11 Novembro 2021 | Renata Vomero
Drama político, "Curral" se aprofunda nas manobras da dinâmica eleitoral do Brasil
Dirigido por Marcelo Brennand, longa estreia hoje (11) nos cinemas
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É possível que você já tenha ouvido falar sobre o longa brasileiro, Curral (Pandora), premiado em diversos festivais neste ano e que chega hoje (11) nos cinemas. Dirigido por Marcelo Brennand, o longa exalta os processos enraizados da dinâmica eleitoral do Brasil, que envolve compra de votos e manobras políticas com a população, principalmente de áreas mais carentes.
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Desta forma, o filme, inspirado no documentário Porta a Porta, de Brennand, lançado em 2008, conta a história, que se passa no município de Gravatá, interior de Pernambuco, em que Chico (Thomás Aquino) se envolve na campanha política do amigo Joel (Rodrigo García), candidato a vereador, então, acaba encarando todas as manipulações políticas para a compra de votos, neste caso, usando a água como moeda de troca.
“Sou muito ligado ao cinema documental, o cinema tem que ter uma textura. Desde o início, comecei a escrever a ficção partindo de que queria fazer um filme realista”, explicou o cineasta em coletiva realizada nesta terça-feira (9) em formato online, e que contou, além do diretor, com os atores Rodrigo García e José Dumont.
Sendo assim, Brennand fez questão de levar toda a equipe para a cidade pernambucana, a mesma onde gravou o documentário, para que os atores conhecessem e se envolvessem com os personagens reais daquela história.
Desta maneira, toda a equipe de figuração do longa é formada pelos moradores da cidade, adicionando mais uma camada de realismo para a história que Marcelo queria contar por meio da ficção.
“Fiz questão que todo elenco fosse para lá, que conhecesse os próprios personagens que iam interpretar, que tivessem contato com a cidade e as pessoas. A figuração é dos moradores de lá e eles levaram essa realidade para o filme, então, teve uma troca entre elenco e figuração muito positiva. O elenco agregou muito para o roteiro, era mexido dia a dia, as vezes na cena eu era surpreendido. Eram atores muito mais experientes do que eu. Costumo dizer que eu aprendi mais do que dirigi”, complementou Marcelo.
O longa, portanto, traz um retrato muito fiel dos processos enraizados da política brasileira, que tem como prática há anos, manipular a população, principalmente de regiões mais carentes, em troca de votos.
Tudo isso, para depois deixar aquelas mesmas pessoas de lado, voltando apenas quando chegam novas eleições. É interessante que o filme traga isso, ao mesmo tempo, que tem em Joel um personagem muito comum no cenário atual, que é o candidato que promete uma nova política, quando na verdade, só dá continuidade ao já estabelecido.
“Fico pensando um pouco nessa questão do novo, não sou descrente com a política, mas sou desesperançoso com o cenário brasileiro, parece uma areia movediça”, ressaltou Rodrigo García.
Neste ponto, a conversa volta ao título do filme, que antes era Compromisso, mas nem o cineasta, nem a equipe estavam exatamente satisfeitos com ele, até que veio a ideia de Curral para Marcelo, que surpreendeu o elenco com o título.
“Não estávamos satisfeitos e começou a cada um dar uma sugestão. Então, pensei que estava falando da política brasileira e de um sistema recorrente. Tudo começou com o curral eleitoral, da época da república velha, que acabou virando reduto eleitoral, então, achei que fazia sentido”, destacou o diretor, que foi complementado por Rodrigo: “Curral é exato, mistura bicho com gente, mostra como estamos em um sistema automático, em uma repetição, parecemos bicho mesmo”.
Curral teve sua première mundial na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e já conquistou os prêmios de Melhor Ator (Thomás Aquino) e o prêmio de Melhor Contribuição Técnico-Artística no 46 Festival de Huelva (Espanha), Melhor Longa-metragem de Ficção no Festival de Cinema do Brooklyn (Nova Iorque) e Melhor Ator no 25º Inffinito Brazilian Film Festival. O longa também participou do Festival du Cinéma Brésilien de Paris e teve uma exibição em Paris no Hotel de Ville de Paris, prédio que abriga as instituições do governo municipal. O convite foi feito pela vereadora parisiense Geneviève Garrigos.
“Nossa grande riqueza é nossa criatividade é fazer nosso cinema com grande densidade e muita criatividade, muita gente sequer entende isso. A gente aprendeu a gostar tanto do que vem de fora que até estranhamos o que é nosso. Só a arte pode reescrever a vida, o cinema então, sem se fale”, ressaltou José Dumont.
Curral estreia hoje em 11 cinemas do Brasil, nas principais capitais do país. A direção de fotografia é de Beto Martins. A direção de arte é de Juliano Dornelles e o figurino fica com Rita Azevedo. Curral é produzido pela Zéfiro Filmes, em coprodução com a Querosene Filmes. O longa é uma produção de Bárbara Maranhão e Marcelo Brennand. O filme tem roteiro de Marcelo Brennand, Fernando Honesko e Marcelo Muller.
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