22 Outubro 2021 | Renata Vomero
80 anos de Mulher-Maravilha: Revolucionária desde sua criação, super-heroína teve papel transformador em Hollywood
Criada em 1941, Mulher-Maravilha só ganhou filme solo em 2017
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Mulher-Maravilha completou 80 anos ontem (21), data que marca sua primeira aparição nos quadrinhos em 1941. Criada por William Moulton Marston, a super-heroína teve inspiração no movimento feminista da época e mais de 70 anos depois transformou a indústria de Hollywood no quesito protagonismo feminino e representatividade.
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Quando concebida, a super-heroína foi pensada para trazer os ideais de justiça e igualdade ao mundo dos homens. Para quem não se lembra, a amazona cresce na ilha de Themyscira (ou Ilha Paraíso), um local onde vivem apenas essas mulheres guerreiras, as amazonas, e que foi criado pelos deuses do Olimpo, portanto, apesar de ficar na Terra, é encantado de forma que apenas os deuses e as habitantes saibam a localização. Claro que essa criação dá um contraponto justamente de como é um lugar liderado, administrado e habitado apenas por mulheres com relação ao mundo comum, em que os homens têm a liderança.
Mas a Mulher-Maravilha, ou Diana Prince, se encanta por este local justamente por entender que tem como missão trazer a ele paz, justiça e igualdade. A personagem nasceu nos quadrinhos da DC Comics em meio à Segunda Guerra Mundial, cenário da criação também de Super-Homem e Batman, que juntos da super-heroína formariam a tríade da DC Comics, ou seja: os personagens mais importantes dos quadrinhos e que dariam vida à Era da Ouro da nona arte.
Embora tenha passado por altos e baixos dentro deste propósito feminista e tendo ganhado sua primeira representação em live-action na série de seu nome nos anos 1970 vivida pela icônica Lynda Carter. Mulher-Maravilha só foi ganhar um filme solo, pela Warner, em 2017, ano em que o Batman já se aproximava de ter dez filmes em seu nome, o mesmo para o Superman. Aliás, 2017, foi o ano em que o Homem-Aranha iniciava sua terceira trilogia nos cinemas.
No entanto, embora de maneira totalmente tardia, o filme de Mulher-Maravilha chegou em um momento bastante importante para a indústria e se transformou em um marco em Hollywood. Começando pelo fato de que 2017 foi o ano em que o Movimento Metoo e Time’s Up explodiram, estes foram movimentos marcados por denúncias de abusos e assédios por parte de grandes atores, produtores e diretores e que pedia por maior representatividade feminina em tela e fora dela.
Claro que Mulher-Maravilha começou a ser produzido antes disso, mas o timing era perfeito. Sua primeira aparição neste novo universo da DC nos cinemas aconteceu em Batman vs. Superman (Warner), dirigido por Zack Snyder, de 2016. Mas ela ganharia vida e protagonismo pelas mãos da diretora Patty Jenkins e da atriz Gal Gadot, até então não tanto conhecida pelo público.
Não surpreende que as escolhas por trás do filme da amazona tenham trazido críticas por parte dos fãs mais conservadores, que queriam uma atriz com um corpo mais torneado para dar vida à personagem e também queriam o queridinho Snyder no comando, já que ele seria responsável pelo filme de Liga da Justiça, o que também não aconteceu por razões pessoais. De qualquer forma, o longa da amazona foi lançado em junho de 2017 e foi sucesso de bilheteria, com US$822 milhões globais.
E aí a gente entra em uma discussão que é extremamente relevante. Além de representar o debate em voga no período de seu lançamento, Mulher-Maravilha personificou parte das demandas da indústria no momento e também de seu público, afinal, vivemos uma onda de grande amplificação das vozes que fazem parte dos movimentos pelos direitos civis. O filme se tornou uma das maiores bilheterias do gênero naquele ano, inclusive é o longa mais lucrativo de super-heróis de 2017, já que tanto diretora, quanto protagonista receberam abaixo da média para o gênero.
Mulher-Maravilha é o terceiro filme de maior bilheteria da história dirigido por uma mulher e isso não é pouco. Antes dele vem justamente o longa que só foi realizado por causa deste sucesso. Capitã Marvel (Disney), lançado em 2019, e que tem mais de US$1 bilhão de bilheteria. Na realidade, inclusive, a direção do longa da persoangem da Marvel é dividida entre a cineasta Anna Boden e o diretor Ryan Fleck. O filme já tem sequência confirmada pela direção de Nia Dacosta. Aliás, se estamos falando de Marvel, o MCU, que teve início em 2008 com Homem de Ferro e se tornou um fenômeno de cinema, só foi trazer uma das principais personagens para o protagonismo, agora em 2021, com Viúva Negra.
Mas voltando para Mulher-Maravilha. Ela impactou não só o universo dos quadrinhos nos cinemas, mas toda a indústria, já que o filme provou que esse tipo de representatividade dá muito lucro, desde seu lançamento cresceu o número de filmes protagonizados e dirigidos por mulheres, sendo 2020 um ano de recorde, com 16% dos filmes de maior bilheteria sendo dirigidos por elas.
E se estamos falando de 2020, é claro que precisamos falar da sequência do filme da amazona, o Mulher-Maravilha 1984. Duramente impactado pela pandemia, o longa, que estreou em dezembro, somou US$166, 5 milhões globais . Embora o resultado esteja abaixo do esperado, o filme também traz em si alguns marcos.
O principal deles é que, com a sequência, Patty Jenkins se tornou a diretora mais bem paga da história. Estima-se que seu salário foi multiplicado por nove com relação ao primeiro filme, em que ela recebeu cerca de US$1 milhão.
O mesmo aconteceu com Gal Gadot. A atriz recebeu cerca de US$300 mil pelo primeiro filme e conseguiu negociar para receber US$30 milhões no segundo. Agora dá para entender porque o primeiro longa foi tão lucrativo para o estúdio, não é?
Independente de tudo, a personagem foi responsável por abrir as portas para que os principais estúdios do mundo vissem que o protagonismo feminino, principalmente quando bem trabalhado, não só gera lucros e atrai as audiências, como é responsável por transformar as visões de mundo, algo que é muito precioso no cinema.
Se a Mulher-Maravilha ali de 1941 foi responsável por quebrar paradigmas em uma indústria que apenas dava espaço ao olhar masculino (ou male gaze). Infelizmente, 80 anos depois, a personagem segue quebrando paradigmas semelhantes e mostrando que sua briga por igualdade vai muito além da ficção.
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