28 Outubro 2021 | Renata Vomero
Diretor do curta "Napo" fala sobre mercado e processos de animação
No Dia Internacional da Animação, filme estará disponível no YouTube
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Hoje (28) é o Dia Internacional da Animação e para celebrar a data, a produtora Miralumo Films disponibilizará em seu canal do YouTube o curta Napo, que viajou por 60 festivais do mundo e saiu vencedor em cerca de 20 deles.
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A animação em 3D, dirigida por Gustavo Ribeiro, conta a história de um avô, Napo, e seu neto João que compartilham uma vivência em que o senhor de idade lida com o agravamento do Alzheimer, enquanto o menino tenta dar vida às memórias do avô por meio de seus desenhos.
“A gente queria discutir as diferentes maneiras de construirmos lembranças. Porque temos lembranças muito ligadas a algo físico, como uma foto, mas a memória é acessada por diferentes vias, às vezes o cheiro de uma comida vai te lembrar de quando sua mãe cozinhou aquilo para você e vai te fazer lembra da sensação, do momento, tudo. Não necessariamente lembrar, significa de lembrar de algo no tempo, as vezes é só uma sensação. No filme a gente tentou buscar isso, porque usamos o desenho do garoto como porta para a memória do avô”, explicou o cineasta.
O caminho que levou Gustavo e a equipe da produtora a desenvolverem o filme é bastante curioso, no entanto. A ideia surgiu no final da universidade e depois de ganhar edital para a produção, a equipe, que tinha poucos membros que sabiam lidar com animação, achou melhor criar uma escola para dar cursos de aperfeiçoamento do gênero e a partir daí contratar profissionais do meio para o curta.
E foi desse jeito que surgiu a escola Revolution, de Curitiba. O que Gustavo e seus colegas não esperavam é que o projeto ia dar tão certo, que acabaria ocupando a maior parte da atenção deles por mais de três, com o espaço sendo o carro-chefe dos profissionais.
“Abrimos a escola em janeiro de 2016 e estávamos esperando que ia ter pouca busca, mas já no primeiro mês conseguimos no pagar e em seis meses saímos de uma casa de 60 m² para uma de 600 m². Começamos a receber gente do Brasil todo e a escola começou a crescer muito, de uma forma que a gente não esperava, já que o objetivo era abri-la para depois contratar gente para trabalhar conosco”, reforçou o cineasta.
O bom deste tempo dedicado à escola é que serviu como um espaço para que Napo amadurecesse e em todos os sentidos. Já que a equipe aprenderia muito mais sobre animação 3D no período, além de desenvolver melhor sua base artística.
“Foi um processo muito cansativo, mas de muito aprendizado também, porque foi nesse processo que descobrimos como fazer animação 3D, ainda estamos aprendendo. Sempre vai ter que ter uma direção de arte, mesmo que a tecnologia supere essas dificuldades todas. Na animação você controla tudo, tudo o que está ali, cada elemento é uma decisão. Por mais que o processo se automatize, a base artística é a mesma, é só mais uma ferramenta funcionando a nosso favor. Todo mundo pode ter um lápis, nem todo mundo sabe desenhar. Diferente do live-action, não tem nenhum fator externo que vai nos ajudar, não existe espontaneidade nenhuma na animação”, afirmou Ribeiro.
Finalista no LA Shorts 2020, um dos principais festivais de curtas do mundo, “Napo” circulou por mais de 60 festivais, entre eles os Festivais de Xangai, Atlanta, Santa Monica, San Jose, Moscou, Chicago e Lago, entre outros. Com isso, a equipe entendeu o quanto o tema do curta é universal e se conecta com crianças e adultos independente da cultura, ainda assim, o filme traz em si elementos bastante brasileiros, como a música e a ambientação da história.
Tendo em vista tudo isso, é impossível não conversar com Gustavo sobre sua visão do mercado brasileiro de animação, que vem encontrando muito reconhecimento no exterior, algo que impulsiona a produção local.
“Se não fosse o edital de incentivo a gente não estaria aqui. Criamos a escola e fizemos o curta, impactamos a vida de muitas pessoas com isso. O edital nos deu a possibilidade de viver de arte. Vejo que o Brasil tem uma animação muito forte e que ela vai acontecer independente da ajuda do governo. As coisas vão acontecer, seja onde for no Brasil, não tem como segurar. Não vai ser essa questão que vai paralisar, vai atrapalhar, mas não vai parar. Há muita demanda por conteúdo agora e acaba entrando bastante investimento privado por conta disso”, finalizou.
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