos (Cinemark) e Patricia Almeida (Paris Entretenimento) que reuniram em uma conversa mediada por Marcelo L. Lima, CEO do Grupo Tonks, responsável pela Expocine, para discutirem os caminhos da indústria no pós-pandemia.

Misturando profissionais que atuam em diferentes tipos de empresas, a mesa tratou do futuro, mas partindo, principalmente, sobre as ações adotadas durante a pandemia, uma catalisadora de mudanças que já estavam acontecendo antes e que servem de espelho para o futuro. Nesse sentido, um dos pontos ressaltados foi sobre a importância de se criar parcerias para que a indústria se torne mais sustentável. Sendo assim, Patrícia Almeida, que encabeça o braço de branded content da Paris Entretenimento, ressaltou o quanto é crucial conectar marcas com realizadores.

“Tivemos que nos reinventar e criar modelos que antes não existiam. Criei práticas de gestão de negócios, com inteligência mais rápida para gerar flexibilidade para gerar bons recursos. Faço questão de me reunir com diretores e roteiristas, para entender cada etapa do projeto e como posso monetizar esse projeto, não só para o produtor, mas também para nossos fornecedores e parceiros. A pandemia chegou e deixou uma porta aberta para a gente se conectar mais”, explicou.

E assim os projetos vão ganhando chance de se viabilizarem e chegarem à grande tela, satisfazendo produtores, distribuidores, marcas e, claro, os exibidores, que sentiram tanto os impactos da pandemia. Nesse sentido, o grande desafio dos cinemas foi não só se manter de pé, mas pensar em ações para manter as marcas vivas, também criando importantes ações que fidelizassem os clientes, e gerasse boas oportunidades do público retomar para a sala se sentindo seguro, seja no cinema pequeno do interior, como o Cine 14Bis, de Guaxupé, seja na Cinemark, que tem alcance em todo o Brasil.

No cinema de Guaxupé, Mauri pensou em lives para informar a população sobre o vírus, apostando sempre na ciência para orientar o público e tranquilizá-lo quando fosse o momento de volta aos cinemas. “Em uma cidade de 50 mil habitantes, queríamos manter a marca viva, adotamos como estratégia assumir uma postura de defesa da saúde e trabalhar com as redes sociais. Fizemos um programa ao vivo, que era para ser semanal e virou quase diário”, ressaltou Mauri, que complementou: “Nós todos estamos fazendo essa literatura de como lidar com o cinema em uma crise como essa. A pandemia foi um catalisador. Tem que reconhecer essa tecnologia e essa informação e entender como vamos aplicá-la no nosso futuro”.

Da mesma forma, Gilberto Leal, presidente do Sindicato dos Exibidores do Estado do Rio de Janeiro e dono da Cinemaxx, ressalta o quanto esse contato com o público foi o mais importante e está sendo a melhor ferramenta na retomada. E aí entra a questão da tecnologia, que tem sido muito bem empregada nessa conversa com a criação de aplicativos que falam direto com as audiências e que geram mais do que tudo fidelização, já que com eles o público tem acesso a promoções exclusivas e ações atrativas para a volta. “Algo que teve muita força foi a questão do aplicativo e o clube, porque foi uma forma de fidelizar os clientes. Isso se tornou algo muito interessante, tenho visto nos cinemas, porque estamos trabalhando isso e estamos tendo um retorno muito expressivo”, reforçou Gilberto Leal.

E aí chegamos na Cinemark que criou diversas ações neste ano e tem como foco retomar as audiências. Foi lançado o Meu Cinemark, programa de fidelização que garante ingressos a preços promocionais e até exclusivos. Outro destaque da rede neste ano foi a criação do Spoiler Night, como teste no filme de Venom, e que deu aos fãs a oportunidade de curtirem o filme – muitos pela primeira vez no cinema desde o início da pandemia – dentro de uma experiência única de pré-estreia, com tematização da sala, brindes e diversos conteúdos exclusivos. Reforçando o quanto a união que o cinema proporciona é uma experiência única.

“A pergunta que eu tenho mais respondido é sobre o streaming: não, ele não vai matar o cinema. A partir do momento que a gente consome o conteúdo junto, tudo muda, isso de ter o ritual, de propor uma troca é fundamental. Posicionamos na Cinemark sempre o cinema como uma tela que une”, ressaltou Daniel Campos. Fechando a conversa, Patrícia trouxe um posicionamento que pode muito bem resumir este encontro e que serve de um bom norte para o que vem pela frente. “Se unirmos bom conteúdo, boa experiência e boa promoção, a gente atrai todos os tipos de público”, finalizou.

Retomada com apoio público

Seguindo o tema do retorno do setor nesse período, tivemos um importante painel que fechou a versão virtual da Expocine 2021: “Retomada do Setor Audiovisual”, coma participação de Sérgio Sá Leitão (Secretário de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo) e Wallace Harchbart (Diretor de Negócios da Desenvolve São Paulo), com José Maurício Fittipaldi (CQS/FV Advogados/ Animus Consultoria e Gestão), na moderação da conversa. Sérgio Sá Leitão apresentou os projetos e iniciativas realizados em para impulsionar a economia criativa no estado, em especial o audiovisual, que já incentivou 700 projetos em sua gestão.

“O poder público, independente da instância, tem esse papel para incentivar crescimento da indústria audiovisual por meio de políticas de incentivo e estímulo financeiro para que a produção local tenha mais capacidade de competição no mercado tanto do público nacional quanto para chegar a mercados internacionais. As políticas públicas podem ir além do fomento, pode ser também de capacitação e apoio aos demais elos de distribuição e exibição. É importante termos um diálogo com os elos, sabemos que esse é um setor estratégico e que traz geração de renda, emprego, desenvolvimento e inclusão. Temos que aproveitar nossos ativos criativos para uma indústria importante, com políticas efetivas. Investir em cultura além de retorno financeiro, há o retorno de formação da sociedade com educação, identidade e cultura nacional”, afirmou Sérgio Sá Leitão.

Wallace falou da parceria de sucesso da Desenvolve São Paulo com a Secretária de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo desde 2019 com o programa PROAV, que inclusive foi lançado na Expocine de 2019. “Entendemos o quanto o setor foi afetado com perda de público, especialmente os exibidores. Em 2020 vimos qual era a necessidade e nos dedicamos em atender promovendo linhas de crédito quem precisava de apoio naquele momento. Foi importante compreender o momento e as necessidade do setor”, contou Wallace.

“Foi um estímulo para apoiar as empresas no momento de crise da pandemia. O PROAV já tinha estabelecido as linhas de crédito em novembro de 2019 e na pandemia elas se mostraram adequadas como instrumentos anticíclicos, tanto que realizamos nessa parceria 563 operações de crédito para empresas do setor de av 103.8 mi de reais, revelou Sá Leitão. O Secretário ainda afirmou seu otimismo em seguir com políticas de estímulo ao setor para que o estado de São Paulo siga sendo referência no país. “Investimento em AV é exponencial, sempre multiplicador, porque além de gerar crescimento de empregos n indústria em si, há repercussão positiva em outras atividades econômicas, influi em educação, turismo, desenvolvimento, saúde entre outras. O aporte em cultura não é gasto, é investimento pelo enorme potencial de retorno”, finalizou.

CQS/FV Talks: NFTs na indústria de conteúdo

A Expocine 2021 contou também com a mesa discute mercado de NFTs e seu impacto na produção de conteúdo.  As NFTs, um dos assuntos do momento, é um tipo de forma de aquisição de obras de arte ou pedaços dela, por meio de investimento via blockchain, o que gera uma espécie de criptografia daquele produto. Mediada por Ygor Valerio e Fernando Quintino (CQS/FV Advogados), trouxe Guido Malato, criador do Market Place de NFTs musicais Phonogram para falar sobre o assunto.

“É um mercado criado para embarcar artes digitais e coleções, movimenta US$500 milhões, tem um crescimento muito rápido”, explicou Quintino. Para Ygor Valerio uma das grandes evoluções neste mercado é o quanto diminui os custos de transação, já que qualquer aquisição de uma obra exige a contratação de advogados, agentes, além de uma grande movimentação para viabilizar a compra. “Quando aparece um instrumento que viabiliza esse investimento, neste caso o NFT, a gente tem um pouco mais ideia da demanda reprimida por investir bem infungíveis que existe no mercado. Se cristaliza num Token de direitos que quando colocados à venda, é num ambiente que o cliente está acostumado, porque é um Market place comum, um e-commerce”, explicou.

Pensando nessa demanda, Guido Malato decidiu unir sua paixão por música à possibilidade criar um negócio dentro deste meio ao pensar em uma forma de ajudar músicos e equipes musicais na pandemia. Desta forma nasceu o Phonogram, em que há leilões de NFTs, ou seja, de partes de direitos conexos de importantes obras musicais e de todos os tipos. “Música é uma obra de arte e o desejo de ter essa obra pode estimular nosso mercado. Chegamos à conclusão de que tínhamos um negócio viável para implementar e aí nos debruçamos sobre a parte técnica”, comentou Guido.  

E neste sentido, Guido acredita que este mercado consegue impulsionar a carreira destes artistas e garante uma bonificação de forma mais justa. “Normalmente um criador, no mercado tradicional, perde a noção de onde está sua obra quando ela é vendida. Com os NFTs se consegue saber quem são os donos, conseguindo rastrear a obra, conseguindo implementar sistema de royalts fazendo com o que o artista recebe o valor toda vez que a obra é negociada. Afinal, ele criou aquele trabalho, é justo que receba nessas transações”, ressaltou.

Ygor encerrou a mesa convidando o mercado de cinema a pensar em como trabalhar com isso. “Tem filmes legais chegando aí, vamos pensar em formas legais de trabalhar com esse mercado”. E Quintino complementou falando sobre a trilha sonora dos filmes, que podem ser comercializadas dentro deste formato. Ou seja, há possibilidades para todos os segmentos que trabalham com arte e, mais do que isso, há demanda para estes investimentos.

Compartilhe:

  • 2 medalha